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ficção x realidade
Melhorias custam, afirma "pai do Pan"
Professor da FGV Rio declara que a escalada de gastos não surpreende e que candidatura é uma coisa e execução, outra
Responsável pelo projeto,
de 2002, diz que eventos-teste podem ser feitos até
com bola de gude e imagina
Copa e Olimpíada no país
EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL
Coordenador de esporte do
projeto de candidatura que resultou no Pan-07, José Antônio
Barros Alves, professor da Fundação Getúlio Vargas do Rio,
diz não ver problema com o aumento do orçamento da competição, de R$ 177,9 milhões
para R$ 3,2 bilhões.
Ele compara projeto de candidatura e realização dos Jogos
à diferença entre as atividades
de arquitetos e engenheiros.
FOLHA - Por que a discrepância de
custos no projeto de candidatura e o
que vemos agora?
JOSÉ ANTONIO BARROS ALVES - Você
tem que diferenciar projeto de
candidatura e realização do
evento. A candidatura é mais
política. É muito mais ampla
que o aspecto financeiro. Na fase atual, tem que pôr tudo no
papel, ver quem paga o quê. É
como a concepção do arquiteto
e a execução do engenheiro.
FOLHA - Houve muitas modificações do projeto original para o que
estamos vendo agora?
ALVES - Houve muitas melhorias. Graças a Deus, um projeto
feito para você ganhar uma
candidatura possibilita sua
adaptação à realidade. Você
pensa em uma vila pan-americana X, mas na verdade o terreno é Y. Então você tem de adaptar. A importação de metodologias é boa para outras candidaturas, como para Copa do Mundo e Olimpíada.
FOLHA - Há alguma modificação
negativa que você possa apontar?
ALVES - Todas foram excelentes. A primeira impressão é
""mas tem tantos custos". Não
pense que em Barcelona o pessoal gostou do que foi feito à
época. Só foram entender o legado 10, 15 anos depois.
FOLHA - Em Deodoro, por exemplo, o custo aumentou e a conclusão
será atrasada por conta do terreno
ruim. Esse detalhe não foi verificado
na época do projeto?
ALVES - Não há condição de fazer esse tipo de trabalho, que é
mais do executivo. É ele que vai
lá, enfia o negócio no terreno,
descobre sua consistência. Na
Austrália, ""arrastaram" o estádio olímpico cerca de 100 metros porque descobriram que
na área original havia uns sapinhos que só viviam naquela região, e os ecologistas não permitiriam sua construção lá.
FOLHA - O senhor não acha estranha essa discrepância de R$ 178 milhões para mais de R$ 3 bilhões?
ALVES - Isso você tem que ver
com os poderes públicos. São
informações que a gente ouve
falar, mas nunca vê.
FOLHA - Esses números foram fornecidos por fontes oficiais.
ALVES - Devem ter sido tomadas decisões de mudança de escopo. Um Pan não são só 15
dias... Esses Jogos são aceleradores de crescimento.
FOLHA - Os gastos com a segurança estava na planilha de vocês?
ALVES - Não, porque é um gasto
estrutural. A segurança que estava prevista era aquela dentro
das instalações, que é muito
menor do que se está propondo, que é uma grande mobilização em razão do que aconteceu
recentemente na própria sociedade brasileira. Hoje o Rio de
Janeiro tem um problema de
segurança muito maior do que
tinha em 2001, 2002.
FOLHA - Várias das instalações ficarão prontas às vésperas do Pan e não
haverá eventos-teste para muitas.
Isso não compromete?
ALVES - Não, ninguém faz isso
para testar as instalações. Você
faz para testar seu pessoal, seus
processos internos, e isso você
pode fazer sem eventos e fora
das instalações. Você liga o
computador do centro de informática, faz uma simulação com
informações hipotéticas. Esses
processos podem ser testados
até com bola de gude.
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