São Paulo, quinta-feira, 12 de dezembro de 2002

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FUTEBOL

Veneno antimonotonia

SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA

Reclamação nš 1.127: "Não entendo vocês da imprensa. Quando o Corinthians ganha, o Parreira é o maior técnico do Brasil. Quando perde, o time é previsível, burocrático, limitado".
O reclamante tem razão e não tem. Às vezes, "nós da imprensa" fazemos o comentário de um jogo como se fosse a síntese definitiva de tudo o que o time fez no campeonato. Principalmente no rádio e na TV, nos instantes seguintes à partida, sob o impacto do que acabamos de ver. Somos impiedosos: "Esse time não vai chegar a lugar nenhum. Esse jogador provou mais uma vez que não é digno de confiança nos momentos decisivos!".
Mas, às vezes, não é nossa intenção emitir um diagnóstico tão categórico, pétreo, supremo. Falamos de uma impressão, algo efêmero e sujeito a contra-argumentações que poderiam até nos levar a reconsiderar. Às vezes mudamos de opinião após uma discussão -ou mais alguns jogos.
Só que o torcedor filtra os comentários de acordo com seu interesse. Uma frase dita uma única vez, sem nenhum peso, ganha o destaque de uma manchete em neon, de declaração registrada em cartório. Mesmo que você diga mil outras coisas, aquelas palavras vão ressoar para sempre.
Aconteceu comigo neste ano. A cinco rodadas do final da primeira fase do Brasileirão, disse que, embora o Fluminense tivesse chances de se classificar, não acreditava nisso. E também não achava que merecia -naquele momento, para mim, outros times faziam mais jus a uma vaga entre os oito melhores.
Para quê? Fui bombardeada por tricolores furiosos, que me acusaram de desrespeito, desdém, bairrismo e me perguntavam se "comentar é torcer". Alguns diziam que todos os times disputam o mesmo campeonato, seguem o mesmo regulamento, por isso falar em "merecimento" seria totalmente inadequado -se o time lutou e chegou lá, mereceu e pronto! Depois disso, diziam "e o São Caetano merece, com o número de faltas que comete?" ou coisa parecida... E, embora eu continuasse falando do Flu como de qualquer outro time -jogou bem/jogou mal, levou perigo nos contra-ataques, perdeu com a saída do Beto etc.-, a cada resultado positivo do time, a vingança: "E agora, vai continuar secando o Flu? Ainda vai menosprezar o tricolor?". Ai, ai.
Voltemos ao Corinthians: de fato, o esquema é previsível. Mas ele tem sido uma base eficiente para a imprevisibilidade dos jogadores mais talentosos. Mesmo por caminhos conhecidos, uma tabela perfeita entre Kléber e Gil, um drible fantástico, um toque de calcanhar, um lançamento inteligente de Vampeta ou uma finalização impecável podem derrubar a mais sólida defesa.
Antes havia mais um jogador com o dom de fazer o imprevisto -Ricardinho, sem dúvida bem diferente de Renato. E Leandro, que ajudava mais que Guilherme quando o time não tinha a bola, começava a construir o ataque mais de trás e oferecia outras opções. Sem Ricardinho e Leandro, é mais fácil parar Rogério e Kléber, que jogam menos com toques curtos e rápidos.
Assim mesmo, Parreira sem dúvida montou uma equipe consistente, aplicada. Não é perfeito -a defesa, quem diria, tem buracos... Mas os jogadores têm sua responsabilidade. Inspirados e confiantes, podem se esbaldar no "esquema" -e ainda acabar com a monotonia.

Comento e torço
Confesso: torço para o Santos sair da fila com essa turma.

"Anarfa"
Um leitor que assina Matt ficou triste porque escrevi "ciclano" há duas semanas -é "sicrano", ensina o "Aurélio". Desculpem, falei errado a vida inteira e não me corrigiram. Confesso que não sabia como escrever (s ou c), mas achei que, por ser um falso nome próprio, não fazia muita diferença... Da próxima vez, vou ao dicionário.

Festa do caqui
Não é só no Maracanã que se pula a catraca após entregar o ingresso. No Morumbi também rola o "liberou geral" de vez em quando. No jogo São Paulo x Santos da primeira fase, PMs acostumados a trabalhar no estádio disseram que só nas arquibancadas havia o equivalente ao público pagante anunciado.

E-mail
soninha.folha@uol.com.br


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