São Paulo, domingo, 12 de dezembro de 2010

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JUCA KFOURI

Doping $ Hipocrisia


A exemplo do que acontece com as drogas, é hora de discutir com seriedade a liberação


É CONHECIDA no mundo do futebol a história de um médico -que viria a se transformar numa das mais candentes vozes antidoping do COI- que preferiu não viajar com o time do clube que o empregava às vésperas de decidir título muito relevante. Ele sabia que o grupo seria dopado e preferiu não ser cúmplice, embora, ao silenciar, tenha feito exatamente isso, sido cúmplice. E, como a equipe foi campeã, o silêncio perdura até hoje.
Esta é a hipocrisia e o cinismo que cercam as descobertas e as denúncias sobre dopagem, agora escandalizando a Espanha.
Há quem afirme peremptoriamente que nenhum, nenhum atleta de alto rendimento e medalha de campeão escapa de já ter usado meios ilícitos para competir.
Nenhum!
Impossível provar, mas os casos se sucedem a tal ponto e por tantos pontos pelo mundo afora que se a dopagem não é de 100% é de quase isso.
No ciclismo, no atletismo, na natação, no tênis, no basquete, no vôlei, no futebol.
Há apenas sete anos os jogadores da NBA são obrigados a fazer testes antidoping quando não estão jogando, porque na liga norte-americana de basquete prevalecia a ideia de que o show não pode parar e ponto final.
E talvez seja mais honesto.
Porque o que motiva o doping não é só a glória da vitória, mas o dinheiro de publicidade que a medalha traz. Ora, em última análise, é o mesmo doping que move os cartolas, estes que não largam o osso, dependentes materiais da dinheirama que corre fácil no mundo do esporte - e que se fazem de horrorizados com a banalização do doping.
É a mesma demagogia que faz a Fifa e a CBF botarem dinheiro na favela.
Não será melhor orientar os atletas para os riscos, de morrer, inclusive, que correm ao se dopar, mas liberar geral para que cada um cuide de suas vidas. Se ganha força, com razão, a tese da descriminalização das drogas, e o drogado, com frequência, põe em risco a vida dos passantes, por que não em relação aos estimulantes para melhorar desempenhos, que afetam só quem os utiliza?
Porque torna a competição desigual, alguém responderá sensatamente, esquecido de que a prática está tão disseminada que, provavelmente, se a liberassem seria tratada com mais cuidado e parcimônia, por médicos, técnicos e atletas.
Até, quem sabe, porque se todos puderem se dopar, melhor será ninguém fazê-lo.

blogdojuca@ uol.com.br


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