São Paulo, terça-feira, 13 de março de 2007

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ficção x realidade

Melhorias custam, afirma "pai do Pan"

Professor da FGV Rio declara que a escalada de gastos não surpreende e que candidatura é uma coisa e execução, outra

Responsável pelo projeto, de 2002, diz que eventos-teste podem ser feitos até com bola de gude e imagina Copa e Olimpíada no país

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

Coordenador de esporte do projeto de candidatura que resultou no Pan-07, José Antônio Barros Alves, professor da Fundação Getúlio Vargas do Rio, diz não ver problema com o aumento do orçamento da competição, de R$ 177,9 milhões para R$ 3,2 bilhões. Ele compara projeto de candidatura e realização dos Jogos à diferença entre as atividades de arquitetos e engenheiros.

 

FOLHA - Por que a discrepância de custos no projeto de candidatura e o que vemos agora?
JOSÉ ANTONIO BARROS ALVES
- Você tem que diferenciar projeto de candidatura e realização do evento. A candidatura é mais política. É muito mais ampla que o aspecto financeiro. Na fase atual, tem que pôr tudo no papel, ver quem paga o quê. É como a concepção do arquiteto e a execução do engenheiro.

FOLHA - Houve muitas modificações do projeto original para o que estamos vendo agora?
ALVES
- Houve muitas melhorias. Graças a Deus, um projeto feito para você ganhar uma candidatura possibilita sua adaptação à realidade. Você pensa em uma vila pan-americana X, mas na verdade o terreno é Y. Então você tem de adaptar. A importação de metodologias é boa para outras candidaturas, como para Copa do Mundo e Olimpíada.

FOLHA - Há alguma modificação negativa que você possa apontar?
ALVES
- Todas foram excelentes. A primeira impressão é ""mas tem tantos custos". Não pense que em Barcelona o pessoal gostou do que foi feito à época. Só foram entender o legado 10, 15 anos depois.

FOLHA - Em Deodoro, por exemplo, o custo aumentou e a conclusão será atrasada por conta do terreno ruim. Esse detalhe não foi verificado na época do projeto?
ALVES
- Não há condição de fazer esse tipo de trabalho, que é mais do executivo. É ele que vai lá, enfia o negócio no terreno, descobre sua consistência. Na Austrália, ""arrastaram" o estádio olímpico cerca de 100 metros porque descobriram que na área original havia uns sapinhos que só viviam naquela região, e os ecologistas não permitiriam sua construção lá.

FOLHA - O senhor não acha estranha essa discrepância de R$ 178 milhões para mais de R$ 3 bilhões?
ALVES
- Isso você tem que ver com os poderes públicos. São informações que a gente ouve falar, mas nunca vê.

FOLHA - Esses números foram fornecidos por fontes oficiais.
ALVES
- Devem ter sido tomadas decisões de mudança de escopo. Um Pan não são só 15 dias... Esses Jogos são aceleradores de crescimento.

FOLHA - Os gastos com a segurança estava na planilha de vocês?
ALVES
- Não, porque é um gasto estrutural. A segurança que estava prevista era aquela dentro das instalações, que é muito menor do que se está propondo, que é uma grande mobilização em razão do que aconteceu recentemente na própria sociedade brasileira. Hoje o Rio de Janeiro tem um problema de segurança muito maior do que tinha em 2001, 2002.

FOLHA - Várias das instalações ficarão prontas às vésperas do Pan e não haverá eventos-teste para muitas. Isso não compromete?
ALVES
- Não, ninguém faz isso para testar as instalações. Você faz para testar seu pessoal, seus processos internos, e isso você pode fazer sem eventos e fora das instalações. Você liga o computador do centro de informática, faz uma simulação com informações hipotéticas. Esses processos podem ser testados até com bola de gude.


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