São Paulo, quinta-feira, 13 de maio de 2004

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IATISMO

No Mundial, velejador intensifica a rotina para aperfeiçoar concentração e suportar estresse por ser favorito

Por hepta, recorde e Olimpíada, Scheidt investe na cabeça

GUILHERME ROSEGUINI
DA REPORTAGEM LOCAL

De manhã, passeio de bicicleta seguido de sessão musical com Eric Clapton e Charlie Brown Jr. Pouco antes de competir, repetir um antigo ritual no barco. E, quando tudo estiver pronto, dar a última olhada nos dois amuletos.
A rotina parece banal, mas é considerada parte imprescindível na preparação de Robert Scheidt para obter êxito nos eventos mais importantes desta temporada.
Hoje, o velejador de 31 anos inicia em Bodrum, na Turquia, a campanha pelo sétimo título mundial da classe laser. O torneio só perde em importância para os Jogos de Atenas, em agosto.
Até a próxima quarta, ele persegue um recorde -nenhum brasileiro conseguiu registrar longevidade tão pronunciada no topo de uma modalidade olímpica.
Mas também quer utilizar o campeonato para testar sua técnica de preparação psicológica.
A preocupação com a cabeça tem explicação. Líder no ranking em sua modalidade, invicto nas seis provas disputadas em 2004 e favorito natural ao troféu em todas as provas que disputa, Scheidt quer lidar melhor com a pressão em momentos decisivos.
"As cobranças aumentaram. Eu me viro bem, mas preciso me cuidar para estar sempre alerta. Isso é fundamental nos instantes em que as medalhas são decididas", contou ele, de Bodrum, à Folha.
Melhorar a concentração, na verdade, foi um anseio que surgiu justamente no último Mundial, realizado em Cádiz, na Espanha.
Scheidt chegou ao último dia de disputas na liderança. Na jornada derradeira, não foi bem. Deixou o hepta escapar para um inimigo íntimo: Gustavo Lima, português que nasceu no Rio e nunca o havia superado em Mundiais.
"Fui pacífico demais naquele último dia. Dali em diante treinei muito e comecei a dar mais valor para o lado psicológico", conta.
Ouro em Atlanta-1996 e prata na última Olimpíada, Scheidt prefere não trabalhar com profissionais. Ele desenvolveu uma técnica particular para convergir suas forças no dia das regatas.
No dia das provas, gosta de acordar cedo, pegar a bicicleta e dar um curto passeio. "É nesse momento que começo a imaginar minha performance. Penso em tudo o que poderei fazer", diz.
Depois, no percurso até o local da competição, relaxa ouvindo sua coleção de CDs. O repertório começa com Eric Clapton, passa por U2 e ganha um viés nacional com o rock do Charlie Brown Jr.
"Bem antes da regata, gosto de cuidar do barco. Olho a vela, a estrutura, coloco a roupa de competição. Faço tudo sempre na mesma toada. É um jeito de entrar na disputa 100% ligado", afirma.
Claro que sobra um espaço para o sobrenatural. Scheidt não abre mão de dois talismãs quando entra no barco: um cavalo de jogo de xadrez e uma correntinha de ouro. Sem eles, nunca vai ao mar.
Hoje, ele vai repetir todo esse rito. E também comemorar uma certa "vantagem" que não está acostumado a ostentar. "Desta vez, eu não sou o atual campeão, não defendo o título. É uma preocupação a menos na cabeça."


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