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Do terrão da Bahia, Razia chega à F-1
Um dos raros exemplos fora do eixo Sul-Sudeste a alcançar a categoria, baiano começou no autocross com 11 anos
Contratado como piloto de testes da novata Virgin, estreante guia o V01 pela primeira vez hoje, para a gravação de um comercial
SANDRO MACEDO
TATIANA CUNHA
DA REPORTAGEM LOCAL
Tímido, com seu jeitão de
menino e um indefectível sotaque nordestino, Luiz Razia, 20,
é um estranho no ninho da F-1.
Com uma campanha modesta na GP2 no ano passado e sem
um padrinho de peso ou um sobrenome de história, o baiano
ficou com uma das vagas de piloto de testes da novata Virgin.
Hoje, em Jerez de la Frontera, na Espanha, guiará pela primeira vez um carro da categoria. Não será um treino, apenas
a gravação de um comercial para sua equipe, a única das quatro novatas a ter testado.
"Pelo menos vou poder sentar no carro e dar minhas aceleradas", afirmou Razia, que segue in loco os testes do time.
O piloto é um raro exemplo
de brasileiro fora das regiões
Sul-Sudeste a chegar à principal categoria do automobilismo -ainda que como piloto de
testes. O último havia sido o
amazonense Antonio Pizzonia,
apelidado de Jungle Boy.
"De onde saí, no interior da
Bahia, foi muito difícil. Minha
família e meus amigos foram os
que me deram suporte. Já estive perto de parar por falta de dinheiro, mas sempre demos um
jeito de ficar mais um pouco",
declarou o novato à Folha.
Fã de Ayrton Senna ("Meu
pai tem vários vídeos de GPs")
e de Michael Schumacher ("Ele
é 100% dedicado"), Razia começou literalmente no terrão,
no campeonato baiano de autocross, em 2002, com 11 anos,
incentivado pelo pai, um ex-piloto de F-Ford e rali. Em 2004,
foi campeão nacional de kart.
Após passar pela F-3 sul-
-americana, foi para a Europa.
"Como a F-3 inglesa era cara,
fui fazer a F-3.000, que é mais
esquecida, mas ensina muito."
Em 2008, quando precisava
de apenas mais um ponto para
ser campeão da categoria, Razia e o pai decidiram tentar a
sorte na GP2 Ásia -ganhou
uma prova no Bahrein, mas
deixou escapar o título da F-
-3.000. "Hoje, repensando,
preferia ter sido campeão."
De qualquer forma, o caminho estava aberto para a GP2,
categoria de acesso à F-1. Sem
muitas opções, fechou com a
Coloni. Os resultados não foram animadores. Em 20 provas, Razia venceu uma e terminou a temporada em 19º lugar.
Correr nos mesmos circuitos
da F-1 não deu ao piloto a proximidade esperada com a categoria. "A gente está perto, mas
está longe. Não pode entrar no
paddock e, quando o resultado
é ruim, você pensa: "O pessoal
me olhando e eu só fazendo
merda".", diverte-se.
Por essas e outras, Razia não
se via em 2010 na F-1. Mas sua
persistência ajudou. "No começo, estava pensando nos programas de desenvolvimento de
pilotos. Não cogitava a vaga de
piloto de teste, mas, com a Virgin, tivemos abertura total."
Por causa do regulamento,
que proíbe testes na temporada, Razia deve ficar com as sobras. Mas não se importa.
Chegar à categoria badalada
não significa que é hora de relaxar. "A pressão agora é maior.
É questão de oportunidade e
de fazer o máximo."
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