Amparado pelo dinheiro de estatal de petróleo e gás de seu país, clube russo desafia o Glasgow Rangers

PAULO COBOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Dinheiro farto da indústria do petróleo e gás. Racismo. Mistura da coisa pública e privada. O Zenit, que joga hoje pelo título da Copa da Uefa, na Inglaterra, contra o escocês Glasgow Rangers, é uma amostra perfeita, em pequena escala, da atual Rússia, a sua pátria.
Em pouco mais de dois anos, o time saiu do ostracismo para a decisão do segundo mais importante torneio de clubes da Europa com receita bilionária.
No final de 2005, a Gazprom, estatal russa de petróleo e gás (a terceira maior do mundo no setor), pagou R$ 112 milhões para adquirir o controle do Zenit, que é de São Petersburgo. E logo começou a reforçar o time.
Só no ano passado, investiu quase R$ 160 milhões em contratações. Vai gastar mais R$ 400 milhões na construção de um novo estádio para o clube.
Dentro de campo, o retorno não demorou. No ano passado, o Zenit conquistou o título russo, apenas o segundo de sua história, o que lhe garantiu na próxima Copa dos Campeões da Europa e quebrou uma hegemonia de mais de dez anos dos clubes de Moscou no torneio. Hoje, tem a chance de levantar sua primeira taça continental.
A compra do Zenit pela Gazprom teve o dedo de Dmitri Medvedev, o novo presidente russo. Ele é um torcedor fanático do clube e era o presidente do conselho da estatal até fevereiro -tinha poder quando a empresa comprou o Zenit.
Mas um dos maiores pesadelos da nova Rússia também está no Zenit, que em sua trajetória nesta Copa da Uefa bateu clubes tradicionais, como o francês Olympique de Marselha e os alemães Bayer Leverkusen e Bayern de Munique.
O clube tem a fama de ser o mais racista entre os grandes russos. A agremiação rebate dizendo que tem atletas de várias nacionalidades (nenhum deles é brasileiro). Mas o fato é que o Zenit não tem negros -é o único time de tradição de seu país que nunca teve um na história.
No jogo contra o Olympique em São Petersburgo, torcedores imitaram macacos e atiraram bananas no defensor negro Zubar. Uma investigação do caso foi aberta pela Uefa.
O holandês Dick Advocaat, técnico da equipe, disse que a torcida do Zenit não aceitaria um jogador negro, mas negou isso ontem em Manchester, o palco da decisão de hoje.
No ano passado, o ex-presidente russo Vladimir Putin, aliado de Medvedev, criticou a contratação de estrangeiros pelos clubes do país. "Olhando nossos times, fica difícil falar se são realmente nossos ou se são africanos", declarou o político.