São Paulo, terça-feira, 13 de abril de 2004

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BASQUETE

Coelhos da cartola

MELCHIADES FILHO
EDITOR DE ESPORTE

Ninguém ousa badalar as atuações do ala-pivô Kevin Garnett ou analisar o desempenho do Minnesota sem mencionar o trabalho subterrâneo de Kevin McHale, que cercou a estrela de outros jogadores engenhosos (os armadores Sam Cassell e Latrell Sprewell) e construiu a liderança da Conferência Oeste.
Não se festeja o sucesso inesperado do jurássico técnico Hubie Brown, 70, sem dar crédito à caneta de Jerry West, que, com argúcia, coalhou o modesto Memphis de talentos e viabilizou a inédita classificação aos playoffs.
Não se admira as atuações do brasileiro Nenê nem se aplaude a ascensão vertiginosa do Denver, ex-lanterna que briga pela última vaga nos mata-matas, sem se reconhecer o papel de Kiki Vandeweghe, o "general manager" que demonstrou como erguer uma equipe do nada em pouco tempo.
Todos sabem que o Los Angeles Lakers só conserva a fama de "bicho-papão" graças ao arrojo de Mitch Kupchak, que, a preço de banana, seduziu os medalhões Karl Malone e Gary Payton. E que o San Antonio jamais arrancaria na tabela não tivesse R.C. Buford garantido a renovação do ala-pivô Tim Duncan -parte principal de plano que mantém os campeões com saúde financeira para fisgar outros craques.
O Indiana, que ganhara 48 partidas em 02/03 e perdera um titular antes desta temporada, vai fechar a fase de classificação com a melhor campanha e provavelmente 60 vitórias. Tudo porque Larry Bird teve o peito de desafiar os fãs e delegar o comando técnico ao minucioso Rick Carlisle.
Já a sorte do Detroit, o outro time que o Leste credencia ao título, foi lançada por Joe Dumars, responsável pelas principais contratações do torneio, fora e dentro da quadra: o treinador Larry Brown (ex-Philadelphia) e o ala Rasheed Wallace (ex-Portland).
Na mesma conferência, o carisma do "calouro" Isiah Thomas pavimentou a ressurreição do New York Knicks, e o de Pat Riley, que se afastou do banco de reservas para se concentrar na administração do clube, a do Miami.
Nos EUA -uma vez que a estrutura funciona, as federações não fazem barulho, o dinheiro aparece, e o torneio brilha-, a imprensa costuma priorizar o que ocorre nos campos, quadras etc.
Nada a ver com a mídia esportiva brasileira, habituada a monitorar o dia-a-dia de cartolas (seja porque não se desvencilhou do passado de sujeição aos interesses do coronelato do esporte; seja porque resolveu afrontá-lo, ciente de que os bastidores têm efeitos cruciais sobre o espetáculo).
Tanto que, de todos os prêmios individuais que a NBA outorga anualmente, o único que ela não delega a um comitê de jornalistas é o de melhor dirigente.
Este ano, porém, vê uma guinada. Não existe, no papel e na internet norte-americanos, debate tão interessante e agitado quanto o do troféu "chapa branca".
O campeonato mais excitante dos últimos tempos da NBA renovou para o basqueteiro a lição de que o cartola (aquele profissional remunerado para gerir o clube, e não um simples apaixonado torcedor) também ganha jogo.

Mágica 1
Kevin Garnett merece o troféu de craque da temporada. Jerry Sloan (Utah), que fez omeletes sem ovos, foi o melhor técnico. O reserva do ano foi o argentino Manu Ginóbili (San Antonio). Ron Artest (Indiana) brilhou como o melhor jogador de defesa. Quem mais evoluiu? Para mim, Lamar Odom, a cola tática e técnica do redivivo Miami.

Mágica 2
Tanto a ESPN como a Rede TV! vão exibir os mata-matas. Enquete da página brasileira do site da NBA mostra que o telespectador prefere ver em ação LA Lakers (57%), Denver (26%) e San Antonio (9%).

Mágica 3
A rodada de amanhã (a última!) define a sorte do Denver e as chaves.

E-mail melk@uol.com.br


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