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MOTOR
Pacote suspeito
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
O GP do Japão pouco interessa. A temporada vai acabar
como começou, Ferrari à frente.
O que interessa é o pacote maluco lançado por Max Mosley e Bernie Ecclestone, tão maluco que os
jornalistas (ingleses, claro) que
receberam o catatau esperaram
as equipes chegarem a Suzuka
para confirmar o seu conteúdo.
Não acreditaram no que leram.
Os barões, então, pediram os
microfones para falar de viva voz
o que já estava no papel. Nem a
Cart em seu pior momento imaginou tanta bobagem. Mosley, depois dessa, deveria ser interditado. E Ecclestone sempre foi doido,
prescinde de diagnóstico.
O pacote é histérico. Normalmente, mudanças drásticas de regulamento são precedidas de propostas duras, ameaçadoras -a
FIA trabalha assim desde tempos
remotos, é o jeito para lidar com
chefes de equipe acomodados. O
mecanismo volta agora.
Só que assusta a hipérbole encontrada para evidenciar a necessidade de mudanças. Uma coisa é
tentar limitar o poderio das grandes escuderias, ou da Ferrari, que
é o objetivo explícito do documento -começa assim: "Frequentemente, um time atinge dominância...". Outra é mudar o esporte. A FIA nunca foi tão longe.
A crise é séria, mas será tanto?
Claro que não. Manipular crises, como se nota, está na moda.
Raramente a F-1 convive com
mais de um time na ponta. Nos
últimos 15 anos, aliás, só testemunhou verdadeiras decisões por
causa de pilotos excepcionais,
Senna, Prost e Schumacher -talento, isso, sim, é que faz falta-, e
não por causa de times nivelados.
Mas por que carregar tanto na
tinta desta vez? Porque o dominante da vez é a antes intocável
Ferrari. Desde o fim da era turbo,
quase todas as mudanças de regulamento beneficiaram a Ferrari. Desde a assinatura do último
Pacto de Concórdia, o time que
recebe a maior fatia é a Ferrari
-aproximadamente 15 vezes
mais que a modesta Minardi.
Tudo isso foi feito para manter
de pé o time mais tradicional da
F-1, o que mais gastou, o que mais
atraiu público, o que mais puxou
audiência durante duas décadas
de jejum. Em resumo, os poderosos da F-1 alimentaram a criatura e agora querem domá-la.
Não vai ser fácil, por isso apareceram com essas idéias esdrúxulas, rodízio de pilotos, lastro, quatro baterias de classificação etc,
coisa de kart, no máximo de turismo, como bem descreveu Coulthard. Se alguma barbaridade
dessas passar, aí, sim, será o fim.
Obviamente, a expectativa é
que não passem. Só que os grandes, Ferrari à frente, terão que engolir mudanças que até então não
interessavam muito. As principais são a sessão classificatória na
sexta, o fim do tratamento vip dado às grandes pelas fornecedoras
de pneus, menos dias de testes,
um motor por GP já em 2003 e o
que, creio, afeta mais a atual
campeã: limitações na arquitetura e materiais utilizados no câmbio e severas restrições aerodinâmicas -dois pontos que diferenciam o F2002 da concorrência.
O resto é cascata, incluindo a
padronização dos gerenciamentos eletrônicos, algo quase impossível de ser feito. Não tecnicamente, mas porque verdadeiramente
equilibraria a disputa, coisa que a
F-1 não quer e não precisa.
O que ela precisa e sempre precisou são dois ou três pilotos disputando o título e mais dois ou
três abiscoitando vitórias. Essa é a
fórmula. Não há como mudar.
Receita 1
De Irvine: "Basta distribuir o dinheiro igualmente para todos as escuderias. Por que a Ferrari precisa ganhar dez, 15 vezes mais que a
Minardi?". Sim, dividir o bolo ajudaria bastante, mas não resolve o
problema, pois não falta apenas dinheiro aos times pequenos, mas
também seriedade. E, claro, uma fabricante de motores.
Receita 2
De Montoya: "Não precisa mudar nada. O problema é a Ferrari
não deixar seus pilotos correrem um contra o outro". De fato, ajudaria bastante, mas, com Schumacher no time, não vai acontecer.
Receita 3
De Otmar Szafnauer, executivo da Honda: "Cortar custos é possível. Só que, se não for permitido fazer determinada coisa, você faz
outra. Você usa outra parte da tecnologia". Está certo. A saída, então, é quebrar a outra perna do alemão?
E-mail mariante@uol.com.br
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