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MOTOR
Paralelepípedos
Líder da F-1, Kubica não é um predestinado, é produto de uma escola séria que, ufa, pode voltar a existir por aqui
FÁBIO SEIXAS
EDITOR-ADJUNTO DE ESPORTE
A FOTO causa estranhamento e
é preciso recorrer à legenda
para entender do que se trata.
Um terreno baldio, cheio de mato alto, asfalto em frangalhos, poças d'água, paralelepípedos aparentes.
O grande indicio está no personagem no centro da imagem. Mãos no
bolso, sinal de introspecção, claramente desconfortável com a posição
de modelo, Kubica posa para a "F1
Racing" no kartódromo de Cracóvia.
Foi ali que o líder do Mundial de
Pilotos deu as primeiras aceleradas,
dividiu as primeiras curvas, ultrapassou os primeiros adversários.
A foto ao lado mostra Kubica em
Melbourne, na abertura do campeonato. Tudo no lugar, cenário brilhoso, impecável, asséptico, bem F-1.
Qual é a conclusão primária, basal,
desse velho e velhaco truque de edição? "Pobrezinho, veja, saiu do nada
e chegou à F-1. É um predestinado."
Não. Falta algo para a análise.
Uma foto intermediária. Mostrando
Kubica, por exemplo, correndo de
kart na Itália como piloto oficial da
CGR. Ou como membro do programa de desenvolvimento da Renault
-é, acredite, deixaram-no escapar.
Kubica é dono de um talento nato
e é o clássico exemplo de sujeito que
chega à F-1 fazendo barulho logo de
cara -como todos os grandes campeões, registre-se. Mas esqueça mais
esse conto de fadas na linha "da-plebécula-ao-topo-do-mundo". Kubica
foi, também, aplicadíssimo aluno de
uma escola das mais estruturadas.
Na tal pista de Cracóvia, ficou por
pouco tempo. O automobilismo polonês inexiste, enfim. Precisou buscar o refinamento em outras plagas.
Nas pistas da Itália, meca do kartismo, foi talhado o piloto que é. Primeiro estrangeiro a vencer o Nacional de lá, rumou para a F-Renault,
de onde partiu para a F-3, de onde
seguiu para a World Series (eram
anos de falência da F-3000), de onde
foi alçado a piloto de testes da BMW.
Uma escada de degraus firmes. E
que explica, mais do que "predestinação" ou qualquer outro conceito
sobrenatural, sua atual situação.
Escada que é o problema por aqui.
Porque os torneios de kart podem
até serem ricos e agitados e tecnicamente bacanas, mas o que vem a seguir é uma Polônia, assunto já batido e debatido aqui algumas vezes.
Mas há uma boa nova. E, ufa, como é bom nutrir esperanças...
Após anos de abandono, após quase afundar tantas vezes, a F-3 sul-americana passou para as mãos de
uma empresa séria de marketing de
relacionamento, a 63MKT. O foco é
2009 (novo chassi, novas pistas, pilotos de fora), mas os resultados já
são visíveis em 2008. Mais: há plano
em andamento para lançar a "Fórmula U", intermediária entre o kart
e a F-3, preenchendo uma lacuna
que a CBA não se mexe para tapar.
É de longe a notícia do ano para o
automobilismo brasileiro. Porque,
que me desculpem os românticos,
aquela história da água é balela.
fseixas@folhasp.com.br
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