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Europa constrói time marfinense
Belga investiu em clube da Costa do Marfim e levou jogadores a seu país, dando-lhes tarimba
DOS ENVIADOS A JOHANNESBURGO
A única seleção africana
que o Brasil vai enfrentar na
primeira fase da Copa-2010
foi formada graças a dinheiro
e métodos europeus.
Doze dos 23 jogadores que
a Costa do Marfim trouxe à
África do Sul foram formados
na academia do clube Mimosas, que nos últimos 20 anos
manteve ligações íntimas
com o time belga Beveren.
A presença maciça de ex-
-jogadores do Mimosas gerou
até um racha no grupo marfinense. De um lado estão
Eboué, Zokora e os irmãos
Touré. Do outro, os revelados
por outros clubes, liderados
por Drogba e Keita.
Foi essa divisão que levou
à saída do técnico Vahid Halilhodzic. "Alguns não queriam jogar com outros", disse
o técnico bósnio ao cair, após
a eliminação na Copa Africana de Nações deste ano.
O sueco Sven-Goran Eriksson, seu substituto, convocou para o Mundial basicamente o mesmo grupo.
Fundado em 1948 e tradicional no país, o Mimosas
passava por grave crise financeira nos anos 90, quando o francês Jean-Marc
Guillou apareceu no país.
Guillou construiu um centro de treinamento para jovens jogadores em Abidjan.
Logo se associou ao Mimosas, do qual viria a ser treinador, diretor e investidor.
Ao longo da década de 90,
Guillou organizou peneiras
para crianças, recrutou e treinou centenas de jovens marfinenses para o Mimosas.
O time virou uma máquina
de ganhar. Ficou mais de
cem jogos invicto. Conquistou a Copa dos Campeões da
África em 1998 com uma
equipe cheia de garotos feitos em casa. Desde 1993, só
não levou o campeonato nacional em 1996, 1999 e 2007.
Em 2001, Guillou mudou-se para a Bélgica. Foi dirigir
o Beveren, um clube médio,
que vivia trocando de divisão
no Campeonato Belga.
Guillou acertou um acordo
de cooperação com o Mimosas e levou consigo vários
dos bons jogadores que havia formado na África.
O Beveren se reergueu.
Não voltou a conquistar o
campeonato nacional como
em 1979 ou 1984, mas chegou
à final da Taça da Bélgica em
2004. Na decisão, em que
perdeu por 4 a 2 para o tradicional e muito mais rico
Brugge, o Beveren escalou 11
estrangeiros: dez marfinenses e o letão Stepanovs.
Por lá passaram o goleiro
Barry, os zagueiros Eboué e
Boka, o volante Yaya Touré,
o meia Romaric, o atacante
Gervinho -todos já estão em
outros clubes europeus, todos estão nesta Copa.
É por isso que a Costa do
Marfim tem uma das seleções
mais rodadas deste Mundial.
Só o time-base acumula 90
anos de experiência no futebol europeu -os titulares da
seleção brasileira somam 70.
A "africanização" do Beveren causou polêmica e gerou
críticas de Michel Platini,
presidente da Uefa, entidade
que comanda o futebol na
Europa. Mas Guillou já começou um projeto semelhante
em Madagascar.
(EDUARDO ARRUDA, MARTÍN FERNANDEZ, PAULO
COBOS E SÉRGIO RANGEL)
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