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IATISMO
No Mundial, velejador intensifica a rotina para aperfeiçoar concentração e suportar estresse por ser favorito
Por hepta, recorde e Olimpíada, Scheidt investe na cabeça
GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL
De manhã, passeio de bicicleta
seguido de sessão musical com
Eric Clapton e Charlie Brown Jr.
Pouco antes de competir, repetir
um antigo ritual no barco. E,
quando tudo estiver pronto, dar a
última olhada nos dois amuletos.
A rotina parece banal, mas é
considerada parte imprescindível
na preparação de Robert Scheidt
para obter êxito nos eventos mais
importantes desta temporada.
Hoje, o velejador de 31 anos inicia em Bodrum, na Turquia, a
campanha pelo sétimo título
mundial da classe laser. O torneio
só perde em importância para os
Jogos de Atenas, em agosto.
Até a próxima quarta, ele persegue um recorde -nenhum brasileiro conseguiu registrar longevidade tão pronunciada no topo de
uma modalidade olímpica.
Mas também quer utilizar o
campeonato para testar sua técnica de preparação psicológica.
A preocupação com a cabeça
tem explicação. Líder no ranking
em sua modalidade, invicto nas
seis provas disputadas em 2004 e
favorito natural ao troféu em todas as provas que disputa, Scheidt
quer lidar melhor com a pressão
em momentos decisivos.
"As cobranças aumentaram. Eu
me viro bem, mas preciso me cuidar para estar sempre alerta. Isso
é fundamental nos instantes em
que as medalhas são decididas",
contou ele, de Bodrum, à Folha.
Melhorar a concentração, na
verdade, foi um anseio que surgiu
justamente no último Mundial,
realizado em Cádiz, na Espanha.
Scheidt chegou ao último dia de
disputas na liderança. Na jornada
derradeira, não foi bem. Deixou o
hepta escapar para um inimigo
íntimo: Gustavo Lima, português
que nasceu no Rio e nunca o havia
superado em Mundiais.
"Fui pacífico demais naquele último dia. Dali em diante treinei
muito e comecei a dar mais valor
para o lado psicológico", conta.
Ouro em Atlanta-1996 e prata
na última Olimpíada, Scheidt prefere não trabalhar com profissionais. Ele desenvolveu uma técnica
particular para convergir suas
forças no dia das regatas.
No dia das provas, gosta de
acordar cedo, pegar a bicicleta e
dar um curto passeio. "É nesse
momento que começo a imaginar
minha performance. Penso em
tudo o que poderei fazer", diz.
Depois, no percurso até o local
da competição, relaxa ouvindo
sua coleção de CDs. O repertório
começa com Eric Clapton, passa
por U2 e ganha um viés nacional
com o rock do Charlie Brown Jr.
"Bem antes da regata, gosto de
cuidar do barco. Olho a vela, a estrutura, coloco a roupa de competição. Faço tudo sempre na mesma toada. É um jeito de entrar na
disputa 100% ligado", afirma.
Claro que sobra um espaço para
o sobrenatural. Scheidt não abre
mão de dois talismãs quando entra no barco: um cavalo de jogo de
xadrez e uma correntinha de ouro. Sem eles, nunca vai ao mar.
Hoje, ele vai repetir todo esse rito. E também comemorar uma
certa "vantagem" que não está
acostumado a ostentar. "Desta
vez, eu não sou o atual campeão,
não defendo o título. É uma preocupação a menos na cabeça."
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