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Refém das organizadas, Itália paralisa futebol
Após morte de torcedor, governo pede e cartolas adiam rodada das Séries B e C
Relação promíscua entre clubes e fãs violentos turbina violência no país, cujo Nacional é, entre os grandes, o de menor público
PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL
Depois da morte de um torcedor, da Lazio, anteontem, a
violência mais uma vez parou o
futebol na Itália -a rodada do
próximo final de semana da segunda e terceira divisão foram
adiadas (a primeira já não teria
jogos por causa da Eurocopa).
Isso depois de um ato da ministra dos Esportes, Giovanna
Melandri, que pediu um "gesto
forte" dos cartolas.
Mas só fazer a bola parar de
rolar não é suficiente. Em nenhum outro país da Europa a
violência nos estádios é tão
complexa como no atual campeão mundial, que tem o Nacional de menor público entre os
grandes da Europa.
Os clubes são "reféns" de torcidas organizadas que a cada
dia sofisticam suas ações -até
viagens para observar ações
dos hooligans ingleses fazem
parte do "treinamento".
A comparação com a Inglaterra, aliás, deixa claro o quanto
o problema italiano é complicado. Os hooligans brigam muito,
mas são anônimos e geralmente agem em pequenos grupos.
Os "ultra", como são conhecidos os vândalos italianos, tem
um nível de organização que
transforma seus líderes em verdadeiras celebridades.
O velório de Paulo Zappavigna (morreu em um acidente de
moto), líder da principal facção
da Roma, teve até a presença de
jogadores do clube, incluindo o
ídolo e craque Totti.
Eles não se importaram com
a ação fascista de Zappavigna,
que foi um dos responsáveis em
transformar a torcida do clube
da capital em campeã de violência. Fãs ingleses do Middlesbrough e do Manchester United foram esfaqueados e apanharam feio em confrontos recentes no estádio Olímpico.
Zappavigna ganhou fama e
dinheiro graças a um promíscuo relacionamento entre os
torcedores violentos e os clubes. Como acontece em muitos
times brasileiros, eles ganham
ingressos e o direito de usar
símbolos do clube na venda
produtos próprios.
Quem tenta quebrar o ciclo é
ameaçado. Quando comprou a
Lazio, Claudio Lotito resolveu
acabar com a distribuição de
800 ingressos para os "ultra" e
um repasse de 25 mil (cerca
de R$ 64 mil) mensais para a
principal organizada do time.
A ação fez sua mulher ser
ameaçada. Mostrando poderio
econômico, o grupo tentou
comprar o clube. Mandou um
recado a Lotito. "É melhor você
vender. Você sabe o que é bom
para você", ameaçou a organizada, que acabou com quatro
integrantes presos.
Os "ultra" já tiveram acesso à
federação italiana. Em 2005,
uma comissão deles foi até a
entidade cobrar que a Itália
não tomasse o caminho da Inglaterra, que praticamente resolveu o problema na violência
com uma fórmula que tinha ingressos bastante caros como
um de seus pilares.
Política e polícia também estão no centro da discussão envolvendo os "ultra".
Quase todos esses grupos são
ligados a organizações extremistas -na maioria esmagadora de direita e racistas.
A polícia é acusada de não interferir nas áreas destinadas a
esses grupos nos estádios.
Quando seus torcedores foram
massacrados, a diretoria do
Manchester United reclamou
justamente da ação das forças
de segurança italianas, que teriam deixados os fãs dos times
ingleses desprotegidos.
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