São Paulo, domingo, 13 de dezembro de 2009

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PM é qualificada, mas exagera, diz tese

Estudo de mestrado analisa briga ocorrida no Couto Pereira dez anos antes de invasão de torcedores, há uma semana

Para pesquisador, policiais estão qualificados, porém cometem excessos em determinadas situações, frutos de carga emocional

LUCAS REIS
DA REPORTAGEM LOCAL

Em 1999, torcedores de Atlético-PR e Coritiba se enfrentaram no estádio Couto Pereira, na capital paranaense. A segurança reforçada da Polícia Militar, que sabia do risco iminente de brigas no clássico, não impediu a pancadaria generalizada.
Dez anos depois, torcedores do Coritiba, revoltados com a queda do clube alviverde à Série B do Campeonato Brasileiro, invadiram o gramado do Couto Pereira. A segurança reforçada da polícia, que novamente sabia do perigo, não evitou a batalha campal.
O fato ocorrido no último domingo, na rodada final do Nacional, é uma cópia quase fiel da briga de 1999, analisada em uma dissertação de mestrado defendida no início deste ano por um tenente da Polícia Militar do Paraná, estudante de ciências sociais da Universidade Estadual de Ponta Grossa.
Alfredo Euclides Dias Netto, 33, formado em educação física e bacharel em segurança pública, realizou um estudo sobre o caso de pancadaria de 1999 e entrevistou policiais que participaram daquela confusão.
O tumulto do último domingo, que continua sendo investigado pela polícia, poderá ganhar conclusões semelhantes ao caso estudado por Dias Netto. Na terça-feira, o primeiro julgamento: o STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva) poderá tirar do Coritiba o mando de 30 partidas, além de aplicar multa de R$ 600 mil.
O estudo do tenente conclui, entre outras coisas, que os policiais de Curitiba possuem treinamento e conhecimento para enfrentar situações extremas, além de considerarem as torcidas organizadas "um grupo de baderneiros", que vão ao estádio gerar brigas e confusões.
Mas eles admitem: em certas ocorrências, há um excesso por parte de alguns, em virtude da perda do controle ocasionado pela carga emocional exigida no momento da ação.
Questionado sobre a briga de domingo, o tenente afirma que não se pode procurar culpados. "O descontrole de torcedores não pode ser analisado de forma empírica. É preciso um estudo minucioso para se chegar a conclusões. Mas nada justifica atos de barbárie como os vistos", disse. "Não se pode procurar culpados. Mais importante do que isto é levantar os fatores que levam torcedores a perderem o controle de seus atos."
Dias Netto, porém, vê diferenças entre os casos. "No domingo, o que se viu foi a torcida de uma equipe apenas agredindo policiais, o time adversário, a arbitragem, os seguranças do clube e até mesmo os torcedores do mesmo time. Mas os aspectos levantados para a geração são muito semelhantes: em situações adversas que causam frustração, o indivíduo responde violentamente."
Os depoimentos dos policiais que se envolveram na confusão de 1999 revelam que, às vezes, eles agem por instinto e que suas atitudes podem causar mais violência. No entanto, o estudioso diz que a polícia local é capacitada para atuar em estádios. "A polícia do Paraná está, sim, preparada para enfrentar situações como a ocorrida."


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