São Paulo, sábado, 14 de maio de 2011

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RITA SIZA

Chance de transformar


Copa e Jogos têm o imenso poder de transformar o Rio, a dúvida é se para melhor ou para pior


MATÉRIAS PUBLICADAS pela norte-americana ESPN e pelo britânico "The Guardian" nesta semana levantaram polémica sobre a "operação cosmética" do Brasil para a organização do Mundial de futebol em 2014 e da Olimpíada de 2016. Em ambos os casos, o argumento era que a vida quotidiana da população do Rio de Janeiro e aquela que é apresentada nas brochuras dos organizadores dos dois eventos esportivos são duas realidades tão díspares e irreconciliáveis que todos os discursos que ouvimos até agora devem ser ignorados ou pelo menos desqualificados como "wishful thinking", essa maravilhosa expressão inglesa que serve para dizer com elegância que anda tudo doido.
A atenção dos dois jornalistas incidiu no aparentemente interminável ciclo de violência, pobreza e desespero que, informa a ESPN, "dura há mais de um século" e que, conclui, ninguém acredita possa ser solucionado -nem sequer minorado- nos três anos que faltam para a Copa ou nos outros dois até os Jogos Olímpicos. Os dois eventos têm o imenso poder de transformar a vida dos moradores das favelas do Rio, mas a dúvida permanece em saber se as mudanças vão ser para melhor ou para pior.
Os "media" estrangeiros estão pessimistas. O "Guardian" apresenta o caso da favela do Metrô. "Era um lugar maravilhoso para viver", desabafa um dos residentes, Eomar Freitas, cuja família, como outras 320, vive agora num cenário que podia ser de guerra -metade da favela demolida e a outra à espera, entre entulho e lixo, que seu destino seja traçado. A favela vai ser um estacionamento, garantem os moradores; vai dar lugar a novas praças, centros culturais, um cinema, corrige o secretário da Habitação.
Tenho que dizer que desconheço os pormenores do processo, mas é verdade que a descrição do diário britânico é um pouco assustadora. É um relato desolador pela desumanidade que revela, pela relativa injustiça, incompetência e até autoritarismo subjacente.
O jornalista americano Dave Zirin terá ficado tão impressionado que logo escreveu um comentário (eu vi na Al Jazeera) arrasando a ideia de "desenvolvimento" e a promessa de "oportunidade" que têm sido difundidas pelas entidades ligadas aos eventos -não eleitas e não transparentes, assinala. Animar a economia, educar as crianças, embelezar as cidades, mudar a realidade... Esse era também o programa das ditaduras latino-americanas, alerta.
Eu acredito que a Copa e a Olimpíada brasileiras são uma oportunidade de transformação e serão uma festa e um sucesso.
Espero sinceramente que sejam.


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