São Paulo, domingo, 12 de dezembro de 2010

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Ambiente misto da fundação ajudou a superar preconceito

DO ENVIADO A CAMPINAS

O berço pontepretano foi decisivo para que jogadores negros tivessem oportunidade de defender as cores do time de Campinas logo nos primeiros anos de sua existência, quando essa interação racial era proibida em outras associações esportivas.
O clube nasceu no bairro que lhe dá nome e que, na época, era morada de população operária, formada basicamente por chacareiros, artesãos e ferroviários.
Era natural, então, que a maior parte dos entusiastas que participaram das primeiras atividades da agremiação estivesse nessa camada de trabalhadores braçais.
"A linha do trem, propositadamente, separava os bairros operários [como o Ponte Preta] do centro e da elite", explica o historiador José Moraes dos Santos Neto. "A maioria dos moradores negros da vila eram funcionários da ferrovia", diz ele.
Foi por ali que o futebol chegou à cidade, por meio de um imigrante escocês chamado Thomaz Scott, engenheiro da Companhia Paulista de Estradas de Ferro.
A proximidade com os imigrantes permitiu aos negros da região que o preconceito fosse deixado de lado no momento de participarem das partidas disputadas nos campos improvisados.
"Em Campinas não havia uma sociedade tão elitista e fechada como nos clubes sociais de São Paulo e do Rio", conta o diretor e curador do Museu Afro Brasil, Emanoel Araújo. "A cidade tinha uma comunidade negra muito grande", completa.
Isso, porém, não evitou que a equipe fosse hostilizada por conta da grande presença de negros e mulatos no time e entre os torcedores.
Nos estádios em que a Ponte Preta se apresentava como visitante pelo interior do Estado, era comum ser recebida com os gritos de "macacos" e "macacada".
A torcida, entretanto, preferiu transformar as ofensas em apelido e adotou a macaca como mascote do clube.
"Entre os torcedores da Ponte existe de tudo: mulheres, crianças, negros, mulatos", enumera Santos Neto.
"Houve uma mistura entre a elite e o povão, uma quebra da hierarquia social. Na hora do gol, o médico abraça o cara que construiu o consultório dele", diz o historiador. "Essa é uma característica do futebol que é ainda mais marcante na Ponte."
(LL)


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