São Paulo, domingo, 14 de fevereiro de 2010

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Do terrão da Bahia, Razia chega à F-1

Um dos raros exemplos fora do eixo Sul-Sudeste a alcançar a categoria, baiano começou no autocross com 11 anos

Contratado como piloto de testes da novata Virgin, estreante guia o V01 pela primeira vez hoje, para a gravação de um comercial

SANDRO MACEDO
TATIANA CUNHA
DA REPORTAGEM LOCAL

Tímido, com seu jeitão de menino e um indefectível sotaque nordestino, Luiz Razia, 20, é um estranho no ninho da F-1.
Com uma campanha modesta na GP2 no ano passado e sem um padrinho de peso ou um sobrenome de história, o baiano ficou com uma das vagas de piloto de testes da novata Virgin.
Hoje, em Jerez de la Frontera, na Espanha, guiará pela primeira vez um carro da categoria. Não será um treino, apenas a gravação de um comercial para sua equipe, a única das quatro novatas a ter testado.
"Pelo menos vou poder sentar no carro e dar minhas aceleradas", afirmou Razia, que segue in loco os testes do time.
O piloto é um raro exemplo de brasileiro fora das regiões Sul-Sudeste a chegar à principal categoria do automobilismo -ainda que como piloto de testes. O último havia sido o amazonense Antonio Pizzonia, apelidado de Jungle Boy.
"De onde saí, no interior da Bahia, foi muito difícil. Minha família e meus amigos foram os que me deram suporte. Já estive perto de parar por falta de dinheiro, mas sempre demos um jeito de ficar mais um pouco", declarou o novato à Folha.
Fã de Ayrton Senna ("Meu pai tem vários vídeos de GPs") e de Michael Schumacher ("Ele é 100% dedicado"), Razia começou literalmente no terrão, no campeonato baiano de autocross, em 2002, com 11 anos, incentivado pelo pai, um ex-piloto de F-Ford e rali. Em 2004, foi campeão nacional de kart.
Após passar pela F-3 sul- -americana, foi para a Europa.
"Como a F-3 inglesa era cara, fui fazer a F-3.000, que é mais esquecida, mas ensina muito."
Em 2008, quando precisava de apenas mais um ponto para ser campeão da categoria, Razia e o pai decidiram tentar a sorte na GP2 Ásia -ganhou uma prova no Bahrein, mas deixou escapar o título da F- -3.000. "Hoje, repensando, preferia ter sido campeão."
De qualquer forma, o caminho estava aberto para a GP2, categoria de acesso à F-1. Sem muitas opções, fechou com a Coloni. Os resultados não foram animadores. Em 20 provas, Razia venceu uma e terminou a temporada em 19º lugar.
Correr nos mesmos circuitos da F-1 não deu ao piloto a proximidade esperada com a categoria. "A gente está perto, mas está longe. Não pode entrar no paddock e, quando o resultado é ruim, você pensa: "O pessoal me olhando e eu só fazendo merda".", diverte-se.
Por essas e outras, Razia não se via em 2010 na F-1. Mas sua persistência ajudou. "No começo, estava pensando nos programas de desenvolvimento de pilotos. Não cogitava a vaga de piloto de teste, mas, com a Virgin, tivemos abertura total."
Por causa do regulamento, que proíbe testes na temporada, Razia deve ficar com as sobras. Mas não se importa.
Chegar à categoria badalada não significa que é hora de relaxar. "A pressão agora é maior. É questão de oportunidade e de fazer o máximo."


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