São Paulo, domingo, 13 de agosto de 2006

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TOSTÃO

Extinto sem ter existido

A função de coordenador técnico da seleção brasileira deveria ser outra, diferente de como foi exercida desde 1994

DUNGA dispensou, pelo menos até agora, a presença de um coordenador técnico. Como disse o João Paulo Medina, o fim do cargo, como era exercido, não fará falta. O cargo foi extinto sem nunca ter existido.
Não se deve confundir o coordenador técnico com o supervisor, gerente, como Américo Faria e outros, que coordenam a logística, a burocracia da seleção e dos clubes. Nem com o auxiliar, que ajuda o treinador, nem com o diretor cartola.
O coordenador técnico deveria ser chamado primeiro, e ele escolheria o treinador. Os dois formariam a comissão técnica.
Se o coordenador existisse de verdade, suas funções seriam as de planejar, liderar a comissão técnica, melhorar a sua eficiência, cobrar resultados e discutir as decisões, sendo que a palavra final sobre a escalação, os treinamentos e outras questões de campo seria do treinador e de cada especialista na sua área.
Seria necessário que o coordenador tivesse vivência e conhecimentos não só do futebol mas também de áreas afins, principalmente na área humana. Como se vê, o coordenador é um profissional imaginário, quase utópico, que talvez nunca tenha existido. Em 94, Zagallo era um amigo, um sincero e franco conselheiro que ajudou bastante Parreira, e não um coordenador. Zico não tinha função no Mundial de 98, quando foi imposto pela CBF ao Zagallo, que teve de engoli-lo. Em 2002, a única função conhecida do Antônio Lopes era beijar as medalhas com muita fé.
Neste ano, Zagallo não tinha mais condições de ser o observador e o conselheiro de Parreira.
Após a saída de Leão durante as eliminatórias para a Copa-02, fui convidado para ser o coordenador da seleção. Eu escolheria o técnico.
Fiquei com uma grande vontade de aceitar. Era um trabalho que me seduzia -não me seduz mais- e tinha a convicção ou a ilusão de que exerceria bem o cargo. Por outro lado, poderia sair logo, já que tentaria mudar muitas coisas.
Apesar de ser um cargo técnico, recusei porque criticava a CBF -não seria coerente-, além de ser um cargo de confiança de um presidente que era acusado de graves irregularidades pelas CPIs. Não me arrependo. Recusaria novamente.

Erros e acertos
A expulsão do Josué no início do jogo prejudicou bastante o São Paulo, mas não foi a única razão da brilhante e justa vitória do Inter. O jogo foi uma sucessão de erros e de acertos dos técnicos e jogadores.
Como Casagrande disse logo após a expulsão do Josué, Muricy Ramalho deveria ter colocado outro atleta no meio-campo e retirado o terceiro zagueiro. O Inter, que tinha um jogador a mais no meio-campo com a inteligente escalação de Abel Braga, que trocou o terceiro zagueiro por um quarto armador, ficou com dois a mais no setor.
Mas o time não aproveitou a grande vantagem no primeiro tempo. Mesmo com a expulsão do Fabinho, o São Paulo parecia ter menos jogadores, já que eles, principalmente Leandro, estavam exaustos pelo grande esforço que fizeram no primeiro tempo por causa do jogador a menos. Além disso, Mineiro, contundido, teve de jogar mais atrás, fora de suas características.
No segundo tempo, o Inter comandava o jogo no meio-campo, tinha grandes chances de fazer o terceiro e definir o título, mas quase sofreu o empate depois que, coincidentemente ou não, Abel trocou um armador por um terceiro zagueiro. Se o São Paulo tivesse empatado -teve chance-, Abel seria hoje bastante criticado. Mas, no futebol, as análises são feitas após o resultado. Ou é assim mesmo, já que dizem que a história é sempre escrita pelos vencedores?


tostao.folha@uol.com.br

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