São Paulo, domingo, 12 de dezembro de 2010

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À moda da casa

Cesar Cielo, dois anos e meio após o ouro olímpico, vira empresário, abre restaurante e acumula patrocínios, realidade rara até na elite do esporte

MARIANA LAJOLO
DE SÃO PAULO

Cesar Cielo acabara de entrar na faculdade quando começou a pensar na aposentadoria. Uma apreensão rara para um jovem de 20 anos.
A perspectiva de deixar a natação após os 30 anos e ter de procurar por um novo emprego já o atormentavam quando ele estava longe de viver seu ápice como atleta.
"Depois de se dedicar tanto tempo ao esporte, você pode ter diploma de Harvard que não vai adiantar nada. Falta experiência", diz ele.
Por isso, desde 2007, Cielo já traçava projetos para abrir seu próprio negócio. Com o ouro em Pequim-08 e os títulos do Mundial-09, concretizá-los foi questão de tempo.
E, após período em que recorreu ao "paitrocínio" para brilhar na natação, ele agora administra como poucos o uso de sua imagem e o dinheiro que tira do esporte.
Cielo, 23, é dono de restaurante, agencia nadadores e coleciona patrocínios e prestígio. Realidade rara no Brasil até para atletas de elite, que ainda sentem dificuldade para achar apoiadores.
Também tem aparecido em comerciais de TV e materiais promocionais de um variado leque de empresas.
Tem contrato com Avanço (cosméticos), Embratel (telecomunicações), Arena (vestuário esportivo) e Cielo (cartões). É ainda garoto-propaganda de escola de idiomas e já fez comercial para a Sabesp, entre outras ações.
"Desde cedo, eu pensava em como investir o que conseguisse na natação. Observava o Gustavo [Borges] e o Fernando [Scherer] e tentava pegar parâmetros", afirma.
"A cultura do atleta brasileiro ainda é um pouco deficiente. Tem gente que começa a ganhar dinheiro e já quer ter carro importado. E o cara nem comprou apartamento ainda... Falta orientação."
A atual fase é bem diferente da enfrentada até a chegada ao pódio na China. Filho de família de classe média do interior de São Paulo, mantinha-se no esporte principalmente graças aos pais.
Em 2006, por morar nos EUA, teve patrocínio cortado pela confederação brasileira. Após os Jogos, desabafou e criticou a falta de apoio.
"Aquilo foi sincero. Mesmo depois de Pequim, demorou para acreditarem nele. A procura só cresceu mesmo após o Mundial [Cielo foi ouros nos 50 m e nos 100 m livre]", diz Flávia, mãe e empresária do nadador.
Com o sucesso, ele enfim concretizou a ideia nascida em 2007. Em 2009, com o amigo Roberto Martinez, abriu a galeteria Original da Granja, em São Paulo. E deu seu toque ao menu: purê de batata com alho, um de seus pratos favoritos nos EUA.
Nas paredes, há fotos, touca e calça de natação usadas pelo nadador. Fãs podem encontrar o ídolo por lá, principalmente na hora do jantar.
Além do restaurante, Cielo investe em imóveis e, com a mãe, gerencia sua carreira e as de outros nadadores.
O negócio começou por acaso. Quando sobravam propostas, Flávia as repassava a atletas mais próximos.
Entre os nadadores que agora trabalham com ele estão Nicholas Santos, Henrique Barbosa e o paraolímpico Daniel Dias. A empresa recebe entre 10% e 20% do valor dos acordos fechados.
Cielo e Flávia também negociam as palestras do ex-nadador Gustavo Borges.
"Tento fazer pelos caras o que não fizeram por mim. Tem muita gente no Brasil que tem resultado mas não é valorizado nessa área, como o Felipe França [prata no Mundial-2009]", diz Cielo.
O nadador também mantém um instituto. Com verba obtida via lei de incentivo, começa a levar aulas de natação a crianças carentes e planeja a construção de piscinas em Santa Bárbara d'Oeste, cidade em que nasceu.


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