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Cidade de INTERIOR
Com uma rua que vai, outra que vem, pracinha, igreja, delegacia e farmácia, Maratona é um vilarejo de 8.000 pessoas em que o subprefeito, em seu Mercedes azul-marinho, vira guia turístico
PAULO SAMPAIO
ENVIADO ESPECIAL A MARATONA
Antes de começar a caminhada,
foto da Prefeitura de Maratona. O
prédio está fechado, porque é hora da sesta (depois das 15h, a Grécia volta para casa, põe o pijama e
dorme). Como a rua é muito estreita, só entrando na casa do vizinho da frente para conseguir o recuo necessário para o enquadramento das bandeiras do país e da
cidade. A casa, típica do interior,
poderia estar em São José do Rio
Preto ou Lins. Muro baixo, jardinzinho na frente, varanda, paredes
brancas e janelas verdes.
Pouco depois do toque da campainha, vem de dentro uma voz
alta de homem perguntando
"Piós íne re?", algo como "Quem
é, pô!?". Como só ouve resposta
em inglês, o senhor de cerca de 70
anos abre a porta nos trajes em
que está: camiseta regata e cueca.
Mal humorado, ele responde levantando o queixo seguidamente
(é como os gregos dizem "não").
A foto é tirada da rua mesmo, na
diagonal.
Maratona é um vilarejo de apenas 8.000 habitantes, duas ruas
principais, uma que vai, outra que
vem, igreja, pracinha e delegacia.
A dona da farmácia, Sophia Mexi,
como a maioria dos gregos, adora
conversar.
"Meu primo é subprefeito da cidade, se você quiser, posso colocá-lo em contato", diz.
Ela indica onde fica o
café do primo, em uma
praia a 4 km dali. Spiridos Zagari não está, mas
é possível imaginar sua
figura pela decoração do
café, que se chama Claqueta. Há réplicas em
cera, no tamanho natural, de Charlie Chaplin,
Humphrey Bogart, Elvis
Presley e dois gângsteres
-estes sentados em
uma das mesas da varanda. A decoração mistura barcos a remo no
teto, botas de esqui, um
sofá feito da traseira de
um Chevrolet rabo-de-peixe vermelho, e as paredes estão cheias de fotos de artistas de cinema, incluindo, vejam só,
o internacional Murilo
Benício (em "Sabor da Paixão").
Avisado pelo telefone de que há
um jornalista esperando, Zagari
chega ao café em cinco minutos.
O subprefeito de Maratona dirige
um Mercedes muito novo azul-marinho e sai do carro carregando dois celulares e cumprimentando todos que estão nas mesas
-há algo de familiar na cena. "Yà
sas" ("Olá para todos"), ele diz.
Depois de explicar que Maratona não é só o vilarejo, mas abrange também a pequena praia que
fica defronte à praça ao lado do
café e ainda um lago que se acessa
por uma serra no fim da cidade,
ele pega um mapa para mostrar.
Drinques à beira-mar
A praia tem águas sem ondas,
muito limpas, e mesas sob tendas
grandes, cobertas com toalhas,
onde se bebe na beira do mar. Há
alguns barcos de pescador ancorados, lanchas maiores, famílias
na areia, e a vista a partir dali é
uma imensa curva de litoral em
direção ao sul.
O lago fica do outro lado da cidade, a cerca de 6 km ao norte:
tem, segundo Zagari, 8,5 km de
perímetro, é cercado por farta vegetação e atravessado por uma
ponte antiga de pedra por onde só
é possível passar um carro por
vez. Há belvederes para se observar a área do alto, de onde a vista é
paradisíaca.
Na saída da cidade está o ponto
de partida da prova de Maratona,
uma pista de 300 metros
onde os atletas, depois
de um aquecimento em
um estádio que fica ao
lado, posarão para fotógrafos e repórteres, antes
de dar a largada (dia 22,
as mulheres, dia 29, os
homens), segundo conta
Spiridoula "Lola" Filipatou, voluntária que mostra as instalações.
Será mesmo necessário aquecimento neste
calor? "Engraçadinho
você", ela diz, rindo.
Faz 36ºC, mas para
quem anda no asfalto
parece mais. Se a reportagem fosse no Rio, sobre o verão carioca, certamente alguém teria
(outra vez) a idéia de fritar um ovo no chão.
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