São Paulo, sábado, 14 de junho de 2008

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Desertor cubano diz que sobreviveu como motoboy

Segundo advogado de Lara, ex-campeão confidenciou que, no México, temeu pressão, como teria ocorrido no Brasil

Pugilista, que tentara fugir no Rio, durante o Pan-07, e obteve o passaporte alemão na semana passada, quer ser profissional por dez anos

EDUARDO OHATA
DA REPORTAGEM LOCAL

De campeão mundial de boxe amador, capitão da esquadra cubana e ídolo nacional a traidor da nação. E de desempregado e motoboy a uma das maiores promessas no milionário mundo do boxe internacional. Essa é a rota percorrida por Erislandy Lara, 25, desde julho passado, quando tentou desertar durante o Pan do Rio-07.
Detalhes desse período, alguns dos quais Lara preferiu manter longe da imprensa, mas dividiu com funcionários da Arena Box-Promotion, empresa que financiou sua deserção, foram obtidos pela Folha.
Após ver frustrada tentativa de deserção no Brasil ao lado do campeão olímpico Guillermo Rigondeaux, Lara foi esquecido ao voltar a Cuba. Afastado da seleção nacional, não recebeu do governo alternativa para se manter ou mesmo alimentar mulher e seus filhos.
A salvação foi sua moto, herança do tempo em que tinha o status de estrela esportiva fiel à causa do ditador Fidel Castro.
Com ela, passou a viver de bicos. Alugava o veículo, e ainda trabalhou como motoboy, executando pequenas entregas.
Logo que desembarcou em Cuba, Lara percebeu que seu destino seria o ostracismo. Como capitão da seleção, o ônus da tentativa de fuga no Rio pesou mais em seus ombros do que nos do colega Rigondeaux.
O então campeão mundial preferiu o silêncio -afirma que declarações atribuídas a ele em entrevista publicada no diário oficial ""Granma" depois de seu retorno a Cuba eram falsas.
Nela, Lara dizia ter sido enganado por intermediários da Arena que os teriam atraído para fora da Vila do Pan do Rio com bebidas e com dinheiro.
Lara agora, entre amigos, segredou a eles que gosta muito do Brasil e que deseja um dia visitar novamente o país. Mas com uma condição: desde que seja com passaporte alemão.
A documentação -provisória- foi emitida no México na semana passada, onde Lara se encontrava desde março.
O lutador disse que ficou ""muito surpreso" quando, ao ser levado à Polícia Federal, no Rio de Janeiro, encontrou autoridades cubanas, como um embaixador, o presidente da Federação Cubana de Boxe e ainda o lendário tricampeão olímpico Teófilo Stevenson.
Pela versão que Lara confidenciou na Arena, ele e Rigondeaux ouviram que ""deveriam se preocupar mais com familiares que ficaram em Cuba" e que ""talvez pudessem voltar a boxear caso voltassem à ilha".
Ouviram ainda que poderiam pedir asilo no Brasil, mas não teriam permissão para ir à Alemanha, onde fica a Arena.
O impacto do episódio quase pôs a perder a fuga de Lara para o México, em março. Apesar de ter a companhia de pessoas contratadas pela Arena, após uma semana no país já passou a ligar para um funcionário da empresa, Rafael Villena, que já o conhecia. Lara pedia para que fosse buscá-lo pessoalmente.
Alegava ter medo ""após o que aconteceu no Brasil..." e que por isso ""não sabia mais em quem confiar", já que crê ter sido entregue à polícia por taxistas quando se escondia na região dos Lagos, no RJ. Ele estranhou, ainda, o rápido contato com autoridades cubanas.
Agora, só o futuro interessa a ele. Seu maior desejo é ser campeão mundial profissional e colher os frutos de uma carreira profissional que pode chegar a durar até dez anos.
Os primeiros socos nessa direção serão desferidos no próximo dia 4, em Istambul, quando fará sua estréia profissional.


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