São Paulo, domingo, 14 de maio de 2006

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Invencionice frita técnico da Alemanha

Com métodos comparados a exercícios físicos para gestantes, Klinsmann irrita imprensa, cartolas e jogadores

RICARDO PERRONE
DO PAINEL FC

Jürgen Klinsmann, 41, chega à Copa do Mundo com a fama de revolucionar a seleção alemã a ponto de introduzir exercícios mais apropriados a gestantes.
A revolução foi prometida aos cartolas de sua federação logo que ele começou a negociar a contratação, feita em julho de 2004.
E a fidelidade ao projeto faz com que o técnico vá à Copa como um dos mais pressionados. O fato de jogar em casa no comando da atual vice-campeã mundial não é capaz de aliviar a pressão. Ele tem seu trabalho contestado por ex-atletas, pelo presidente do Comitê Organizador do Mundial, Franz Beckenbauer, um dos maiores ídolos do futebol alemão, por jornalistas e até por políticos.
O principal motivo da desconfiança é justamente a ruptura com os tradicionais métodos de trabalho da escola alemã.
O bombardeio começou por causa de sua decisão de seguir vivendo na Califórnia e pela inspiração buscada no futebol dos Estados Unidos, sem tradição.
Seis meses antes de ser convidado pela federação alemã, Klinsmann, que estréia no cargo de técnico, passou semanas observando o trabalho do amigo Bruce Arena, técnico da seleção norte-americana, que no último Mundial conduziu a seleção de seu país às quartas-de-final -perdeu justamente para a Alemanha.
Mais chocados ainda ficaram os alemães quando o treinador da seleção tricampeã mundial se aconselhou com Anson Dorrance, a técnica com mais títulos no futebol feminino universitário dos Estados Unidos.
Como resultado das conversas, Klinsmann desembarcou na Alemanha com um preparador físico norte-americano e um especialista em psicologia do esporte.
Os jogadores da seleção passaram a realizar exercícios desconhecidos dos atletas de futebol do país. A imprensa torceu o nariz.
Alguns jornais classificaram os novos treinos como trabalhos para equipes femininas de ginástica e atividades para grávidas.
Klinsmann respondeu. Viu a reação como ciúme dos alemães e um certo menosprezo ao futebol dos Estados Unidos.
Nos jogos, o treinador aumentou o estoque de argumentos de seus desafetos com o rodízio que promoveu entre os goleiros.
A experiência culminou recentemente com a definitiva perda da titularidade de Oliver Kahn, astro local e principal alvo das agências de marketing da Alemanha entre os jogadores da seleção.
O projeto de Klinsmann previa não só a mudança de métodos mas também a renovação de atletas. Por isso convocou jogadores diferentes e trocou constantemente os titulares. Munição para mais reclamações, inclusive de alguns pupilos, que se queixaram de falta de entrosamento.
O meia Ballack, um dos poucos intocáveis, disse na semana passada que, por causa da renovação, o time pode ser eliminado cedo.
Prato cheio para os detratores foi a goleada para Itália, por 4 a 1, em março. A indignação tomou conta do país e fez com que o Congresso pedisse explicações ao treinador sobre os seus métodos.
A chanceler alemã, Angela Merkel, entrou no circuito, defendeu Klinsmann e apagou o incêndio.
Às vésperas do Mundial, Beckenbauer levantou a voz para condenar a decisão de Klinsmann de não se reunir com os demais treinadores classificados em evento oficial da Fifa. Apenas enviou um de seus auxiliares para representá-lo. Ele ficou na Califórnia. A polêmica estendeu-se a outras personalidades alemãs.
Se surpreender seus críticos e terminar em primeiro do Grupo A, Klinsmann evitará um rival perigoso. Se o Brasil também for líder de sua chave, os dois só se encontram na final. Numa repetição da decisão do Mundial de 2002.


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