São Paulo, quarta-feira, 14 de abril de 2010 |
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SABATINA FOLHA "Faz 24 anos que estou condenado"
Em sabatina da Folha, Zico faz paralelo entre perda do pênalti contra a França na Copa de 86 e a derrota na final de 50 e fala sobre Romário, Ronaldo e Ronaldinho
DA REPORTAGEM LOCAL
Uma conversa direta, franca.
Opiniões sem meios-termos.
Às claras, mesmo no breu. PÊNALTI PERDIDO Quando você tem a oportunidade de colocar seu time na frente e não acontece, fica marcado. Entrei, tive a chance [contra a França, nas quartas de final da Copa-86] e não fiz. No Brasil, quando se perde, sempre se pega alguém para Cristo. Na época, os jogadores de 1950 deram entrevistas dizendo que finalmente iriam parar de falar deles, que a partir daquela hora falariam de mim. Eu fiquei imaginando se será possível que um esportista fique marcado assim... Imagina o peso que aqueles caras estavam carregando. Eles foram crucificados. O Barbosa dizia que a pena máxima no Brasil era de 30 anos, e que ele estava condenado há quase 50. Agora, faz 24 anos que estou condenado. ROMÁRIO EM 98 Doze anos depois, o Romário reconheceu que não fui eu que o cortei [em entrevista ao "Globo", disse que isentava Zico de culpa]. A gente tem atitudes ao longo da nossa vida, segura certas petecas porque tem um cargo [coordenador técnico da seleção em 1998]... Mas nem sempre é você que toma a decisão. No caso, o corte foi médico, mas ninguém quis assumir, colocaram na minha conta. RONALDO EM 98 O Edmundo tinha saído correndo, gritando que o Ronaldo estava morrendo... Quando cheguei ao quarto, o Ronaldo estava sentado na cama, e o doutor Joaquim da Matta disse que ele tinha sofrido uma convulsão e que precisava descansar. Veio a hora do lanche, e o Ronaldo parou na porta do refeitório. Fez como um aquecimento. Disse que estava com o corpo todo dolorido, que parecia que tinha levado uma surra. Depois do lanche, o doutor Lídio [Toledo, principal médico da delegação] disse que ele não tinha condição. Vetou. Daí o Zagallo escalou o Edmundo, fez a preleção com Edmundo. Fomos para o estádio... Lá, me chamaram para outra reunião, no vestiário. Num canto, estava o Ronaldo de calção, de meia, dizendo que tinha feito exame, que ia jogar. Zagallo perguntou se estava bem mesmo. Ele disse que sim. E foi para o jogo. Os que sabiam do problema estavam apavorados. Isso foi fundamental para a derrota. O Leonardo perguntava toda hora se o Ronaldo iria morrer... Se alguém poderia vetar, era o médico. Mas ele não falou nada. Então o Zagallo tomou a decisão que qualquer um tomaria. GOVERNO COLLOR Fui lá [secretário dos Desportos da Presidência da República] para fazer um trabalho para o esporte. Reconheço que o Collor perdeu a chance de se tornar um presidente importante. Tinha boas ideias, mas a forma como ele fez... Nenhum brasileiro gostou. Ele entendia de futebol, discutiu com a gente o projeto [da Lei Zico], mas depois viu que aquilo batia de frente com alguns setores que o apoiaram. E então ele engavetou. Preparei minha carta de demissão. Mas, antes de eu sair, ele quis encaminhar para o Congresso. Quando foi aprovado, a coisa caminhou bem. RONALDINHO Não quero ver o Ronaldinho limitado como hoje, se contentando em jogar numa determinada faixa de campo, em dar o drible e jogar a bola para a frente. Ele se conformou nos últimos dois anos em jogar assim. Fato é que ele não atravessa uma boa fase, assim como Kaká, Robinho, Luis Fabiano, Julio Baptista, Felipe Mello... DROGAS Quando estou no comando de um time, não quero saber se o jogador bebe... Só que, no treino, vou exigir respeito, dedicação. Mas agora é pior, porque o problema é droga. E a facilidade que eles têm para comprar... Um jogador do Botafogo [Jobson] acabou de ser suspenso por cocaína. Por que jogador morre agora a torto e a direito? Isso é resultado de alguma coisa que está sendo ingerida pelo organismo, que não aguenta. GESTÃO DO ESPORTE Não é possível que só haja uma pessoa no Brasil para tocar cada entidade. É inadmissível que Ricardo Teixeira fique 20 anos na entidade, que o Nuzman, o Coaracy, o Gesta, o Koff... Fica muito chato. As pessoas se desestimulam porque sabem que existe um feudo, um controle... Mas é bom que você coloque as caras, que entre numa eleição para perder, para mostrar que há uma opção. A forma das eleições nas entidades no Brasil é um problema. FUTURO Não sei se vou continuar como técnico. Quando você vira avô, algumas coisas acontecem. Quando meus filhos eram crianças, deixei muito de vê-los em festinhas da escola, essas coisas... E agora isso começa a acontecer com os netos. Estou com dois, o terceiro vem agora. Gostei muito de ser treinador, apaixonei-me pela profissão, mas a gente tem que refletir para saber se continua ou não. Texto Anterior: Ferrari resgata motor do primeiro GP de 2010 Próximo Texto: Frases Índice |
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