São Paulo, sexta-feira, 13 de agosto de 2004

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Cidade de INTERIOR

Com uma rua que vai, outra que vem, pracinha, igreja, delegacia e farmácia, Maratona é um vilarejo de 8.000 pessoas em que o subprefeito, em seu Mercedes azul-marinho, vira guia turístico

PAULO SAMPAIO
ENVIADO ESPECIAL A MARATONA

Antes de começar a caminhada, foto da Prefeitura de Maratona. O prédio está fechado, porque é hora da sesta (depois das 15h, a Grécia volta para casa, põe o pijama e dorme). Como a rua é muito estreita, só entrando na casa do vizinho da frente para conseguir o recuo necessário para o enquadramento das bandeiras do país e da cidade. A casa, típica do interior, poderia estar em São José do Rio Preto ou Lins. Muro baixo, jardinzinho na frente, varanda, paredes brancas e janelas verdes.
Pouco depois do toque da campainha, vem de dentro uma voz alta de homem perguntando "Piós íne re?", algo como "Quem é, pô!?". Como só ouve resposta em inglês, o senhor de cerca de 70 anos abre a porta nos trajes em que está: camiseta regata e cueca. Mal humorado, ele responde levantando o queixo seguidamente (é como os gregos dizem "não").
A foto é tirada da rua mesmo, na diagonal.
Maratona é um vilarejo de apenas 8.000 habitantes, duas ruas principais, uma que vai, outra que vem, igreja, pracinha e delegacia. A dona da farmácia, Sophia Mexi, como a maioria dos gregos, adora conversar.
"Meu primo é subprefeito da cidade, se você quiser, posso colocá-lo em contato", diz.
Ela indica onde fica o café do primo, em uma praia a 4 km dali. Spiridos Zagari não está, mas é possível imaginar sua figura pela decoração do café, que se chama Claqueta. Há réplicas em cera, no tamanho natural, de Charlie Chaplin, Humphrey Bogart, Elvis Presley e dois gângsteres -estes sentados em uma das mesas da varanda. A decoração mistura barcos a remo no teto, botas de esqui, um sofá feito da traseira de um Chevrolet rabo-de-peixe vermelho, e as paredes estão cheias de fotos de artistas de cinema, incluindo, vejam só, o internacional Murilo Benício (em "Sabor da Paixão").
Avisado pelo telefone de que há um jornalista esperando, Zagari chega ao café em cinco minutos. O subprefeito de Maratona dirige um Mercedes muito novo azul-marinho e sai do carro carregando dois celulares e cumprimentando todos que estão nas mesas -há algo de familiar na cena. "Yà sas" ("Olá para todos"), ele diz.
Depois de explicar que Maratona não é só o vilarejo, mas abrange também a pequena praia que fica defronte à praça ao lado do café e ainda um lago que se acessa por uma serra no fim da cidade, ele pega um mapa para mostrar.

Drinques à beira-mar
A praia tem águas sem ondas, muito limpas, e mesas sob tendas grandes, cobertas com toalhas, onde se bebe na beira do mar. Há alguns barcos de pescador ancorados, lanchas maiores, famílias na areia, e a vista a partir dali é uma imensa curva de litoral em direção ao sul.
O lago fica do outro lado da cidade, a cerca de 6 km ao norte: tem, segundo Zagari, 8,5 km de perímetro, é cercado por farta vegetação e atravessado por uma ponte antiga de pedra por onde só é possível passar um carro por vez. Há belvederes para se observar a área do alto, de onde a vista é paradisíaca.
Na saída da cidade está o ponto de partida da prova de Maratona, uma pista de 300 metros onde os atletas, depois de um aquecimento em um estádio que fica ao lado, posarão para fotógrafos e repórteres, antes de dar a largada (dia 22, as mulheres, dia 29, os homens), segundo conta Spiridoula "Lola" Filipatou, voluntária que mostra as instalações.
Será mesmo necessário aquecimento neste calor? "Engraçadinho você", ela diz, rindo.
Faz 36ºC, mas para quem anda no asfalto parece mais. Se a reportagem fosse no Rio, sobre o verão carioca, certamente alguém teria (outra vez) a idéia de fritar um ovo no chão.


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