São Paulo, terça-feira, 12 de dezembro de 2006

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Com véu e corpo fechado, muçulmana é a mais veloz nos Jogos Asiáticos

Lee Jin-man/Associated Press
A bareinita Ruqaya Al Ghasara, usando vestes muçulmanas tradicionais, comemora a vitória nos 200 m dos Jogos Asiáticos


ADALBERTO LEISTER FILHO
DA REPORTAGEM LOCAL

Ruqaya Al Ghasara ajeitou sua hijab, véu usado pelas muçulmanas, antes de largar para a final dos 200 m dos Jogos Asiáticos, em Doha (Qatar).
Com aparato incomum, que continha a marca da Nike, sua patrocinadora, a velocista do Bahrein teve a reação mais lenta das finalistas: demorou 0s282 para iniciar a corrida.
Mesmo assim, 23s19 após o tiro de partida, superou a linha de chegada. Ganhou o ouro.
Sua veste, que só deixava à mostra as mãos e parte do rosto, chamou a atenção. As concorrentes usavam shorts e tops justos. Tudo para melhorar a performance, mesmo que por centésimos de segundo.
Alheia aos progressos da indústria de material esportivo, Al Ghasara creditou o triunfo às suas vestes, bastante incomuns nas pistas de atletismo.
"Usar a roupa tradicional muçulmana só me fortalece. Não é um obstáculo ao meu desempenho. Muito pelo contrário", diz a vencedora, 24, que espera incentivar outras árabes a seguir seus passos.
"Mostrei que usar o hijab não é nenhum obstáculo. Com ele conquistei meus melhores tempos e consegui a classificação para o Mundial de Osaka [no Japão, em 2008]", conta.
Quem quiser seguir o exemplo da velocista, porém, encontrará alguns obstáculos.
A Nike, fornecedora do hijab de Al Ghasara e um dos símbolos do capitalismo norte-americano, não fabrica a peça comercialmente. Só as produz para atletas que patrocina.
Nada disso impediu o progresso de Al Ghasara. Ela foi descoberta pelo técnico Tadjine Noureddine em um país no qual mulheres não são encorajadas a correr. O primeiro resultado significativo veio com o ouro nos Jogos Árabes-02.
"Ela tem excelentes qualidades para uma velocista. O único problema é que começou tarde. Por isso precisamos trabalhar pesado", atesta o argelino Noureddine, um ex-competidor dos 110 m com barreiras.
A pupila agradece a compreensão do treinador. "Ele é árabe e muçulmano. Então conhece as tradições islâmicas."
Antes da vitória de ontem, Al Ghasara já havia conquistado o bronze nos 100 m. Na ocasião, ficou atrás de Guzel Khubbieva (Uzbequistão) e Jayasinghe Susanthika (Sri Lanka), mesmas rivais que dividiram o pódio dos 200 m com ela ontem.
Seu tempo na disputa -o 108º do ano- só é significativo no âmbito regional. A Ásia não possui tradição em provas curtas. Mesmo assim serve de estímulo para que ela tente desbravar novos caminhos. "Acho que ainda posso ir mais longe."

Com agências internacionais

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