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FUTEBOL
Vencer ou não vencer, eis a questão!
JOSÉ ROBERTO TORERO
COLUNISTA DA FOLHA
Imagino Hamlet andando
por seu palácio com uma bola
de futebol meio murcha nas mãos
e dizendo: "Vencer ou não vencer,
eis a questão!".
No Campeonato Brasileiro, esta
é a regra. Agora só há a vitória e a
não-vitória. Empates e derrotas
são a mesma coisa. Ou quase.
Com a mudança do valor de cada
triunfo para três pontos, os empates são praticamente desprezíveis.
Servem apenas de desempate
(sem trocadilho) no caso de número igual de vitórias. De qualquer forma, empates e derrotas
são, hoje, praticamente a mesma
coisa. Se não para o coração do
torcedor, que muitas vezes sai aliviado com um placar igual para
os dois lados, pelo menos para a
tabela.
Se o leitor der uma olhada na
colocação dos clubes na velha tábua de pontos, vai entender melhor o parágrafo acima. O líder é
o Corinthians, com 18 vitórias.
Atrás dele vem o Goiás, com 17,
depois Internacional e Palmeiras,
com 15, Paraná e Fluminense,
com 14, Santos, com 13, Atlético-PR, com 12, e por aí vai.
Ou seja, quase sem exceções
(Cruzeiro, Figueirense e Flamengo, com 9, 9 e 10 empates, ultrapassam concorrentes com uma vitória a mais), a tabela de classificação segue exatamente o número de vitórias.
"E daí?", devem estar se perguntando o sagaz leitor e a perspicaz
leitora.
E daí, respondo-vos, que isto
trouxe, e ainda está trazendo,
muitas mudanças para o futebol.
Ele está buscando mais o ataque,
fazendo mais gols e sendo mais
disputado. Já não se vê aquela
acomodação que era comum nas
partidas que chegavam empatadas aos 35 minutos do segundo
tempo (vide o Fluminense ontem,
que marcou aos 45 e aos 47 do 2º
tempo). Acabaram-se aquelas
preguiçosas trocas de bola, aquela
lentidão paquidérmica para cobrar um tiro de meta, aquele pacto de paz implícito entre os dois times, aquele zero a zero bocejante.
Ou, pelo menos, estão diminuindo. A tendência é que percebamos
cada vez mais claramente que o
empate já não é uma quase vitória, mas sim uma quase derrota.
Talvez esta regra dos três pontos, esta lei antimonotonia, esta
nova ojeriza ao empate, valha
também para outras coisas. Na
política, por exemplo, Lula não
jogou no ataque contra os problemas sociais e preferiu se manter
na defesa (dos juros). Resultado:
ficou parecido com Fernando
Henrique, que só empatou no governo. Se eles tivessem corrido
atrás dos três pontos, as coisas hoje estariam diferentes.
E assim também no amor, que
não deve dar só cama quentinha,
mas prazer e dor; e no trabalho,
que não deve dar só dinheiro,
mas felicidade.
Opa! Lendo a linha acima percebi que plagiei um verso daquela
música dos Titãs que diz: "A gente não quer só comer,/ a gente
quer prazer pra aliviar a dor./ A
gente não quer só dinheiro,/ a
gente quer dinheiro e felicidade".
Aliás, um belo hino anti-empate.
Como diria um Hamlet boleiro:
"Vamos jogar para vencer. O resto é silêncio".
Botafogos
Pode ser uma triste ironia, mas
em dois jogos de Botafogos
houve tiros este ano. No caso
do time paraibano, Jocem Alves foi atingido pelo seu próprio 38. A primeira versão para
o tiro diz que Jocem estava com
a arma na cintura, que disparou
acidentalmente. A segunda diz
que, após discutir com um torcedor adversário e pegar a arma, um companheiro teria puxado sua mão, e ele acabou
atingido pelo tiro. Já em relação
ao Botafogo carioca, no último
fim de semana, Wilson Pompeo de Araújo, 29, morreu em
conseqüência dos tiros disparados pelo soldado Ademilton da
Mota, da PM. Imaginem se alguém na torcida botafoguense
tivesse um revólver à mão. Por
estas e outras, e como sou contra botar fogo nos outros, votarei "Sim" no plebiscito.
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