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São Paulo, segunda-feira, 13 de outubro de 2003

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Ferrarista ganha o sexto Mundial, bate recorde de Fangio e passa a ser o novo parâmetro das pistas

Schumacher zera a história da F-1

FÁBIO SEIXAS
ENVIADO ESPECIAL A SUZUKA

Eram 20h15 em Suzuka, no Japão. O escritório número 107 do autódromo japonês estava esfumaçado. Entre uma gargalhada e outra, Michael Schumacher, 34, dava uma baforada em um charuto. Na cabeça, um boné vermelho com letras douradas: "seis vezes campeão mundial de F-1".
Um título épico. Inédito. Mítico. Emblemático. E, uma novidade na carreira do alemão, sofrido.
Schumacher precisava de apenas um ponto, ou uma oitava posição, na madrugada de ontem, em Suzuka, para conquistar o hexacampeonato. Caso falhasse, teria que torcer para que Kimi Raikkonen, seu único adversário na disputa, não vencesse a prova.
Como que para aumentar o peso e a dramaticidade da conquista, foi tudo no limite. O alemão terminou em oitavo lugar, o finlandês foi o segundo colocado.
A vitória foi de Rubens Barrichello, que, além de ajudar no título do companheiro de Ferrari, selou a conquista do 13º Mundial de Construtores da escuderia.
Há, na história do esporte, marcas, fatos e personagens que parecem eternos, imbatíveis. De uma só vez, Schumacher e a Ferrari superaram dois desses mitos.
O alemão bateu Juan Manuel Fangio, o lendário argentino que conquistou cinco títulos na década de 50 e que há 46 anos mantinha intacta a condição de maior campeão da história da F-1.
O pentacampeonato de Fangio em 51, 54, 55, 56 e 57 resistiu a homens velozes como Jim Clark e Ayrton Senna. A pilotos cerebrais como Alain Prost e Niki Lauda. Sucumbiu ontem a Schumacher, talvez pelo fato de o alemão unir, como ninguém, esses dois valores tão caros no esporte a motor.
A Ferrari superou a McLaren do final dos anos 80, da dupla Senna-Prost, uma formação mágica para os torcedores da F-1.
O time inglês conseguiu quatro Mundiais de Construtores seguidos, entre 88 e 91, outra marca que parecia inatingível, imbatível.
Parecia. A Ferrari de Schumacher-Barrichello sacramentou ontem sua quinta conquista seguida. Desde 99, apenas a escuderia italiana comemorou o título.
"É difícil falar sobre o que estou sentindo. Mas o que a equipe conseguiu é simplesmente fantástico. Se você lembrarem do que aconteceu na Alemanha e na Hungria, das dúvidas que começaram a surgir... E aqui nós estamos, comemorando. Nós nunca desistimos, nós sempre lutamos. Todos na Ferrari são assim. É uma família e me orgulho de fazer parte dela", disse o alemão.
Algo raro nos seus 194 domingos de F-1, Schumacher chorou ontem. A continuação de um choro que começou no GP da Itália de 2000, quando igualou as 41 vitórias de Senna e que ressurgiu na França, em 2002, quando bateu o tetracampeonato de Prost.
Daqui para a frente, não há muito porque chorar. Falta apenas uma marca para o alemão destruir, o recorde de 65 poles de Senna. E ele terá tempo para isso.
Com contrato assinado com a Ferrari até o final de 2006, Schumacher não só poderá bater esse derradeiro recorde como certamente irá ampliar vários outros.
Era final de noite em Suzuka quando Schumacher deixou o autódromo. Encharcado de champanhe, charuto na mão, sujo com ovo, mostarda e catchup. Nem parecia um deus do esporte.



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