São Paulo, quinta-feira, 13 de maio de 2010

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JUCA KFOURI

País do futebol


É em momentos como este, reta final antes de uma Copa do Mundo, que o Brasil se revela futebolístico


EMBORA LIMITADA a São Paulo, a pesquisa do Datafolha mostra uma aprovação à lista de Dunga que as conversas entre os apaixonados por futebol ficam longe de sugerir.
Mas convenhamos que será mais fácil supor que os dados relativos ao torcedor paulistano valem para o brasileiro do que estejam certas as pesquisas pessoais que cada um de nós faz em seu círculo de relacionamentos, por maior que seja.
O que, aparentemente, é surpreendente. Mas só aparentemente.
Também o Datafolha, em finais de abril, revelou mais uma vez em sua pesquisa de tamanho de torcidas que o maior contingente de brasileiros, nada menos que 25%, 1/4 de nós portanto, afirma não torcer por time algum.
Isto é, a maior torcida do país, a do Flamengo, com 17%, fica bem atrás do contingente de não torcedores. Algo que não acontece, por exemplo, na Argentina, onde o Boca Juniors tem 41% de preferência, o River Plate tem 32% e apenas 8% dizem não ter time, como revelou uma pesquisa da Secretaria de Comunicação do governo argentino, quatro anos atrás.
O que permite dizer que somos o país do futebol só em momentos como os das Copas do Mundo, quando o Brasil de fato para para ver os jogos, muito mais pela festa, pelo congraçamento das pessoas, do que propriamente pelo jogo em si.
Jogo menos reverenciado e entendido aqui do que na Argentina, na Inglaterra e na Itália, que, por sinal, tem apenas 46% de habitantes que dizem ter um time de coração, segundo pesquisa publicada pelo respeitado jornal "La Reppublica", três anos atrás.
E nós, os brasileiros apaixonados por futebol, que nos preparemos para uma eventual, possível e até provável conquista do hexacampeonato pelo sargento Dunga e seus soldados.
Se como capitão em 1994 ele xingou a taça ao levantá-la, imagine o que fará como comandante de menor galão, mas, paradoxalmente, maior autoridade direta.
Será capaz de chutá-la.
E em nossas testas.
Pois tratemos de merecer semelhante tratamento, sem tréguas.
Dunga disse que, quanto mais apanha, mais gosta de olhar para seu objetivo final.
É um modo, sem dúvida, interessante de sublimação, método utilizado até para suportar torturas, de tentar sair de si em busca de algo maior no futuro.
E o futuro, para Dunga, é apenas e tão somente a vitória, venha do jeito que vier. Mesmo que para nós, apaixonados pelo jogo, vencer não seja o bastante, convenhamos que até nós, ou ao menos a maioria de nós, preferimos ganhar sem brilho do que perder sem brilho.
E, como há sempre um lado masoquista no torcedor, fartamente demonstrado quando um grande clube cai de divisão ou fica muito tempo sem ser campeão, quem sabe se a crítica constante a Dunga não o leve a mais uma conquista, até com requintes de bom futebol, para que a taça em nossa testa cumpra ainda mais fielmente seu papel?
Porque este nosso sui generis e macunaímico país do futebol é assim: se liga muito mais nos fins do que nos meios.

blogdojuca@uol.com.br


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