São Paulo, domingo, 13 de fevereiro de 2011

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Várzea

Bilionário americano se descobre lorde e investe em time da nona divisão inglesa para salvar cidade

JERÉ LONGMAN
DO "NEW YORK TIMES", EM BEDLINGTON, INGLATERRA

O primeiro telefonema aconteceu em janeiro de 2010. A pessoa se identificou como Bob Rich, um empresário americano bilionário. Entre seus antepassados, havia membros da dinastia real britânica. O presente de Natal que ganhara de sua mulher foi o título de lorde de Bedlington. E ele queria fazer algo aristocrático.
A proposta de Rich era patrocinar o Bedlington Terriers. Só podia ser piada. Um cara chamado Rich (rico) pretendia bancar um time que joga no Welfare Park (Parque da Previdência)? Sei. E quem se interessaria pelo Bedlington Terriers? O time não poderia estar mais distante da Premier League.
Bedlington fica no nordeste da Inglaterra. Seu time joga na nona divisão, com atletas semiprofissionais. Os jogos têm de 60 a cem torcedores.
"Pensei que fosse alguém me pregando uma peça", disse David Holmes, o presidente do Bedlington Terriers. Mas Rich falava sério.
Magnata da comida congelada, Rich preside o conselho da Rich Products Corporation, de Buffalo. Ocupa a 488ª posição na lista da revista "Forbes" dos mais ricos do mundo, com patrimônio estimado em US$ 2 bilhões.
Esteve na seletiva do hóquei na Olimpíada-1964 e sabe algo sobre marketing esportivo por ser dono de três times de beisebol dos EUA.
Rich sentia afinidade por Bedlington, situada no que um dia foi a região carvoeira britânica e que enfrenta decadência pós-industrial semelhante à de Buffalo. As minas estão fechadas.
Muitos dos 15 mil moradores de Bedlington trabalham hoje na vizinha Newcastle. "As semelhanças com Buffalo eram fortes", disse Rich, 70. "Eles perderam as minas, e nós, as siderúrgicas."
A empresa de Rich tem seu nome nas camisas do time de Bedlington (US$ 16 mil por temporada). Em breve, o bilionário instalará um placar no estádio, que será o único entre os 22 times da primeira divisão da Northern League.
E Rich deve pagar a reforma do gramado do Welfare Park, tão danificado pelo frio que impediu o Terriers de treinar por 54 dias seguidos entre novembro e janeiro.
"Só temos um velhinho que seca o campo com um secador de cabelo", diz Mark Clennell, 28, torcedor do Whitley Bay, um time rival.
Rich planeja vender camisas do Bedlington nos jogos de seus times de beisebol.
Quer convencer clubes de criadores de cães Bedlington Terrier a comprar objetos enfeitados com a imagem do cachorro que serve de símbolo do time. Os lucros das vendas serão enviados para o clube.
As metas são atrair mais patrocínios, solidificar a situação financeira e contratar atletas melhores. O Bedlington quer subir uma ou duas divisões, gradualmente.
De 1998 a 2002, o time ganhou cinco títulos da Northern League, mas quase fechou, há cinco anos, por problemas financeiros. Hoje, opera um orçamento anual mínimo de US$ 128 mil. Há astros do Inglês que ganham o triplo disso por semana.
Os dirigentes são voluntários. Os atletas são professores, carpinteiros, eletricistas e pedreiros. Ganham entre US$ 95 e US$ 195 por semana.
"Queremos ajudá-los a se ajudar", disse Rich. "Não podemos entrar em uma corrida armamentista, mas podemos ajudá-los a melhorar o estádio, a cuidar do gramado e a manter os salários em dia sem tanta dificuldade".
O bilionário viu duas partidas do Terriers. Uma delas, no dia de seu 70º aniversário.
Rich, cujo pai, Robert, criou a fortuna da família com uma fábrica de cremes e molhos, descobriu em 2010 que um de seus ancestrais foi o lorde de Bedlington.
Depois, brincou com a mulher, Mindy, dizendo: "Eu poderia ser um lorde". Ela respondeu: "Pode deixar que compro o título para você".
O título de lorde de Bedlington estava disponível.
Títulos como esse podem ser comprados a partir de US$ 325, e o de Bedlington estava na faixa mais barata. "Não se pode questionar a legalidade do título, só o mau gosto", disse o brincalhão Rich.
A injeção de capital e visibilidade no time já rendeu agradecimentos a lorde Rich.
"As coisas nunca foram ruins a ponto de os pubs fecharem", falou Robert Watson, 52, de uma família que opera uma banca de jornais em Bedlington. "Qualquer coisa ajuda. Perdemos tudo".
Também há cautela. Stuart Elliott, 33, capitão do Terriers, disse que o futebol está repleto de patrocinadores que injetam fortunas nos times e depois desistem.
"Isso pode paralisar um clube!", disse. Sobre Rich, Elliott afirmou que "até agora ele cumpriu o prometido. E passou seu 70º aniversário vendo um jogo do time. Somos gratos por isso".
A equipe está em sétimo no torneio de sua liga. Não é ótimo, mas já basta para encorajar os torcedores. "A cidade perdeu a identidade. O time estava estagnado. De repente, estamos subindo e devolvendo o entusiasmo à comunidade", disse John Garbutt, vice-presidente do Bedlington Terriers.

Tradução de PAULO MIGLIACCI


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