São Paulo, sábado, 13 de maio de 2006

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Gatlin toma recorde, mas não o glamour dos 100 m

Abdul Basit/Associated Press
O norte-americano Justin Gatlin recupera o fôlego após se tornar, com o tempo de 9s76, no Qatar, o homem mais rápido do planeta


Campeão olímpico e mundial, americano crava 9s76 e busca afirmação para apagar mancha do doping e devolver "tempero" à badalada prova

DA REPORTAGEM LOCAL

O americano Justin Gatlin provou ontem que, na pista, é o melhor velocista da atualidade. Campeão olímpico e mundial, quebrou o recorde dos 100 m rasos.
E, ao cruzar a linha de chegada em 9s76, o novo homem mais rápido do planeta colocou de vez nas costas o peso de reerguer a imagem da prova e dos atletas mais badalados do atletismo.
Em 2004, Gatlin fez história em Atenas ao vencer a mais apertada final dos 100 m em Olimpíadas. O feito, porém, não bastou para lhe dar a primazia dos holofotes.
Tímido, sósia do ator Will Smith, o atleta, hoje com 24 anos, não se destacou nem pela simpatia nem pela competitividade.
Além disso, as atenções ainda estavam voltadas para a procura de casos de doping, acirrada após o escândalo envolvendo o laboratório Balco e grandes estrelas.
No ano seguinte, o jamaicano Asafa Powell roubou a cena ao bater o recorde mundial, com 9s77.
O Mundial de Helsinque (FIN), que viria em seguida, prometia ser o grande duelo entre os dois. Com Powell lesionado, Gatlin igualou o feito de 1999 do compatriota Maurice Greene ao vencer os 100 m rasos e os 200 m rasos. Mas sem o brilho esperado.
Nesta temporada, sem Mundial ou Jogos Olímpicos, a expectativa recaiu sobre atuações brilhantes e competições que fizessem o atletismo reviver a época de duelos ferrenhos como Carl Lewis x Ben Johnson ou de estrelas controversas como Greene e Florence Griffith Joyner, três vezes campeã olímpica e famosa por trajes extravagantes e suspeitas de doping.
Lewis e Jonhson foram dois dos maiores rivais das pistas. A final dos 100 m em Seul-1988 é tida como a mais marcante da história. Johnson estraçalhou o recorde e deixou a prata para o dono de nove ouros olímpicos. Mais tarde, acabou pego no antidoping.
Gatlin fez sua parte ontem, em Doha (Qatar). Desde Greene (campeão em Sydney-2000, mundial em 1999 e 2001 e recordista) um corredor não acumulava os três principais feitos dos 100 m.
Mas isso não parece ser suficiente. "Ele sobressai como o mais conhecido. Porém não só a performance dos atletas na pista mas também sua personalidade e história fora dela é que sustentam o interesse da mídia e dos fãs", escreveu Michael Johnson, ex-corredor especialista nos 200 m e 400 m, cinco vezes campeão olímpico, no britânico "Daily Telegraph."
"Infelizmente, o esporte hoje precisa desesperadamente de atletas que se sobressaiam. Essa geração é talentosa, mas falta a ela o tempero que o esporte precisa."
Na última semana, Gatlin ensaiou mudança. No sábado, cravou 9s95, mesmo tempo de Powell, na Jamaica. E alardeou que bateria o recorde. "Mantive minha palavra", disse Gatlin, que dedicou a marca a Deus e aos pais.
O velocista, que até agora não figurou na lista de principais suspeitos de doping, teve um início de carreira conturbado. Em 2001, foi pego com anfetaminas e suspenso por dois anos. A pena caiu para um ano após ele dizer que usava remédios por sofrer de Transtorno de Déficit de Atenção. Nascido em Nova York, começou a correr brincando. Diz que deixava os amigos para trás enquanto pulavam hidrantes nas ruas.
Do garoto que saiu das sombras em Atenas ao homem que se tornou ontem o mais rápido do mundo, Gatlin tenta agora mostrar que pode, por si só, ser a atração. E arriscou uma provocação.
"Meu desempenho pode ser melhorado neste ano. Provavelmente na Europa."
Na Inglaterra, em 11 de junho, deve encontrar Powell na pista. No duelo que mostrará quem é o mais rápido e se o esporte ganhou uma estrela completa.

Com agências internacionais


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