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FÁBIO SEIXAS
O pulso ainda pulsa
Escorregada de Hamilton
reabriu o Mundial e trouxe
beleza a uma disputa que
estava fadada ao descrédito
COMO ERA lindo ver Marion
correr, vencer, vibrar, sorrir.
Na tribuna de imprensa do
estádio Olímpico de Sydney, jornalistas admirávamos suas façanhas.
"Como havia feito depois da vitória nos 100 m, sentou no chão. Repetindo o gesto de sábado, levantou,
caminhou até as arquibancadas,
cumprimentou a família e, com as
bandeiras dos EUA e de Belize -país
da mãe-, deu uma volta na pista de
atletismo. Os alto-falantes tocavam
"Respect", sucesso de Aretha Franklin", escrevi, após a final dos 200 m.
Foi o segundo ouro de Marion em
Sydney. Viriam mais um ouro e dois
bronzes. Sempre acompanhados de
um sorriso escancarado, sua marca
registrada, cativante, um charme.
Mas tudo foi para o ralo há uma
semana. As medalhas. A história. A
vibração. Os cumprimentos. Os gestos. O respeito. O sorriso. Marion.
O motivo, doping. O cerco se fechou de tal maneira sobre a superatleta que ela não teve outra saída a
não ser admitir a trapaça, o engodo.
Um conto de fadas a menos no
mundo, enfim.
Desce o pano, sobe o pano
Como é lindo ver correr o "crème
de la crème" desta nova geração.
Alonso, Hamilton e Raikkonen
meio que se completam. Tire um
deles do jogo, e o campeonato não
teria sido indecifrável como foi.
Três estilos diferentes de pilotagem. Três caminhos para chegar lá.
Três personalidades ainda mais
distintas, emblemáticas nas maneiras de falar e de comemorar. O
"toma, toma!" de Alonso. O sorriso
do tamanho do mundo de Hamilton. A megafrieza nórdica de Raikkonen, só quebrada pelas goladas
também nórdicas de champanhe.
Mas tudo foi para o ralo. O arrojo.
A novidade. A frieza. O Mundial.
Primeiro, com a trapaça que levou a Woking detalhes miúdos dos
carros e das estratégias de sua
maior rival. O quanto de ilícito há
por trás do crescimento da McLaren neste ano? Nunca saberemos.
Depois, caso detonado, com os
dois absurdos veredictos da FIA.
Que acabaram por punir a escuderia, mas não os pilotos, como se os
pontos não fossem os mesmos.
Pior do que a revelação de um doping no esporte, só um doping revelado e não punido. A decepção
não acontece anos depois, mas ao
longo da competição. É o fim.
Mas... É, houve um segundo
"mas". E inimaginável. Hamilton
percorreu 4.716 km em GPs sem
escorregar. Faltavam 142 km para
conquistar o título. Mas ele escorregou. Foi parar na brita, atolou.
E, de repente, foi como se o campeonato se regenerasse. Sim, a
mancha estará lá, é indelével. O
momento, porém, não tem nada a
ver com o desdouro do Mundial.
Por vias tortas, os três melhores
do campeonato correrão em Interlagos com chances de título.
Nesta F-1, neste 2007, o esporte
venceu o doping. É por essas e por
outras que amamos esse negócio.
fseixas@folhasp.com.br
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