São Paulo, domingo, 12 de dezembro de 2010

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TOSTÃO

Descoberta do óbvio


O Brasil tem uns 20 bons volantes, jogando aqui e no exterior, mas nenhum excepcional


NO ENCONTRO anual dos treinadores, com a presença de vários jornalistas, todos concordaram com todos. Acompanhei pelo Sportv. A grande estrela do evento foi o Barcelona. Todos os técnicos estão deslumbrados com o time, e todas suas equipes não jogam como o Barcelona.
Parece até que o Barcelona é um ET que surgiu do nada. Descobriram o óbvio.
Há tempos que o Barcelona joga bonito, com eficiência, goleia, ganha e também perde, às vezes para equipes pequenas e/ou inferiores.
Há várias maneiras de ser um time vencedor. Prefiro o estilo do Barcelona.
O time marca mais à frente, defende não dando a bola ao adversário, diminui os espaços entre a defesa, o meio-campo e o ataque, não cruza nem lança a bola sem ter um destino certo, dá muito valor ao passe correto, prioriza a posse de bola e espera o momento certo para tentar o gol.
Mas o time ganha principalmente porque tem Messi, Xavi, Iniesta, Daniel Alves e excelentes jogadores em todas as posições.
A Espanha adota o mesmo estilo do Barcelona. Se ela tivesse Messi e Daniel Alves e jogasse apenas com um volante fixo -na Copa, atuaram Busquets e Xabi Alonso-, teria feito mais gols e vencido o Mundial com facilidade.
No encontro dos técnicos, ouvi, mais de uma vez, o chavão de que "o Brasil é uma fonte inesgotável de grandes talentos". O mundo e o futebol mudam, e as pessoas continuam dizendo as mesmas coisas. Não se deve confundir bons jogadores com craques. Repito, o Brasil não teve um único armador ou atacante na lista dos 23 melhores do mundo. E não houve injustiça.
Por que isso ocorre? O assunto é complexo.
Penso que as categorias de base se tornaram fábricas de produção em série para exportação. É mais fácil enquadrar os mais bem dotados que incentivá-los a ser diferentes. Ou a maneira de jogar das equipes brasileiras, cada vez mais parecidas com as da Itália, com muita marcação, lançamentos longos e cruzamentos para a área, dificulta a evolução dos jovens de grande talento?
Ou será que a ciência do esporte está mais preocupada em formar superatletas, no máximo do esplendor físico, próximos da exaustão, "vacas premiadas", como dizia Nelson Rodrigues, do que grandes talentos?
Há muitas outras questões. Os jogadores brasileiros treinam muito, correm muito, são muito bem preparados fisicamente e muito disciplinados taticamente. Tudo isso é insuficiente. "Não basta treinar. É preciso ensinar" (Johan Cruyff).


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