São Paulo, terça-feira, 14 de maio de 2002

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"A França não teme nenhum adversário"

FABRICE JOUHAUD
OLIVIER MARGOT


DO L'ÉQUIPE

Pergunta - É confortável a posição de grande favorita da França nesta Copa do Mundo?
Zinedine Zidane -
Não se pode dizer que é uma vantagem. Nós conhecemos o time que temos e sabemos do que é capaz. Nos últimos amistosos, provamos isso.

Pergunta - Hoje em dia, há alguma seleção que vocês temam?
Zidane -
Nenhuma. Sem pretensão, nós não tememos nenhum adversário, mas isso não quer dizer que temos um complexo de superioridade. Simplesmente, nós somos conscientes de que temos uma grande equipe e uma grande chance de conquistar a segunda Copa do Mundo consecutiva e entrar para a história. Temos de render o máximo para trazer de volta a taça para a França. Ainda não conseguimos isso, mas temos os meios para isso.

Pergunta - Vê alguma similaridade entre França e Real Madrid?
Zidane -
Não. A seleção francesa é única no mundo.

Pergunta - Sem o contundido Robert Pires, que estava em excelente fase, você acha que o meio-campo manterá o mesmo alto nível?
Zidane -
Outros jogadores são capazes de cobrir a ausência de Pires. Infelizmente, não podemos fazer o tempo voltar atrás, mas a França não é Zidane ou Pires. A seleção francesa são 23 jogadores. Há muitos atletas que nunca foram convocados que poderiam fazer parte da seleção. O grupo é a força dos ""bleus", com toda a boa atmosfera que reina aqui.

Pergunta - Alguns jogadores, como Karembeu, Dugarry e Lebouef, são vaiados quando jogam na seleção. O que acha disso?
Zidane -
No campo, infelizmente eu não posso fazer nada. Mas quem vaia um jogador nosso, está vaiando todo o time. As pessoas precisam entender isso. Todos merecem respeito.

Pergunta - Você já ultrapassou Platini no número de jogos pela França (73 partidas). Isso serve de inspiração para você?
Zidane -
Sim, mas há outros que jogaram mais vezes. Amoros, Bossis, Blanc, Deschamps, Desailly têm mais participações. Mas isso não é o mais importante.

Pergunta - Por quanto tempo ainda pretende jogar pela seleção?
Zidane -
Pelo menos, por mais quatro anos, certamente. Enquanto eu estiver bem, tiver prazer em jogar e contribuir com a França, eu continuo.

Pergunta - Na seleção, você fez oito gols com pé direito, cinco com o esquerdo e três de cabeça. É um saldo bem equilibrado.
Zidane -
A única coisa bizarra são gols de cabeça, afinal, desses três, dois foram na final da Copa contra o Brasil. Esse levantamento também mostra que eu vou bem com a minha canhota, que, em geral, é bastante boa.

Pergunta - Como analisa sua trajetória, um garoto pobre de Marselha que se transforma no mais caro futebolista do mundo?
Zidane -
No final das contas, você, começando do nada, saindo de um bairro pobre, pode realizar tudo o que deseja. Mesmo tendo sempre confiança naqueles que me cercaram, não foi fácil. Quando você está sozinho em um alojamento, aos 14 anos, longe da família, você sempre fica no dilema: desistir ou continuar? Por meu temperamento, eu faria qualquer coisa para seguir no futebol, e era hora de ousar. Eu ousei. Era importante para mim ser bem-sucedido no futebol e consegui isso.

Pergunta - Qual foi o período mais feliz de sua vida até agora?
Zidane -
O período mais importante foi quando me transferi para a Juventus, porque, quando você parte para o exterior, você não ganha a passagem de volta. E foi na Itália que ganhei a dimensão que tenho hoje. Sem a Juventus, tudo seria diferente. Lá, eu tinha um bom relacionamento com todo o mundo, desde o jornaleiro até o presidente do clube. Foram cinco anos memoráveis. Por isso, foi difícil passar ao Real Madrid.


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