São Paulo, segunda-feira, 13 de setembro de 2004

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VÔLEI

Império brasileiro

CIDA SANTOS
COLUNISTA DA FOLHA

O ouro do Brasil em Atenas marcou o início de um novo ciclo no vôlei masculino: havia 16 anos que uma seleção não ganhava, na seqüência, um título mundial e olímpico. Com as duas conquistas, os brasileiros quebram a tendência dos anos 90 e de 2000: a de as seleções se alternarem no pódio.
O último grande domínio no mundo do vôlei masculino havia sido o dos EUA. Quem não se lembra do poderoso time do craque Karch Kiraly, que de 1984 a 1988 ganhou tudo o que disputou? Eles foram campeões mundiais e bicampeões olímpicos.
Nos anos 60 e no final dos 70, o poder foi dos soviéticos. De 1960 a 1968, foram bicampeões olímpicos e mundiais. Em 1978, com o levantador Zaitsev, a então URSS ganhou mais um título mundial. Em 1980, foi campeã olímpica e, em 1982, bicampeã mundial. O império caiu no Mundial de 86 com a derrota para os EUA.
O outro país a conseguir a dobradinha foi a Polônia. No início da década de 70, a equipe, do gigante Tomasz Wójtowicz, o primeiro jogador a atacar a bola detrás na linha dos 3 m, fez história. Em 1974, foi campeã mundial, no México, e, em 1976, ganhou o ouro olímpico em Montréal.
Ok, você pode lembrar que nos anos 90 a Itália venceu três Mundiais seguidos (90, 94 e 98) e foi oito vezes campeã da Liga Mundial. Mas o time de Giani, Bernardi e Gardini sempre ficou marcado por uma áurea de fracasso por nunca ter conquistado o ouro olímpico. Foi um campeão com pés de barro.
Já os três campeões olímpicos anteriores aos Jogos de Atenas também não conseguiram se firmar. O Brasil, de Tande, Giovane, Maurício, Negrão, Carlão e Paulão, foi ouro nos Jogos de Barcelona, em 1992, e campeão da Liga Mundial, em 1993. Mas, no Mundial de 96, o time tropeçou: ficou em quinto lugar.
Os outros dois campeões olímpicos, Holanda, em 1996, e a então Iugoslávia, em 2000, também não conseguiram chegar ao título no Mundial seguinte. Os gigantes holandeses, liderados pelo levantador Peter Blangé, ficaram em sexto no Mundial de 98. Os ainda iugoslavos acabaram em quarto em 2002, na Argentina.
O Brasil agora conseguiu romper esse círculo e chegou à dobradinha mundial e olímpica. E um dos fatores para esse sucesso são as tais "zonas de desconforto" criadas pelo técnico Bernardinho. Para ele, não existe o acomodamento, o conformismo com as vitórias já alcançadas.
Logo depois da conquista do título olímpico, o técnico já mostrava preocupação. Olha só o que ele disse: "Os próximos quatro anos serão piores. Seremos campeões mundiais e olímpicos, a cobrança será maior. Será que estamos dispostos a continuar pagando esse preço?".
O alto grau de exigência, a competência de Bernardinho, o talento do time, um levantador brilhante e um líbero que é um show deram como resultado o ouro olímpico. Agora é esperar as próximas competições, mas com certeza dá para afirmar: nestes anos 2000, não existe uma seleção melhor do que a do Brasil.

Vida nova 1
Nalbert fará hoje seu primeiro treino no Banespa. O atacante, que nas últimas temporadas atuou na Itália e no Japão, voltou ao Brasil para encerrar a carreira nas quadras. Depois, irá jogar na praia. Campeão mundial, da Copa do Mundo, da Liga Mundial e olímpico, Nalbert lutará por um dos poucos títulos que não tem: o de campeão brasileiro. Irá estrear nos Jogos Abertos do Interior, em Barretos.

Vida nova 2
O levantador Ricardinho faz caminho inverso ao de Nalbert: dia 26 estréia no Campeonato Italiano e inicia a primeira temporada fora do país. No Modena, terá um grande técnico: Júlio Velasco, bicampeão do mundo com a Itália. Além de Ricardinho, outros dois brasileiros vão jogar no time: Dante e Felipe Chupita.

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