São Paulo, domingo, 13 de junho de 2004

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FUTEBOL

Mudança e repetição

TOSTÃO
COLUNISTA DA FOLHA

Diante da ausência dos titulares e de alguns reservas e da preocupação em chamar, no máximo, dois jogadores de cada clube brasileiro, gostei da convocação para a Copa América.
Nada mais justo do que preservar as férias dos atletas que atuam na Europa.
É preciso adaptar o calendário brasileiro ao europeu. A Copa América deveria ser um torneio importante, de quatro em quatro anos e sem coincidir com outros campeonatos. Hoje, ela está desfigurada. Serve apenas para os dirigentes fazerem encontros festivos e para os empresários faturarem. Os contratos com os patrocinadores foram assinados antes de sair a lista dos convocados.
Na convocação, Parreira preferiu jogadores com características para atuarem no esquema tático da seleção. Esse foi um dos motivos para a ausência do Robinho. Ele não pode jogar no lugar do Zé Roberto, do Kaká e não é um típico atacante, como quer o técnico. Robinho não tem posição definida. Ele corre e joga.
Se a seleção jogasse no 4-4-2 clássico da Europa, com dois volantes e um meia de cada lado, defendendo e atacando (não há motivo para mudar o esquema), Robinho seria uma ótima opção, pela esquerda. Aí é o seu lugar, como jogava no Santos quando o time foi campeão brasileiro. Ele avançava, recuava, marcava o lateral e ia para o meio no momento certo. Assim jogam o Pires, no Arsenal, e outros atletas.
Mesmo sem lugar no esquema do Parreira, Robinho -ou outro jogador com a mesma característica- seria uma opção diferente. Falta à seleção brasileira um atacante veloz e habilidoso pelas pontas. Sempre que os laterais brasileiros são bem marcados, não há jogadas pelos lados.
Mas Parreira não gosta de alternativas. Gosta de repetição. Depois que o desenho tático é definido, ele não muda, não importa o adversário. Isso é bom e ruim. É bom porque a repetição leva ao aperfeiçoamento. É ruim porque fica previsível.
Por outro lado, há muitos técnicos inventores, prepotentes e apaixonados pela prancheta, principalmente na Europa, que trocam jogadores e o esquema tático a cada partida, de acordo com o time adversário. Geralmente não funciona. Esses treinadores se acham mais importantes do que o futebol.
O técnico mais sábio é o que muda pouco e sabe o momento de mudar.

Talento e garra
O São Paulo jogou com muita garra contra o Once Caldas, criou chances de gol, mas não teve talento e paciência para tocar a bola e esperar o momento certo para decidir. O time estava afobado. Correu muito e pensou pouco.
Mais um time brasileiro pára nas duas linhas de quatro. Os oito jogadores atrás da linha da bola são uma boa desculpa dos treinadores. Faltaram os dribles perto da área e o passe rápido, certeiro e surpreendente.
As equipes brasileiras estão muito dependentes do meia de ligação. Sempre que o time não faz gols, dizem que faltou esse jogador. O meia, que pensa antes dos outros e descobre pequenos espaços na defesa, é raro em todo o mundo. Há também outras maneiras de organizar a armação de uma equipe.

Violência
Flamengo e Vitória fizeram uma partida violenta pela Copa do Brasil. Ninguém foi expulso pelo árbitro Luciano Almeida. Mais violento só o confronto entre Boca Juniors e River Plate, pela Taça Libertadores da América. Lá, três foram expulsos. Os árbitros brasileiros marcam faltas demais e, ao mesmo tempo, são complacentes com os agressores.
O Mengo é o mais forte candidato ao título da Copa do Brasil e um dos últimos no Brasileirão. Por quê? Não sei. Há muitas teorias e mistérios no futebol.

Eurocopa
Ontem começaria a Eurocopa. A França tem o melhor conjunto e dois craques (Zidane e Henry), além de outros excelentes jogadores. Mas a defesa não é lá essas coisas, como vimos no amistoso contra o Brasil, apesar do 0 a 0.
A Itália tem cinco atletas excepcionais: o goleiro Buffon, os zagueiros Nesta e Maldini, o volante Pirlo e o meia-atacante Totti. Porém o técnico não ajuda. O time é muito amarrado, sem fantasia.
Portugal, por jogar em casa, e algumas outras equipes também são candidatas ao título, já que há pouca diferença técnica entre as seleções.

E-mail: tostao.folha@uol.com.br


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