São Paulo, quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

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TOSTÃO

O poderoso chefão


Técnicos sofrem pressão de todos os lados, para vencer e pactuar com promiscuidade, disfarçada de modernismo


NO FUTEBOL , a estratégia de marcação é mais importante que o desenho tático. Ela pode ser feita da faixa central à área adversária, do meio-campo até a própria área e de uma intermediária a outra. Se necessário, uma boa equipe deveria ser capaz de realizar os três tipos de marcação em uma mesma partida.
Como escreveu Paulo Emílio no seu livro "Futebol, dos Alicerces ao Telhado", para fazer uma boa marcação, a distância entre o atleta mais avançado e o último da defesa não pode ser maior que a metade de todo o campo.
A marcação no campo do outro time é realizada geralmente pelas equipes que estão perdendo, quando o adversário tem um jogador a menos, é inferior ou não sai lá de trás. A marcação no próprio campo costuma ser feita pelas equipes inferiores ou quando o time está vencendo e passa a priorizar os rápidos contra-ataques.
A mais correta marcação é a de uma intermediária a outra. O time se torna mais compacto, não fica longe do outro gol e diminui os espaços para o adversário tocar a bola no meio-campo. Ela deve ser associada à marcação por pressão. O jogador não pode assistir ao outro dominar a bola a poucos metros de distância.
O time que pressiona e toma mais a bola se torna mais vibrante.
Futebol é uma união de emoção e de técnica. Times muito científicos e planejados se tornam frios, chatos e ineficientes.
Fazer uma boa marcação parece óbvio, simples e de conhecimento de quase todos os treinadores, mas não é o que se vê com freqüência na prática.
No Brasil, os zagueiros atuam normalmente muito atrás, e os atacantes, muito na frente, deixando um grande espaço no meio-de-campo para o outro time organizar as jogadas.
Os técnicos europeus são melhores do que os brasileiros para organizar uma equipe em campo, e os brasileiros são superiores para criar variações, observar, substituir e improvisar.
Assim como há brilhantes treinadores que sabem unir conhecimentos técnicos com a observação e a intuição, existem os que não se preparam cientificamente, como alguns ex-atletas, e outros, pseudocientíficos, que decoram fórmulas de estratégia, aprendem alguns chavões e saem por aí ditando normas e dando palestras.
Não é fácil ser um bom e correto treinador. Além de ter conhecimentos técnicos e táticos, ser um bom observador e saber comandar um grupo heterogêneo de atletas, os treinadores sofrem pressão de torcedores, da imprensa, dos clubes e de empresários, que tentam aliciá-los e empurrar seus atletas. Isso começa nas categorias de base.
Há um tipo de pressão, pouco falada, explícita ou não, que é a de dirigentes para o técnico escalar jogadores que podem dar lucro aos clubes. Os treinadores são hoje mais avaliados pelos lucros que dão do que pelos títulos.
Alguns técnicos entram nesse jogo dos dirigentes e ainda acham que isso faz parte do negócio futebol e do modernismo. Já existe até técnico-empresário. Luxemburgo quer ser treinador, gerente, participar de negociações de atletas, ter a chave do cofre e ser dono de tudo, o poderoso chefão.


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