São Paulo, quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

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Orfãos

Red Bull corta patrocínio a núcleos da base no interior paulista e deixa 600 jovens °, que sonham em se tornar profissionais, sem ter onde jogar

EDUARDO OHATA
DO PAINEL FC
LEONARDO LOURENÇO
DE SÃO PAULO

Ao mesmo tempo em que a Red Bull planeja investir na construção de um novo estádio para a Ponte Preta, em Campinas, cerca de 600 jovens jogadores foram abandonados pela fabricante de bebida energética.
Após ouvir a promessa de que teriam a chance de seguir carreira como jogadores, garotos carentes do interior e de fora de São Paulo assistiram à Red Bull desmontar os núcleos da base que, em seu primeiro ano, levou a equipe sub-11 ao título paulista e impulsionou um jogador ao time profissional corporativo.
O projeto, cujas diretrizes foram aprovadas pela sede da multinacional na Áustria, proporcionava ainda aulas de informática e línguas aos jogadores, além de uma modesta ajuda financeira.
Porém, desde setembro, 12 dos 13 núcleos pararam de receber verba da Red Bull. A exceção foi o de Limeira, que reunia as revelações das outras células, mas que também perdeu o apoio desde o fim do ano passado. Cada escolinha atendia 50 garotos.
"[O fim do núcleo] pode atrapalhar minha carreira", afirmou Rodolfo Araújo da Silva, 11, zagueiro do time que levou o troféu estadual.
"Prejudicou o meu sonho. Estava tudo indo muito bem", disse Felipe Almeida, 14, meia, que foi mandado de volta para casa, em Cuiabá.
"A gente não sabe o que vai acontecer. Hoje o que ele mais deseja é ser jogador, é o sonho dele", declarou Emídio Rodrigues de Almeida, pai do garoto, que treinava em São José do Rio Preto.
Os uniformes que os meninos vestiam nos jogos estampavam o logo da Red Bull.
O austríaco Markus Schruf, diretor técnico do projeto e que foi dispensado da empresa, diz não saber o que motivou a Red Bull a dar fim aos núcleos. Ele afirma que estuda uma ação na Justiça contra a multinacional.
"Havia um contrato, que eles [executivos da Red Bull] sempre diziam que não estava pronto ainda e que foi deixado de lado. Mas eles pagavam as despesas, temos os recibos para provar. Os advogados dizem haver base legal para uma ação", diz Schruf.
O ex-executivo não revela valores repassados da Áustria para a Red Bull do Brasil.
"Não explicaram por que acabaram com o projeto. Mas, se conquistamos um título logo no primeiro ano dos núcleos, revelamos sete, oito garotos para a categoria profissional para o próximo ano e aproveitamos um neste ano, isso não é sucesso?", questionou o austríaco.
"Não quero meu nome ligado a um projeto que trata garotos cheios de sonhos como qualquer ente corporativo"", diz Rodrigo Beckham, ex-jogador de Botafogo e Corinthians, que também trabalhou no projeto e atuou no time profissional da empresa.


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