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FUTEBOL
Vai para o trono ou não vai?
SONINHA
COLUNISTA DA FOLHA
Algumas semanas atrás,
soou o alerta: "Grandes podem ficar fora da semifinal do
Paulista!". Chega a final, e não dá
outra: o Corinthians luta pelo 24º
título, e o São Paulo pelo 20º. Será
que os pequenos nunca mais vão
conseguir chegar lá? De 1937 para
cá, só a Lusa (com seu meio título
em 73, e não venha me dizer que
ela é grande), Inter e Bragantino
furaram o bloqueio de Corinthians, Palmeiras, São Paulo e
Santos. Nos outros Estados, como
lembrou Juca Kfouri no "Lance"
de terça, não é muito diferente.
O que acontece com os times pequenos, que às vezes até encantam, dificultam a vida dos outros,
mas mancam no final? Permita-me especular.
Quase sempre, os times vestem a
camisa que lhe atribuem. Comportam-se conforme o figurino
que a história, a crônica esportiva
e a torcida confeccionaram para
eles. Adotam sem questionar a filosofia de "jogar como pequeno",
quer dizer: reconhecer a superioridade do rival e tentar primeiro
anular seus pontos fortes para depois procurar um golzinho. O objetivo número um é não perder ou
não dar vexame; o empate é bom,
a vitória por pouco é ótima. A goleada está fora de cogitação.
Mas de vez em quando alguém
ignora ou contesta esse destino.
Aparece um time certinho, organizado, com bom toque de bola e
alguma ousadia que pega os
grandes de surpresa. Um São
Paulo, por exemplo, ainda que
não confesse ou nem se dê conta,
nunca vai se preocupar em fazer
uma marcação forte e descobrir
quem é o perigo no time pequeno
para anulá-lo. Então se o pequeno jogar "como grande", se não se
contentar com pouco, pode enfrentar outro de igual para igual.
Com seu ímpeto e qualidade e a
vantagem da surpresa, ele inverte
a lógica surrada -e dá-lhe "pequeno" na ponta da tabela...
Só que nas rodadas decisivas,
na famosa hora-do-vamos-ver, o
grande já se recuperou da surpresa. Tem um objetivo mais concreto e uma motivação mais aguda.
Aí ele joga o que sabe e acaba com
o azarão. Que sabe, lá no fundo
(também sem confessar ou se dar
conta), que já foi longe. Que um
título é sonho grande demais, difícil de acreditar; que perder a essa altura não será nenhum vexame. E essa pequena desmotivação
secreta pode facilitar o baile.
E tem mais: às vezes, supervalorizamos as surpresas. Em um jogo
da primeira fase, o Souza, da Santista, driblou meio time na área
adversária e chutou para fora. Foi
uma sensação: "Viu como ele foi
para cima?". Só porque o adversário era grande e ele, pequeno. Se
jogasse igual no Santos, diríamos
que ele "não fez nada o jogo inteiro, e ainda desperdiçou uma boa
chance". Não estou medindo o futebol do Souza, que talvez seja
muito bom; estou medindo as
nossas impressões. Somos exigentes e condescendentes em graus
diferentes, não tem jeito.
Mas, afinal, os pequenos podem
ou não chegar lá? Claro que sim.
Mas precisam querer e acreditar
mais que os outros, além de simplesmente jogarem melhor. Ainda acho que uma hora dessas o São Caetano terá o seu dia.
Esperança x medo
Estive na formatura de uma
turma da Polícia Militar no
Anhangabaú, a convite do Coronel Rêgo, do Batalhão de
Choque (empenhado na segurança dos estádios). A primeira
impressão foi meio desconfortável. Aqueles coturnos e as
marchas militares lembram
guerra, e a farda cinza não é
mesmo feita para parecer simpática. Maus policiais também
nos deixam traumatizados,
com medo de um gesto brusco
inexplicado. Mas, depois, vi naquelas fardas jovens animados,
abraçados aos pais humildes e
orgulhosos, tirando fotos com
as namoradas, segurando ramos de flores e filhos pequenos
no colo. Deus queira que seja
uma turma boa, que possa ajudar a diminuir o sofrimento
desse mundo.
E-mail
soninha.folha@uol.com.br
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