São Paulo, sexta-feira, 13 de novembro de 2009

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Parceiros devassam a seleção

A troco de faturamento, CBF abre a intimidade da equipe para patrocinadores e organizadores de jogos

Ações de marketing preveem até ligação de jogadores da equipe para ganhadores de concurso criado por banco parceiro

PAULO COBOS
ENVIADO ESPECIAL A DOHA

A CBF nunca faturou tanto com a seleção brasileira como agora. Mas isso tem um preço para a privacidade do time.
A partir do amistoso de amanhã, contra a Inglaterra, no Qatar, até março, quando a equipe faz a última partida preparatória antes da convocação final para a Copa de 2010, patrocinadores e organizadores dos jogos planejam ações que, pelo histórico do treinador, vão irritar Dunga profundamente.
A coisa até que começa leve. O jogo contra os ingleses é organizado e bancado pela rede de TV Al Jazeera, que gasta o equivalente a quase R$ 16 milhões no evento (é ela, por exemplo, que cobre todas as despesas de deslocamento e hospedagem das equipes).
E seus funcionários dizem que, por contrato, os jogadores da seleção terão que participar de cenas para a gravação de um DVD sobre o amistoso e alguns jogadores irão conceder entrevistas exclusivas -prática banida por Dunga nas outras exibições de sua equipe pelo planeta.
Mas são os próprios patrocinadores da CBF, responsáveis pela fato de a entidade ter hoje um faturamento superior a R$ 200 milhões por ano (seguramente entre os maiores de sua história), os que planejam as maiores "invasões" ao ambiente da seleção brasileira até a Copa do Mundo da África do Sul, que começará em 11 de junho do ano que vem.
O projeto mais ambicioso é do Itaú, que paga mais de R$ 25 milhões anuais para patrocinar a seleção brasileira. O banco tem tendas instaladas na Granja Comary quando a equipe treina no Brasil.
O Itaú lançou uma campanha chamada "Você com a seleção" que planeja levar cinco torcedores a um amistoso do time no próximo ano, em março próximo, provavelmente na Europa. E, segundo o regulamento da campanha, com mimos que vão fazer Dunga se irritar bastante.
Primeiro, os vencedores serão avisados do prêmio em um telefonema de um jogador da seleção. Depois, serão "recepcionados" por outro atleta para receber uniformes oficiais. Ainda terão direito a assistir ao reconhecimento do gramado do amistoso. Por fim, irão ganhar uma sessão de autógrafos com três atletas que, pelo que diz o regulamento, os atenderão numa entrevista coletiva.
Por meio de sua assessoria, a CBF diz que as ações com os jogadores devem ser negociadas entre o Itaú e os próprios atletas. Quanto a outros itens da promoção já divulgados e que envolvem diretamente a seleção, a confederação diz que não tinha detalhes sobre o caso até o fechamento desta edição.
Falta de comunicação mais latente aparece no prêmio de outro patrocinador da seleção.
A rede de supermercados Extra lançou uma campanha que vai premiar os sorteados com uma viagem para acompanhar os treinos da seleção em Teresópolis entre dezembro próximo e março de 2010.
Detalhe: a seleção não tem previsão alguma de ocupar a Granja Comary no período -o único amistoso autorizado pela Fifa nessas datas está programado para a Europa.
Tanto como jogador quando como treinador Dunga já deu demonstrações de irritação com a ação de patrocinadores. Na Copa de 1998, disparou contra um evento da Nike durante a preparação para o Mundial da França -de onde saiu às pressas e sem dar entrevistas.
Em setembro passado, Dunga criticou tendas montadas na Granja Comary para os patrocinadores da CBF receberem seus convidados. "Criam um circo e vamos para dentro do picadeiro", disse ele na época.


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