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Soninha
Sempre a 1ª vez
Talento + experiência + entusiasmo de principiante: sonho
RECEBO mensagens
desaprovando minhas manifestações
de admiração e assombro
-com os estádios modernos, a organização, a beleza e capricho. "Coisa de
matuto deslumbrado com
o Primeiro Mundo."
Ah, eu me deslumbro
mesmo. Não quero deixar
de me encantar com cada
novidade, seja ela de que
mundo for.
Já passei a fase tonta de
adolescente que achava
que tinha de ser meio blasé, "para provar pra todo
mundo/que eu não precisava provar nada pra ninguém". Mas bem que eu
queria que algumas coisas
não parecessem tão extraordinárias assim, como
a eficiência, a gentileza e o
respeito no atendimento
ao público.
Há quem corra o mundo
e não se espante com nada. Conheço gente que
afirma: "Para mim, isso
aqui ou Carapicuíba dá na
mesma".
Lugar nenhum no mundo importa mais do que
outro, tudo tanto faz.
Isso poderia ser legal se
fosse a manifestação de
um orgulho saudoso de casa e do afeto da vizinhança. Mas é um fastio, um
desdém orgulhoso que tira a graça de tudo.
É o risco por que passam
os jogadores do jet-set internacional. Já viram de
tudo, já disputaram tudo o
que havia em jogo, não
têm dificuldade para conseguir o que quer que desejem. Querem entrar logo em campo para acabar
com essa chatice.
Mas há os que querem
jogar. Gostam de jogar;
não esquecem o tamanho
do desejo e do esforço que
os trouxe até aqui. Ficam
boquiabertos e emocionados com o gramado, o hino, a platéia, o telão.
Por isso gostei da impaciência do Zagallo, que às
vezes é o Zagallo de sempre: "Todo mundo joga, só
a gente é que não!".
Tem de ter tesão de seminarista; reviver sempre
o gosto incomparável da
primeira vez -e tudo o
que a gente faz é sempre "a
primeira vez". Um rio não
passa duas vezes pelo
mesmo lugar...
Uma fagulha de ansiedade e a mais sólida confiança; o ímpeto de quem
disputa um peneirão e a
leve arrogância de quem
sabe que está entre os melhores do mundo -se o
Brasil entrar em campo
assim, a Copa do Mundo é
nossa.
soninha.folha@uol.com.br
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