|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
ANÁLISE
Insegurança de Dunga se revela no discurso
MARTA ASSUMPÇÃO DE
ANDRADA E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA
UM PEDIDO de desculpas e os braços cruzados. Dunga iniciou a
entrevista coletiva sobre a convocação com dois erros básicos
para um bom discurso.
"Desculpe que eu estou um
pouquinho resfriado", disse o
treinador, ao começar a falar.
Era desnecessário: a voz de
Dunga tem ressonância anasalada, o que torna o resfriado
menos evidente. O técnico chamou a atenção para um problema que era pouco perceptível.
Ao explicar suas escolhas,
Dunga adotou a clássica posição de defesa e fechamento.
Ninguém que pretenda dialogar inicia sua fala com os braços
cruzados na frente do peito. Ele
demorou 4min30s para descruzá-los e usar os gestos.
Em um discurso, as mãos e o
olhar são fundamentais para
inspirar confiança, e Dunga falhou nesses dois pontos.
Quando questionado, ficou
várias vezes de punhos cerrados, escondendo os dedos, passando impressão de insegurança, medo. O técnico começava a
responder para o jornalista que
fizera a pergunta, mas logo desviava o olhar para cima, como
se quisesse fugir da resposta.
Em várias situações, as microexpressões de Dunga evidenciaram seu desconforto:
mordia ou apertava os lábios e
franzia a testa. Quando irritado, Dunga gesticulou mais, aumentou a intensidade da voz e
rebateu perguntas com outras
perguntas, sempre agressivo.
Mais um erro primário do
treinador foi o tom quase sempre negativo: "Se não gostar de
mim...", "Eu não tenho problema nenhum em responder...",
"Vou repetir a palavra que vocês não gostam...". Nesses casos, ele poderia ter respondido
de forma direta, positiva, evitando uma zona de tensão.
Outra característica foram as
pausas de preenchimento no
início das frases: "Olha...", "Eh,
ah...", "Veja bem...", "Na verdade...". São hábitos frequentes de
pessoas que programam suas
respostas e são pegas de surpresa. É estranho no caso de
Dunga, pois ele já sabia (ou deveria saber) grande parte das
perguntas que seriam feitas.
O técnico também errou os
plurais dos verbos e repetiu
muitos vocábulos. A palavra
"seleção" foi dita 27 vezes. "A
gente", oito vezes. As que mais
chamaram a atenção, porque
ditas com muita ênfase, foram
"responsabilidade" (sete),
"coerência" (sete), "comprometimento" (seis), "confiança"
(seis) e "paixão" (cinco).
MARTA ASSUMPÇÃO DE ANDRADA E SILVA é
fonoaudióloga, professora-assistente de pós-graduação e graduação em fonoaudiologia da
PUC-SP e professora-adjunta do curso de fonoaudiologia da Santa Casa de SP
Texto Anterior: Liga Europa: Forlán acaba com a fila do Atlético de Madri Próximo Texto: Scolari: Técnico voltará ao mercado em agosto Índice
|