São Paulo, domingo, 13 de junho de 2010

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Europa constrói time marfinense

Belga investiu em clube da Costa do Marfim e levou jogadores a seu país, dando-lhes tarimba

DOS ENVIADOS A JOHANNESBURGO

A única seleção africana que o Brasil vai enfrentar na primeira fase da Copa-2010 foi formada graças a dinheiro e métodos europeus.
Doze dos 23 jogadores que a Costa do Marfim trouxe à África do Sul foram formados na academia do clube Mimosas, que nos últimos 20 anos manteve ligações íntimas com o time belga Beveren.
A presença maciça de ex- -jogadores do Mimosas gerou até um racha no grupo marfinense. De um lado estão Eboué, Zokora e os irmãos Touré. Do outro, os revelados por outros clubes, liderados por Drogba e Keita.
Foi essa divisão que levou à saída do técnico Vahid Halilhodzic. "Alguns não queriam jogar com outros", disse o técnico bósnio ao cair, após a eliminação na Copa Africana de Nações deste ano.
O sueco Sven-Goran Eriksson, seu substituto, convocou para o Mundial basicamente o mesmo grupo.
Fundado em 1948 e tradicional no país, o Mimosas passava por grave crise financeira nos anos 90, quando o francês Jean-Marc Guillou apareceu no país.
Guillou construiu um centro de treinamento para jovens jogadores em Abidjan. Logo se associou ao Mimosas, do qual viria a ser treinador, diretor e investidor.
Ao longo da década de 90, Guillou organizou peneiras para crianças, recrutou e treinou centenas de jovens marfinenses para o Mimosas.
O time virou uma máquina de ganhar. Ficou mais de cem jogos invicto. Conquistou a Copa dos Campeões da África em 1998 com uma equipe cheia de garotos feitos em casa. Desde 1993, só não levou o campeonato nacional em 1996, 1999 e 2007.
Em 2001, Guillou mudou-se para a Bélgica. Foi dirigir o Beveren, um clube médio, que vivia trocando de divisão no Campeonato Belga.
Guillou acertou um acordo de cooperação com o Mimosas e levou consigo vários dos bons jogadores que havia formado na África.
O Beveren se reergueu. Não voltou a conquistar o campeonato nacional como em 1979 ou 1984, mas chegou à final da Taça da Bélgica em 2004. Na decisão, em que perdeu por 4 a 2 para o tradicional e muito mais rico Brugge, o Beveren escalou 11 estrangeiros: dez marfinenses e o letão Stepanovs.
Por lá passaram o goleiro Barry, os zagueiros Eboué e Boka, o volante Yaya Touré, o meia Romaric, o atacante Gervinho -todos já estão em outros clubes europeus, todos estão nesta Copa.
É por isso que a Costa do Marfim tem uma das seleções mais rodadas deste Mundial. Só o time-base acumula 90 anos de experiência no futebol europeu -os titulares da seleção brasileira somam 70.
A "africanização" do Beveren causou polêmica e gerou críticas de Michel Platini, presidente da Uefa, entidade que comanda o futebol na Europa. Mas Guillou já começou um projeto semelhante em Madagascar. (EDUARDO ARRUDA, MARTÍN FERNANDEZ, PAULO COBOS E SÉRGIO RANGEL)


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