São Paulo, quinta-feira, 13 de maio de 2010

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ANÁLISE

Insegurança de Dunga se revela no discurso

MARTA ASSUMPÇÃO DE ANDRADA E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

UM PEDIDO de desculpas e os braços cruzados. Dunga iniciou a entrevista coletiva sobre a convocação com dois erros básicos para um bom discurso.
"Desculpe que eu estou um pouquinho resfriado", disse o treinador, ao começar a falar.
Era desnecessário: a voz de Dunga tem ressonância anasalada, o que torna o resfriado menos evidente. O técnico chamou a atenção para um problema que era pouco perceptível.
Ao explicar suas escolhas, Dunga adotou a clássica posição de defesa e fechamento.
Ninguém que pretenda dialogar inicia sua fala com os braços cruzados na frente do peito. Ele demorou 4min30s para descruzá-los e usar os gestos.
Em um discurso, as mãos e o olhar são fundamentais para inspirar confiança, e Dunga falhou nesses dois pontos.
Quando questionado, ficou várias vezes de punhos cerrados, escondendo os dedos, passando impressão de insegurança, medo. O técnico começava a responder para o jornalista que fizera a pergunta, mas logo desviava o olhar para cima, como se quisesse fugir da resposta.
Em várias situações, as microexpressões de Dunga evidenciaram seu desconforto: mordia ou apertava os lábios e franzia a testa. Quando irritado, Dunga gesticulou mais, aumentou a intensidade da voz e rebateu perguntas com outras perguntas, sempre agressivo.
Mais um erro primário do treinador foi o tom quase sempre negativo: "Se não gostar de mim...", "Eu não tenho problema nenhum em responder...", "Vou repetir a palavra que vocês não gostam...". Nesses casos, ele poderia ter respondido de forma direta, positiva, evitando uma zona de tensão. Outra característica foram as pausas de preenchimento no início das frases: "Olha...", "Eh, ah...", "Veja bem...", "Na verdade...". São hábitos frequentes de pessoas que programam suas respostas e são pegas de surpresa. É estranho no caso de Dunga, pois ele já sabia (ou deveria saber) grande parte das perguntas que seriam feitas.
O técnico também errou os plurais dos verbos e repetiu muitos vocábulos. A palavra "seleção" foi dita 27 vezes. "A gente", oito vezes. As que mais chamaram a atenção, porque ditas com muita ênfase, foram "responsabilidade" (sete), "coerência" (sete), "comprometimento" (seis), "confiança" (seis) e "paixão" (cinco).


MARTA ASSUMPÇÃO DE ANDRADA E SILVA é fonoaudióloga, professora-assistente de pós-graduação e graduação em fonoaudiologia da PUC-SP e professora-adjunta do curso de fonoaudiologia da Santa Casa de SP


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