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JOSÉ ROBERTO TORERO
Ressacas
Times de futebol também sofrem de babalaze; algumas demoram tanto a passar que o jeito é beber para esquecer
BOÊMIA LEITORA, alcoólatra leitor, as ressacas podem ser terríveis. Aposto que vocês sabem disso. Quem nunca teve uma
ressaca que atire o primeiro Engov!
Os sintomas variam, mas em geral
a cabeça dói tanto que a gente pensa
que os neurônios se revoltaram, pegaram martelos e estão quebrando
tudo por lá. A boca fica tão seca que
não há Amazonas que cure sua sede.
Há uma grande dificuldade de concentração (por exemplo, se você está
de ressaca, já deve ter lido esta linha
três vezes). E, como esta Folha pode
estar sendo lida no café da manhã,
nem vou falar em dores de estômago, náuseas e vômitos.
Como todos sabem, há dois tipos
de ressacas: as de alegria e as de
tristeza. As de alegria, é claro, vêm
de comemorações. Geralmente são
de champanhe ou cerveja e não duram tanto tempo. Já as de tristeza
acontecem porque você teve um
mau dia e tentou afogar-se em cachaça, rum ou gim. Estas são mais
graves. Algumas demoram tanto a
passar que o jeito é beber para esquecer a ressaca. Com os times de
futebol dá-se o mesmo. Eles vieram de suas festas estaduais e muitos ainda estão de babalaze.
O Flamengo, por exemplo, perdeu do América do México porque
estava curtindo sua alegre ressaca
pelo campeonato do Rio de Janeiro. Mas ela foi tão grande que gerou a derrota na Libertadores, que,
por sua vez, gerou outra ressaca,
desta vez de tristeza. Porém, graças
à vitória sobre o Santos B, a dor de
cabeça já começa a passar.
A ressaca do Palmeiras também
é compreensível. O time não ganhava o Paulista havia mais de uma
década e tinha mesmo que comemorar. Mas na próxima rodada já
estará livre dos eflúvios etílicos e
deve voltar a jogar bem.
Por outro lado, os ressacados-tristes se deram mal. O Goiás, por
exemplo, que perdeu a final do Estadual para o Itumbiara (e com
duas derrotas), mostrou que ainda
não se recuperou completamente.
Tanto que perdeu para o Náutico,
que vem de uma ressaca pernambucana. Na próxima semana, o
Goiás enfrenta outra equipe com
sérios problemas ressacais: o Atlético-MG, que tomou seis doses da
cachaça Cruzeiro na final do Mineiro. A ressaca é tanta que, mesmo em casa e contra dez reservas, o
Atlético não venceu o Fluminense.
Sinal de que a dor de cabeça ainda
vai durar algum tempo.
Mas ressaca mesmo foi a do Ipatinga. Após ser campeão estadual
em 2005 e vice da Série B em 2007,
foi rebaixado no Mineiro de 2008.
Uma grande decepção. E promete
ser longa, pois começou perdendo
em casa. Talvez, no final do ano,
haja a ressaca do rebaixamento.
Por outro lado, há alguns (dos
quais tenho profunda inveja) que
resistem às ressacas, como Inter e
Cruzeiro. Ganharam seus Estaduais, com goleadas nas finais, e
venceram na primeira rodada do
Brasileiro. O Cruzeiro, fora de casa.
O Inter, com os reservas.
Estes abençoados são como
aquele colega de escritório que, na
sala do cafezinho, no dia seguinte à
esbórnia de fim de ano, te pergunta. "Não brinca?! Você ficou de ressaca? Engraçado, eu não senti nada."
E depois sai assobiando.
E aí você joga a cafeteira na cabeça dele.
torero@uol.com.br
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