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Desertor cubano diz que sobreviveu como motoboy
Segundo advogado de Lara, ex-campeão confidenciou que, no México, temeu pressão, como teria ocorrido no Brasil
Pugilista, que tentara fugir no Rio, durante o Pan-07, e obteve o passaporte alemão na semana passada, quer
ser profissional por dez anos
EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL
De campeão mundial de boxe
amador, capitão da esquadra
cubana e ídolo nacional a traidor da nação. E de desempregado e motoboy a uma das maiores promessas no milionário
mundo do boxe internacional.
Essa é a rota percorrida por
Erislandy Lara, 25, desde julho
passado, quando tentou desertar durante o Pan do Rio-07.
Detalhes desse período, alguns dos quais Lara preferiu
manter longe da imprensa, mas
dividiu com funcionários da
Arena Box-Promotion, empresa que financiou sua deserção,
foram obtidos pela Folha.
Após ver frustrada tentativa
de deserção no Brasil ao lado
do campeão olímpico Guillermo Rigondeaux, Lara foi esquecido ao voltar a Cuba. Afastado da seleção nacional, não
recebeu do governo alternativa
para se manter ou mesmo alimentar mulher e seus filhos.
A salvação foi sua moto, herança do tempo em que tinha o
status de estrela esportiva fiel à
causa do ditador Fidel Castro.
Com ela, passou a viver de bicos. Alugava o veículo, e ainda
trabalhou como motoboy, executando pequenas entregas.
Logo que desembarcou em
Cuba, Lara percebeu que seu
destino seria o ostracismo. Como capitão da seleção, o ônus
da tentativa de fuga no Rio pesou mais em seus ombros do
que nos do colega Rigondeaux.
O então campeão mundial
preferiu o silêncio -afirma que
declarações atribuídas a ele em
entrevista publicada no diário
oficial ""Granma" depois de seu
retorno a Cuba eram falsas.
Nela, Lara dizia ter sido enganado por intermediários da
Arena que os teriam atraído
para fora da Vila do Pan do Rio
com bebidas e com dinheiro.
Lara agora, entre amigos, segredou a eles que gosta muito
do Brasil e que deseja um dia
visitar novamente o país. Mas
com uma condição: desde que
seja com passaporte alemão.
A documentação -provisória- foi emitida no México na
semana passada, onde Lara se
encontrava desde março.
O lutador disse que ficou
""muito surpreso" quando, ao
ser levado à Polícia Federal, no
Rio de Janeiro, encontrou autoridades cubanas, como um
embaixador, o presidente da
Federação Cubana de Boxe e
ainda o lendário tricampeão
olímpico Teófilo Stevenson.
Pela versão que Lara confidenciou na Arena, ele e Rigondeaux ouviram que ""deveriam
se preocupar mais com familiares que ficaram em Cuba" e que
""talvez pudessem voltar a boxear caso voltassem à ilha".
Ouviram ainda que poderiam pedir asilo no Brasil, mas
não teriam permissão para ir à
Alemanha, onde fica a Arena.
O impacto do episódio quase
pôs a perder a fuga de Lara para
o México, em março. Apesar de
ter a companhia de pessoas
contratadas pela Arena, após
uma semana no país já passou a
ligar para um funcionário da
empresa, Rafael Villena, que já
o conhecia. Lara pedia para que
fosse buscá-lo pessoalmente.
Alegava ter medo ""após o
que aconteceu no Brasil..." e
que por isso ""não sabia mais
em quem confiar", já que crê
ter sido entregue à polícia por
taxistas quando se escondia na
região dos Lagos, no RJ. Ele estranhou, ainda, o rápido contato com autoridades cubanas.
Agora, só o futuro interessa a
ele. Seu maior desejo é ser
campeão mundial profissional
e colher os frutos de uma carreira profissional que pode
chegar a durar até dez anos.
Os primeiros socos nessa direção serão desferidos no próximo dia 4, em Istambul, quando fará sua estréia profissional.
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