São Paulo, terça-feira, 13 de novembro de 2007

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Refém das organizadas, Itália paralisa futebol

Após morte de torcedor, governo pede e cartolas adiam rodada das Séries B e C

Relação promíscua entre clubes e fãs violentos turbina violência no país, cujo Nacional é, entre os grandes, o de menor público

PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Depois da morte de um torcedor, da Lazio, anteontem, a violência mais uma vez parou o futebol na Itália -a rodada do próximo final de semana da segunda e terceira divisão foram adiadas (a primeira já não teria jogos por causa da Eurocopa).
Isso depois de um ato da ministra dos Esportes, Giovanna Melandri, que pediu um "gesto forte" dos cartolas.
Mas só fazer a bola parar de rolar não é suficiente. Em nenhum outro país da Europa a violência nos estádios é tão complexa como no atual campeão mundial, que tem o Nacional de menor público entre os grandes da Europa.
Os clubes são "reféns" de torcidas organizadas que a cada dia sofisticam suas ações -até viagens para observar ações dos hooligans ingleses fazem parte do "treinamento".
A comparação com a Inglaterra, aliás, deixa claro o quanto o problema italiano é complicado. Os hooligans brigam muito, mas são anônimos e geralmente agem em pequenos grupos.
Os "ultra", como são conhecidos os vândalos italianos, tem um nível de organização que transforma seus líderes em verdadeiras celebridades.
O velório de Paulo Zappavigna (morreu em um acidente de moto), líder da principal facção da Roma, teve até a presença de jogadores do clube, incluindo o ídolo e craque Totti.
Eles não se importaram com a ação fascista de Zappavigna, que foi um dos responsáveis em transformar a torcida do clube da capital em campeã de violência. Fãs ingleses do Middlesbrough e do Manchester United foram esfaqueados e apanharam feio em confrontos recentes no estádio Olímpico.
Zappavigna ganhou fama e dinheiro graças a um promíscuo relacionamento entre os torcedores violentos e os clubes. Como acontece em muitos times brasileiros, eles ganham ingressos e o direito de usar símbolos do clube na venda produtos próprios.
Quem tenta quebrar o ciclo é ameaçado. Quando comprou a Lazio, Claudio Lotito resolveu acabar com a distribuição de 800 ingressos para os "ultra" e um repasse de 25 mil (cerca de R$ 64 mil) mensais para a principal organizada do time.
A ação fez sua mulher ser ameaçada. Mostrando poderio econômico, o grupo tentou comprar o clube. Mandou um recado a Lotito. "É melhor você vender. Você sabe o que é bom para você", ameaçou a organizada, que acabou com quatro integrantes presos.
Os "ultra" já tiveram acesso à federação italiana. Em 2005, uma comissão deles foi até a entidade cobrar que a Itália não tomasse o caminho da Inglaterra, que praticamente resolveu o problema na violência com uma fórmula que tinha ingressos bastante caros como um de seus pilares.
Política e polícia também estão no centro da discussão envolvendo os "ultra".
Quase todos esses grupos são ligados a organizações extremistas -na maioria esmagadora de direita e racistas.
A polícia é acusada de não interferir nas áreas destinadas a esses grupos nos estádios. Quando seus torcedores foram massacrados, a diretoria do Manchester United reclamou justamente da ação das forças de segurança italianas, que teriam deixados os fãs dos times ingleses desprotegidos.


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