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Nelsinho acelerou antes do acidente
Telemetria mostra que brasileiro fez o oposto de Alonso na curva da batida
Conversa via rádio revela que chefe e diretor da Renault mandam piloto pisar quando ele inicia
a 14ª volta, a do choque
DA ENVIADA A MONZA
Em lados distintos nas últimas polêmicas da F-1, pelo menos em um ponto Max Mosley e
a Fota concordaram ontem.
Tanto o presidente da FIA
quanto a associação das equipes repudiaram o vazamento
de informações confidenciais
sobre a investigação que apura
se houve armação da Renault
no GP de Cingapura de 2008.
"Todos os envolvidos deveriam ter direito a um julgamento de maneira privada", disse o
comunicado da Fota. Mosley
afirmou estar curioso para saber como houve o vazamento.
Além do depoimento em que
Nelsinho relata à FIA detalhes
da maneira como o acidente teria sido combinado com Flavio
Briatore e Pat Symonds, diretor
técnico da Renault, a Folha teve acesso a um dossiê que esmiuça trechos da investigação
que culminou com a convocação da reunião do Conselho
Mundial, no dia 21, em Paris.
A investigação
Ao ser alertada por Nelson
Piquet, no dia da demissão de
seu filho, de que a Renault teria
pedido a Nelsinho para bater
seu carro deliberadamente em
Cingapura, a FIA chamou a empresa Quest e o escritório de
advocacia Sidley Austin LLP
para conduzir uma investigação sobre as denúncias.
Depois de colher o depoimento do piloto, no dia 30 de
julho, os investigadores receberam dados da equipe e documentos adicionais de Briatore.
Também receberam vídeos e
a telemetria da Renault. Nos
dados do carro de Alonso, havia
evidências de que ele havia derrapado algumas vezes na curva
17 -a que Nelsinho bateu.
Alonso passou a reduzir a aceleração no local para não rodar.
Foi exatamente o oposto do
que fez o brasileiro na volta 14,
no momento do acidente.
Conversas de rádio
O dossiê da investigação confirma a informação dada por
Nelsinho de que ele perguntava
a volta em que estava no início
da prova -segundo ele, para
não bater no momento errado.
Quando um engenheiro pergunta a Symonds se Nelsinho
quer saber em que volta ele deve fazer seu pit stop, ele afirma:
"Não, apenas diga a ele em que
volta ele está. Ele está para
completar a oitava volta".
Quando abre a 14ª volta,
Symonds pede ao engenheiro
que mande Nelsinho pisar. O
mesmo faz Briatore. Pouco depois, ele bate. "Desgraça, foi
uma batida forte. Desgraça, que
desgraça. Merda... Ele não é um
piloto", grita o chefe do time.
Telemetria
No dossiê a que a Folha teve
acesso, só a telemetria da volta
em que ocorre o acidente está
representada. Segundo membros de times consultados pela
reportagem, não é possível tirar conclusões só por esse gráfico. Para isso, seria necessário
ter os dados da volta anterior.
O que o gráfico mostra é que
a aceleração de Nelsinho é
abrupta na curva 17 -o que o
fez derrapar, rodar e bater. Depois, no momento do choque,
talvez de maneira instintiva,
Nelsinho reduz a aceleração. E
na sequência volta a acelerar,
comportamento incomum.
O interrogatório
Como Briatore não havia
chegado a Spa-Francorchamps
no dia 27 de agosto para o GP da
Bélgica, os investigadores interrogaram só Symonds, que,
segundo Nelsinho, seria quem
lhe apontou o local e o momento que deveria bater. Questionado se lembrava o que havia
conversado com o piloto, o diretor declarou que não.
Na sequência, os investigadores lhe disseram que Nelsinho o havia acusado de pedir
que causasse o acidente e perguntaram se era verdade. "Ele
falou comigo no dia anterior à
corrida e sugeriu isso. É tudo o
que gostaria de dizer."
Depois, Symonds foi questionado de três maneiras distintas
se havia apontado ao piloto o
exato lugar em que ele deveria
bater. "Não quero responder",
falou três vezes. "Não tenho a
intenção de mentir para vocês.
Não menti para vocês, mas eu
tenho o direito de preservar um
pouco minha posição."
E ouviu dos investigadores:
"Tem consciência de que esta
não cooperação pode gerar interpretações?". "Eu espero que
isso aconteça."
(TATIANA CUNHA)
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