São Paulo, quinta-feira, 13 de outubro de 2005

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FUTEBOL

Vencer ou não vencer, eis a questão!

JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA

Imagino Hamlet andando por seu palácio com uma bola de futebol meio murcha nas mãos e dizendo: "Vencer ou não vencer, eis a questão!".
No Campeonato Brasileiro, esta é a regra. Agora só há a vitória e a não-vitória. Empates e derrotas são a mesma coisa. Ou quase. Com a mudança do valor de cada triunfo para três pontos, os empates são praticamente desprezíveis. Servem apenas de desempate (sem trocadilho) no caso de número igual de vitórias. De qualquer forma, empates e derrotas são, hoje, praticamente a mesma coisa. Se não para o coração do torcedor, que muitas vezes sai aliviado com um placar igual para os dois lados, pelo menos para a tabela.
Se o leitor der uma olhada na colocação dos clubes na velha tábua de pontos, vai entender melhor o parágrafo acima. O líder é o Corinthians, com 18 vitórias. Atrás dele vem o Goiás, com 17, depois Internacional e Palmeiras, com 15, Paraná e Fluminense, com 14, Santos, com 13, Atlético-PR, com 12, e por aí vai.
Ou seja, quase sem exceções (Cruzeiro, Figueirense e Flamengo, com 9, 9 e 10 empates, ultrapassam concorrentes com uma vitória a mais), a tabela de classificação segue exatamente o número de vitórias.
"E daí?", devem estar se perguntando o sagaz leitor e a perspicaz leitora.
E daí, respondo-vos, que isto trouxe, e ainda está trazendo, muitas mudanças para o futebol. Ele está buscando mais o ataque, fazendo mais gols e sendo mais disputado. Já não se vê aquela acomodação que era comum nas partidas que chegavam empatadas aos 35 minutos do segundo tempo (vide o Fluminense ontem, que marcou aos 45 e aos 47 do 2º tempo). Acabaram-se aquelas preguiçosas trocas de bola, aquela lentidão paquidérmica para cobrar um tiro de meta, aquele pacto de paz implícito entre os dois times, aquele zero a zero bocejante. Ou, pelo menos, estão diminuindo. A tendência é que percebamos cada vez mais claramente que o empate já não é uma quase vitória, mas sim uma quase derrota.
Talvez esta regra dos três pontos, esta lei antimonotonia, esta nova ojeriza ao empate, valha também para outras coisas. Na política, por exemplo, Lula não jogou no ataque contra os problemas sociais e preferiu se manter na defesa (dos juros). Resultado: ficou parecido com Fernando Henrique, que só empatou no governo. Se eles tivessem corrido atrás dos três pontos, as coisas hoje estariam diferentes.
E assim também no amor, que não deve dar só cama quentinha, mas prazer e dor; e no trabalho, que não deve dar só dinheiro, mas felicidade.
Opa! Lendo a linha acima percebi que plagiei um verso daquela música dos Titãs que diz: "A gente não quer só comer,/ a gente quer prazer pra aliviar a dor./ A gente não quer só dinheiro,/ a gente quer dinheiro e felicidade". Aliás, um belo hino anti-empate.
Como diria um Hamlet boleiro: "Vamos jogar para vencer. O resto é silêncio".

Botafogos
Pode ser uma triste ironia, mas em dois jogos de Botafogos houve tiros este ano. No caso do time paraibano, Jocem Alves foi atingido pelo seu próprio 38. A primeira versão para o tiro diz que Jocem estava com a arma na cintura, que disparou acidentalmente. A segunda diz que, após discutir com um torcedor adversário e pegar a arma, um companheiro teria puxado sua mão, e ele acabou atingido pelo tiro. Já em relação ao Botafogo carioca, no último fim de semana, Wilson Pompeo de Araújo, 29, morreu em conseqüência dos tiros disparados pelo soldado Ademilton da Mota, da PM. Imaginem se alguém na torcida botafoguense tivesse um revólver à mão. Por estas e outras, e como sou contra botar fogo nos outros, votarei "Sim" no plebiscito.


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