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o estrategista
Mano lê para forjar equipe guerreira
Técnico do Corinthians se inspira em resistência de soldados espartanos e diz que time só estará pronto no final do Paulista
Fã de Ênio Andrade e Scolari, ele descarta "família" no clube e afirma estudar inglês para evitar gozação e que a Série B exige hoje "tudo certo"
Danilo Verpa/Folha Imagem
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O treinador Mano Menezes, do Corinthians, exibe sua prancheta durante treinamento na concentração da equipe em Itu |
EDUARDO ARRUDA
ENVIADO ESPECIAL A ITU
Nas páginas de um livro, o
técnico Mano Menezes tenta
deixar o Corinthians pronto
para um de seus maiores desafios: a disputa da Série B do
Brasileiro. Nos últimos dias,
nos treinos do time em Itu, ele
tem se concentrado na leitura
de "Portões de Fogo", do escritor Steven Pressfield, que relata a heróica resistência de 300
soldados espartanos contra
200 mil persas por sete dias na
mitológica batalha dos Termópilas (480 a.C.). "É inspirador."
E Mano já traçou sua estratégia para o time alvinegro. Nela,
seus "soldados" não deverão
estar prontos para o Paulista.
Segundo ele, só no final do Estadual os corintianos vão apresentar o futebol para reconduzir o time à elite do Nacional.
FOLHA - Você é religioso?
MANO MENEZES - Eu tenho fé.
FOLHA - Mas tem alguma religião?
MANO - Sou católico, mas já fui
mais praticante.
FOLHA - A fé será importante para
superar a missão difícil deste ano?
MANO - Todas as coisas que são
bem grandes por este lado também são grandes oportunidades. E técnicos gostam de grandes oportunidades.
FOLHA - Os que já estavam aqui
encontram-se abatidos?
MANO - É abatimento natural.
O time é rebaixado, e os atletas
iniciam a temporada seguinte
com alegria? Não tem jeito.
FOLHA - O que você fez para o Grêmio subir dá para ser aplicado aqui?
MANO - Quando o Grêmio subiu, classificavam-se oito, dividiam em dois quadrangulares e,
depois, tinha o último quadrangular. Hoje é ponto corrido. Então, você tem que estar bem
desde o início. A primeira partida tem o mesmo valor da última. O Grêmio reformulou tudo
durante o torneio. Hoje não dá
para fazer isso. Tem que chegar
à Série B com tudo definido.
FOLHA - Por isso as experiências
vão até maio, no início da Série B?
MANO - Experiência eu evito,
porque pode parecer menosprezo ao Paulista. Mas as avaliações serão contínuas para refazermos o que não der certo.
FOLHA - O fato é que o time tem de
estar pronto para a Série B, e não no
Paulista ou na Copa do Brasil?
MANO - Se as coisas caminharem como quero, quando estivermos no final do Paulista, a
equipe tem que estar jogando o
futebol que vai ter que jogar na
Série B e na Copa do Brasil.
FOLHA - Crê em família "Mano"?
MANO - Não. Isso de união no
futebol só acontece quando se
tem bom resultado. Não existe
time unido em derrota.
FOLHA - Mas você indicou vários
atletas com quem já trabalhou.
MANO - O fato de ter atletas
com quem já trabalhei é que
precisamos abreviar a elaboração do time, o tempo de que
preciso para conhecer jogadores. Trouxe alguns que sei o que
podem render. Confio neles em
termos de responsabilidade
profissional. E, na hora da responsabilidade, sei que terão o
comprometimento que quero.
FOLHA - Dizem que você segue os
passos de Luiz Felipe Scolari. É isso?
MANO - É coincidência. São
Paulo é um centro que todo o
profissional quer trabalhar. O
Felipão veio para o Palmeiras
numa circunstância diferente
da que vim para o Corinthians.
Cada um tem a sua trajetória,
mas não que não tenha intenção de imitá-lo, porque tem
uma trajetória de sucesso.
FOLHA - Qual é sua referência?
MANO - Sempre gostei muito
do "seu" Ênio Andrade. Foi o
técnico gaúcho que primeiro
viu coisas diferentes na armação de equipe. Tirou o máximo
de equipes médias. Depois, veio
Luiz Felipe Scolari. E, também
por ter feito estágio com ele,
gosto muito de Paulo Autuori.
FOLHA - Você tem estudado inglês
porque quer trabalhar fora do país?
MANO - Estou fazendo porque
lá em casa as mulheres estavam
me gozando por ser o único que
não falava. E estavam falando
inglês para eu não entender.
FOLHA - Dunga foi criticado por defender futebol de resultado em detrimento de espetáculo...
MANO - Sempre que for possível aliar o espetáculo ao resultado, melhor. O torcedor merece, é a paixão do Brasil. Mas hoje está difícil de conseguir isso
porque não temos time que dure cinco anos. Duram seis meses. Criticam técnicos por gritar à beira do campo. Mas isso é
desespero para tentar fazer o
time jogar aquilo que ainda não
pode jogar por falta de tempo.
FOLHA - Você terá tempo aqui?
MANO - No futebol, sempre há
pressão por resultado, o que leva técnicos a jogar por resultados. É preciso diminuir a pressão sobre os profissionais, senão todos jogarão do mesmo
jeito, que todos dizem ser feio.
FOLHA - Mas você foi exceção por
ficar quase três anos no Grêmio?
MANO - Mas é lógico que precisa ter resultado. O técnico não
se sente bem em continuar se o
resultado não vem, mesmo que
não queiram que vá embora.
Técnico vive de teoria, e ela é
confirmada ou não em campo.
FOLHA - As pessoas dizem que você
é culto. Tem lido muito?
MANO - Gosto de aproveitar as
concentrações para fazer isso.
Estou lendo "Portões de Fogo".
Fala de guerra. Sobre como
eram preparados os guerreiros
espartanos para as batalhas.
Fala muito de superação, vida.
FOLHA - É inspirador para seu trabalho no Corinthians?
MANO - Exato, é inspirador.
FOLHA - Já leu a "Arte da Guerra"?
MANO - Já. Para algumas situações de estratégia, serve. Como
encarar o inimigo.
FOLHA - Você gosta desse tipo de
literatura, sobre guerras?
MANO - Não pela luta, mas sim
pelo sentido de enfrentamento.
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