São Paulo, sábado, 14 de maio de 2005

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FUTEBOL

Perícia de professoras de surdos, para quem o argentino disse "negrinho" a Grafite, é usada para comprovar injúria

Desábato xingou em português, diz laudo

Sérgio Lima/Folha Imagem
Grafite, liberado do treino do São Paulo, ouve discurso em sessão que o homenageou no Senado


KLEBER TOMAZ
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA

LUÍS FERRARI
DA REPORTAGEM LOCAL

A polícia concluiu ontem o inquérito do caso Grafite após perícia não-oficial da fita do jogo São Paulo x Quilmes, feita por três professoras de deficientes auditivos, atestar que o zagueiro argentino Leandro Desábato ofendeu em português o atacante são-paulino, chamando-o de "negrinho" no dia 13 de abril, no Morumbi, pela Taça Libertadores.
"Essa era a prova que faltava", diz o delegado seccional Dejar Gomes Neto, que enviou ontem o inquérito que acusa Desábato de injúria racial qualificada, cuja pena vai de um a três anos de reclusão, para o Fórum Criminal.
Para o caso ir adiante, Grafite precisa formalizar a queixa. Isso feito, o inquérito vira processo e será analisado pelo juiz.
A Folha procurou Rossana Marina Marques, Ana Cláudia dos Santos Camargo e Monica Royg, professoras da escola municipal de educação especial Helen Keller, na Aclimação, responsáveis pela análise. Uma delas argumentou, na condição de não ser identificada, que elas são formadas em pedagogia, habilitadas em audiocomunicação e que, por conta da ética do intérprete, não falariam.
A polícia só levou a fita para ser periciada na escola ao saber que o resultado do laudo do Instituto de Criminalística foi inconclusivo. O documento do IC, assinado por Daniela Mieko Abe e José Osmar Bercelli, atesta que, pelo fato de se ver "apenas movimentos labiais desprovidos dos respectivos sons", não foi possível "decifrar palavras ou expressões eventualmente declinadas pelos jogadores". O instituto também alega que "não dispõe de metodologia para exame de leitura labial".
A análise feita pelas professoras também é contrária à posição de especialistas que, em reportagem publicada pela Folha no dia 21 de abril, foram unânimes em contestar a versão das testemunhas na delegacia. Na ocasião, disseram ter identificado apenas a sílaba "inho" na boca do zagueiro argentino, que na fita tem o rosto empurrado pela mão de Grafite.
"O laudo da escola não vale. O Desábato não fala português. Em tese é falsa perícia. O próprio IC não teve elementos", diz Carlos Mendes, advogado de Desábato.


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