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FUTEBOL
Veneno antimonotonia
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Reclamação nš 1.127: "Não
entendo vocês da imprensa.
Quando o Corinthians ganha, o
Parreira é o maior técnico do Brasil. Quando perde, o time é previsível, burocrático, limitado".
O reclamante tem razão e não
tem. Às vezes, "nós da imprensa"
fazemos o comentário de um jogo
como se fosse a síntese definitiva
de tudo o que o time fez no campeonato. Principalmente no rádio
e na TV, nos instantes seguintes à
partida, sob o impacto do que
acabamos de ver. Somos impiedosos: "Esse time não vai chegar a
lugar nenhum. Esse jogador provou mais uma vez que não é digno de confiança nos momentos
decisivos!".
Mas, às vezes, não é nossa intenção emitir um diagnóstico tão
categórico, pétreo, supremo. Falamos de uma impressão, algo efêmero e sujeito a contra-argumentações que poderiam até nos levar
a reconsiderar. Às vezes mudamos de opinião após uma discussão -ou mais alguns jogos.
Só que o torcedor filtra os comentários de acordo com seu interesse. Uma frase dita uma única
vez, sem nenhum peso, ganha o
destaque de uma manchete em
neon, de declaração registrada
em cartório. Mesmo que você diga mil outras coisas, aquelas palavras vão ressoar para sempre.
Aconteceu comigo neste ano. A
cinco rodadas do final da primeira fase do Brasileirão, disse que,
embora o Fluminense tivesse
chances de se classificar, não acreditava nisso. E também não achava que merecia -naquele momento, para mim, outros times
faziam mais jus a uma vaga entre
os oito melhores.
Para quê? Fui bombardeada
por tricolores furiosos, que me
acusaram de desrespeito, desdém,
bairrismo e me perguntavam se
"comentar é torcer". Alguns diziam que todos os times disputam
o mesmo campeonato, seguem o
mesmo regulamento, por isso falar em "merecimento" seria totalmente inadequado -se o time
lutou e chegou lá, mereceu e pronto! Depois disso, diziam "e o São
Caetano merece, com o número
de faltas que comete?" ou coisa
parecida... E, embora eu continuasse falando do Flu como de
qualquer outro time -jogou
bem/jogou mal, levou perigo nos
contra-ataques, perdeu com a
saída do Beto etc.-, a cada resultado positivo do time, a vingança:
"E agora, vai continuar secando o
Flu? Ainda vai menosprezar o tricolor?". Ai, ai.
Voltemos ao Corinthians: de fato, o esquema é previsível. Mas ele
tem sido uma base eficiente para
a imprevisibilidade dos jogadores
mais talentosos. Mesmo por caminhos conhecidos, uma tabela
perfeita entre Kléber e Gil, um
drible fantástico, um toque de
calcanhar, um lançamento inteligente de Vampeta ou uma finalização impecável podem derrubar
a mais sólida defesa.
Antes havia mais um jogador
com o dom de fazer o imprevisto
-Ricardinho, sem dúvida bem
diferente de Renato. E Leandro,
que ajudava mais que Guilherme
quando o time não tinha a bola,
começava a construir o ataque
mais de trás e oferecia outras opções. Sem Ricardinho e Leandro, é
mais fácil parar Rogério e Kléber,
que jogam menos com toques curtos e rápidos.
Assim mesmo, Parreira sem dúvida montou uma equipe consistente, aplicada. Não é perfeito
-a defesa, quem diria, tem buracos... Mas os jogadores têm sua
responsabilidade. Inspirados e
confiantes, podem se esbaldar no
"esquema" -e ainda acabar com
a monotonia.
Comento e torço
Confesso: torço para o Santos
sair da fila com essa turma.
"Anarfa"
Um leitor que assina Matt ficou triste porque escrevi "ciclano" há duas semanas -é "sicrano", ensina o "Aurélio". Desculpem, falei errado
a vida inteira e não me corrigiram. Confesso que não sabia como escrever (s ou c), mas achei que, por ser um falso nome próprio, não fazia
muita diferença... Da próxima vez, vou ao dicionário.
Festa do caqui
Não é só no Maracanã que se
pula a catraca após entregar o
ingresso. No Morumbi também rola o "liberou geral" de
vez em quando. No jogo São
Paulo x Santos da primeira
fase, PMs acostumados a trabalhar no estádio disseram
que só nas arquibancadas havia o equivalente ao público
pagante anunciado.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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