São Paulo, domingo, 14 de maio de 2006

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HISTÓRIA

Recuperada após sofrer com a destruição da 2ª Guerra, Alemanha vê Brasil como novo pólo de investimento para suas empresas

Um marco alemão no Brasil

CARLOS GABRIEL GUIMARÃES
ESPECIAL PARA A FOLHA

A recuperação da economia alemã no pós-2ª Guerra Mundial relaciona-se com a conjuntura internacional da Guerra Fria.
Os tempos fizeram com que os EUA implementassem a Doutrina Truman (1947) e o Plano Marshall (junho, 1947) de reconstrução da economia européia ocidental.
Além disso, razões internas, com a implementação do que José Carlos de Souza Braga chamou de "capitalismo produtivista e socialmente abrangente", possibilitaram a expansão internacional do capital alemão nas décadas seguintes. Para ter uma idéia dos números, de 1950 a 1990, os investimentos alemães no exterior cresceram de 3,5% para 12,1%.
O Brasil constituiu-se, no período das décadas de 1950 a 1970, principalmente nessa última, como um dos países que mais atraíram investimento alemão.
Na década de 1950, a partir do segundo governo Vargas (1951-1954) houve aumento do investimento alemão. Esse processo se intensificou no governo JK (1956-1961), que, com o Plano de Metas, proporcionou a implementação do capitalismo industrial no Brasil calcado na indústria de bens de consumo duráveis, atraindo empresas alemãs como Mercedes-Benz e Volkswagen, que se estabeleceram em São Paulo.
É importante destacar que, em 1956, o governo brasileiro decretou a restituição dos bens das empresas alemães confiscados na 2ª Guerra Mundial. Tal política teve significado importante no restabelecimento das relações internacionais do país com a Alemanha.
Na década de 1970, no governo Geisel (1974-1979), como desdobramento do projeto autoritário-desenvolvimentista implementado pelo Golpe de 1964, que aprofundou a acumulação capitalista no Brasil implementada no governo JK, foi se articulando nova política internacional brasileira.
Denominada por estudiosos como Antonio Carlos Lessa de "Nacional Desenvolvimentismo Geiseliano", tal política externa tinha por objetivo aumentar a diversificação dos parceiros comerciais.
O governo buscava solucionar os problemas gerados pela crise internacional (a crise do petróleo) na balança de pagamentos da economia brasileira, principalmente na conta capital.
A diversificação, que implicava em menor dependência dos EUA, principal credor e investidor estrangeiro no Brasil, fez com que a Alemanha (na época a RFA) se tornasse numa aliada estratégica.
Seja com o Acordo Nuclear, que acirrou os ânimos entre o Departamento de Estado dos EUA com o governo brasileiro, seja com indústrias, como a Telefunken (produção de TV) e outras, a Alemanha consolidou-se, segundo Antonio Carlos Lessa, como o "maior investidor e parceiro comercial" da Europa no Brasil, e o país sul-americano como "principal exportador do Terceiro Mundo" para a Alemanha.
A situação mudou no fim da década de 1970, face aos problemas gerados pelo segundo choque do petróleo e da dívida externa.


Carlos Gabriel Guimarães é professor da Universidade Federal Fluminense e presidente da Associação Brasileira de Pesquisadores em História Econômica

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2° Fascículo: 1958 a 1990

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