São Paulo, segunda-feira, 14 de janeiro de 2008

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o estrategista

Mano lê para forjar equipe guerreira

Técnico do Corinthians se inspira em resistência de soldados espartanos e diz que time só estará pronto no final do Paulista

Fã de Ênio Andrade e Scolari, ele descarta "família" no clube e afirma estudar inglês para evitar gozação e que a Série B exige hoje "tudo certo"

Danilo Verpa/Folha Imagem
O treinador Mano Menezes, do Corinthians, exibe sua prancheta durante treinamento na concentração da equipe em Itu


EDUARDO ARRUDA
ENVIADO ESPECIAL A ITU

Nas páginas de um livro, o técnico Mano Menezes tenta deixar o Corinthians pronto para um de seus maiores desafios: a disputa da Série B do Brasileiro. Nos últimos dias, nos treinos do time em Itu, ele tem se concentrado na leitura de "Portões de Fogo", do escritor Steven Pressfield, que relata a heróica resistência de 300 soldados espartanos contra 200 mil persas por sete dias na mitológica batalha dos Termópilas (480 a.C.). "É inspirador."
E Mano já traçou sua estratégia para o time alvinegro. Nela, seus "soldados" não deverão estar prontos para o Paulista. Segundo ele, só no final do Estadual os corintianos vão apresentar o futebol para reconduzir o time à elite do Nacional.

 

FOLHA - Você é religioso?
MANO MENEZES
- Eu tenho fé.

FOLHA - Mas tem alguma religião?
MANO
- Sou católico, mas já fui mais praticante.

FOLHA - A fé será importante para superar a missão difícil deste ano?
MANO
- Todas as coisas que são bem grandes por este lado também são grandes oportunidades. E técnicos gostam de grandes oportunidades.

FOLHA - Os que já estavam aqui encontram-se abatidos?
MANO
- É abatimento natural. O time é rebaixado, e os atletas iniciam a temporada seguinte com alegria? Não tem jeito.

FOLHA - O que você fez para o Grêmio subir dá para ser aplicado aqui?
MANO
- Quando o Grêmio subiu, classificavam-se oito, dividiam em dois quadrangulares e, depois, tinha o último quadrangular. Hoje é ponto corrido. Então, você tem que estar bem desde o início. A primeira partida tem o mesmo valor da última. O Grêmio reformulou tudo durante o torneio. Hoje não dá para fazer isso. Tem que chegar à Série B com tudo definido.

FOLHA - Por isso as experiências vão até maio, no início da Série B?
MANO
- Experiência eu evito, porque pode parecer menosprezo ao Paulista. Mas as avaliações serão contínuas para refazermos o que não der certo.

FOLHA - O fato é que o time tem de estar pronto para a Série B, e não no Paulista ou na Copa do Brasil?
MANO
- Se as coisas caminharem como quero, quando estivermos no final do Paulista, a equipe tem que estar jogando o futebol que vai ter que jogar na Série B e na Copa do Brasil.

FOLHA - Crê em família "Mano"?
MANO
- Não. Isso de união no futebol só acontece quando se tem bom resultado. Não existe time unido em derrota.

FOLHA - Mas você indicou vários atletas com quem já trabalhou.
MANO
- O fato de ter atletas com quem já trabalhei é que precisamos abreviar a elaboração do time, o tempo de que preciso para conhecer jogadores. Trouxe alguns que sei o que podem render. Confio neles em termos de responsabilidade profissional. E, na hora da responsabilidade, sei que terão o comprometimento que quero.

FOLHA - Dizem que você segue os passos de Luiz Felipe Scolari. É isso?
MANO
- É coincidência. São Paulo é um centro que todo o profissional quer trabalhar. O Felipão veio para o Palmeiras numa circunstância diferente da que vim para o Corinthians. Cada um tem a sua trajetória, mas não que não tenha intenção de imitá-lo, porque tem uma trajetória de sucesso.

FOLHA - Qual é sua referência?
MANO
- Sempre gostei muito do "seu" Ênio Andrade. Foi o técnico gaúcho que primeiro viu coisas diferentes na armação de equipe. Tirou o máximo de equipes médias. Depois, veio Luiz Felipe Scolari. E, também por ter feito estágio com ele, gosto muito de Paulo Autuori.

FOLHA - Você tem estudado inglês porque quer trabalhar fora do país?
MANO
- Estou fazendo porque lá em casa as mulheres estavam me gozando por ser o único que não falava. E estavam falando inglês para eu não entender.

FOLHA - Dunga foi criticado por defender futebol de resultado em detrimento de espetáculo...
MANO
- Sempre que for possível aliar o espetáculo ao resultado, melhor. O torcedor merece, é a paixão do Brasil. Mas hoje está difícil de conseguir isso porque não temos time que dure cinco anos. Duram seis meses. Criticam técnicos por gritar à beira do campo. Mas isso é desespero para tentar fazer o time jogar aquilo que ainda não pode jogar por falta de tempo.

FOLHA - Você terá tempo aqui?
MANO
- No futebol, sempre há pressão por resultado, o que leva técnicos a jogar por resultados. É preciso diminuir a pressão sobre os profissionais, senão todos jogarão do mesmo jeito, que todos dizem ser feio.

FOLHA - Mas você foi exceção por ficar quase três anos no Grêmio?
MANO
- Mas é lógico que precisa ter resultado. O técnico não se sente bem em continuar se o resultado não vem, mesmo que não queiram que vá embora. Técnico vive de teoria, e ela é confirmada ou não em campo.

FOLHA - As pessoas dizem que você é culto. Tem lido muito?
MANO
- Gosto de aproveitar as concentrações para fazer isso. Estou lendo "Portões de Fogo". Fala de guerra. Sobre como eram preparados os guerreiros espartanos para as batalhas. Fala muito de superação, vida.

FOLHA - É inspirador para seu trabalho no Corinthians?
MANO
- Exato, é inspirador.

FOLHA - Já leu a "Arte da Guerra"?
MANO
- Já. Para algumas situações de estratégia, serve. Como encarar o inimigo.

FOLHA - Você gosta desse tipo de literatura, sobre guerras?
MANO
- Não pela luta, mas sim pelo sentido de enfrentamento.


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