São Paulo, sábado, 14 de março de 2009

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MOTOR

Olho no retrovisor


Histórico da F-1 recomenda cautela com o surpreendente desempenho da Brawn GP em sua 1ª semana de testes


FÁBIO SEIXAS
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE

EM 1988, a McLaren mostrou à F-1, ainda na pré-temporada, o que viria pela frente. Deixou claro, sem margens para dúvidas, como seria aquele campeonato.
Até um mês antes do início do Mundial, nos testes em Jacarepaguá, as sensações eram Berger e a Ferrari. Então, irônica ou cruel, a McLaren foi a Imola para os primeiros ensaios do MP4/4. Tudo mudou. "O novo McLaren MP4/4 já não tem que provar mais nada a ninguém. Desde que o novo modelo estreou (arrasando) em Imola, todos os pilotos e chefes de equipe fizeram um grande esforço para tentar diminuir o impacto que o desempenho do novo carro havia causado. Nenhum deles estava disposto a admitir que o panorama da F-1 para este ano tinha mudado. Todos os equipamentos anteriormente considerados favoritos teriam que ser praticamente revistos se quisessem acompanhar os carros da dupla da Marlboro", escreveu Mario Andrada e Silva, na Folha, naquele ano.
Detalhe: não era a retrospectiva da F-1, o relato da última corrida. Os parágrafos acima foram publicados em 4 de abril de 1988, um dia após a abertura da temporada. Ao término daquelas 16 etapas, a McLaren havia acumulado 15 vitórias, 15 poles, 10 dobradinhas nos pódios, 10 melhores voltas. Fez o campeão, Senna, e o vice, Prost.
Treze anos depois, a F-1 voltou a se espantar com um carro na pré- -temporada. No fim de janeiro, o AP04, da Prost, com motor e câmbio Ferrari, bateu o recorde de Barcelona. "Sinto que nós estamos prontos para subir mais um degrau na F-1", disse o tetracampeão às vésperas do GP da Austrália. Embuste, ardil, teatro, mero estratagema para buscar patrocinadores, pegar de jeito algum incauto. Atolada em dívidas e mutretas fiscais -mesmo com os estimados US$ 25 milhões investidos por Diniz-, a equipe fez um campeonato apagado. Seu melhor resultado, um quinto lugar, com Alesi, no Canadá.
No fim do ano, fechou as portas, achincalhada pela Justiça francesa. Duas histórias que mostram a armadilha que são os testes. Recordes, impressões, marcas e declarações podem ser reais ou não. A surpreendente Brawn GP é o motivo dessas voltas ao passado. O novo time, que liderou 2 dos 4 primeiros dias de testes de sua existência, pode de repente ter um carro fenomenal -e esta coluna, há três semanas, vibrou com a notícia de que um modelo com a grife do engenheiro inglês correria o Mundial e não apodreceria na garagem. E pode, com seu carro ainda todo branco, estar jogando para potenciais patrocinadores, com orientações de Ecclestone para elogios generalizados e unânimes.
Ao ensinamento da história, portanto: é melhor esperar. Menos mal que faltam apenas 12 dias.

fabio.seixas@grupofolha.com.br


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