|
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice
MOTOR
Sobre anos terminados em 4
JOSÉ HENRIQUE MARIANTE
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
A velha máxima de que pré-temporada não vale muita
coisa é tão real quanto aquela outra que diz que, às vezes, alguma
coisa sai dela. Vivemos neste ano
o segundo caso. O que os ensaios
dizem por enquanto não é exatamente quem andará na frente,
mas de que forma andará.
Duas temporadas consecutivas
de alterações radicais nas regras
proporcionam surpresas, inovações e também muita porrada.
Em busca do equilíbrio, a F-1
desequilibrou seus projetos.
A começar pelas asas, que perderam o carnaval de lâminas que
vigorou até o ano passado. A partir de agora, serão duas, deixando
os técnicos com poucas opções de
regulagem e os pilotos com traseiras cada vez mais soltas. É exatamente por isso que tanta gente está rodando tão fácil por aí.
Menos lâminas significam menos downforce, objetivo declarado do novo regulamento. A FIA
persegue de forma canina um
modo de diminuir a velocidade
nas curvas -para a entidade, a
razão de poucas ultrapassagens.
O problema é que, mesmo com
um conjunto mais instável, os
mesmos pilotos tendem, pela própria natureza, a não tirar o pé. O
resultado é um monte de gente na
brita e as devidas conseqüências.
Fosse só isso, estaria bom. A inconseqüência vai bem mais longe.
Gary Anderson, hoje executivo da
Jordan, mas um projetista que
nunca foi dado a aventuras, alerta para o que classifica como uma
volta ao turbulento ano de 1994.
"Parece que esqueceram o que
aconteceu", diz, fatalista.
Sua preocupação é a tendência
verificada nos últimos anos, aguda neste momento, segundo ele,
de as escuderias confiarem no uso
indiscriminado do lastro.
Com um regulamento cada vez
mais severo e materiais novos, os
carros estão ficando, em igual
proporção, cada vez mais leves.
Evidente, para os projetistas é interessante obter o peso mínimo
usando lastros distribuídos conforme suas necessidades pelo carro. Um conjunto rígido só se resolve construindo um novo chassi, o
que é caro, ainda mais em tempos
de crise e orçamentos baixos.
De acordo com Anderson, o grid
atual é composto em sua maioria
por carros que passam raspando
pelo crash-test da FIA. No lugar
de impor projetos mais seguros, a
verificação só estaria delineando
os limites. Mais uma vez, no lugar
de enrijecer o chassi, o teste estaria transformando o resto do carro em uma casca de ovo.
Claro, deve existir um componente de nostalgia no discurso de
um sujeito antigo como Anderson, semelhante ao que temos toda vez em que ralamos nossos
modernos pára-choques de plástico -que não têm conserto e misteriosamente custam fortunas.
É inegável, porém, que há mais
similaridades entre 1994 e 2004
do que a simples coincidência numérica. A saber, profunda mudança no regulamento técnico
(agora aerodinâmica e motor,
antes o fim da eletrônica), alteração no esportivo de efeito ainda
ignorado (treino, reabastecimento) e um velho favorito acossado
por petulantes novos favoritos.
Anderson lembra, nós lembramos muito bem. Coisas assim não
dão certo. A conferir.
Mundial de Rali
O francês Sebastian Loeb se tornou, no fim de semana, o primeiro piloto de fora da Escandinávia a vencer na neve da Suécia. Para quem
está acostumado a viver o verão de ano inteiro da F-1, é algo notável
acompanhar uma categoria onde até o piso significa desafio para a
pilotagem. Temos uma ou outra corrida com chuva e olhe lá.
MotoGP
Valentino Rossi, pelo menos por enquanto, faz história a bordo de
sua Yamaha. Se correr como vem fazendo na pré-temporada, deixará constrangida muita gente que sempre se escudou nas limitações
do equipamento. Do jeito que vai, daqui a pouco chegará às quatro
rodas. E com chance de redimir um país que brilha mais pelo seu time vermelho do que pelos bons, apenas bons pilotos que produz.
E-mail mariante@uol.com.br
Texto Anterior: Elano volta a sentir lesão e desfalca Santos Próximo Texto: Futebol - José Geraldo Couto: Exercício de nostalgia Índice
|