São Paulo, domingo, 14 de junho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Espanha discute cortar vantagens legais de quarteto

Na semana em que o Real Madrid gastou 159 milhões em só dois jogadores, concorrência cobra igualdade do governo

Presidente do Atlético quer que o seu arquirrival, assim como Barcelona, Athletic e Osasuna, vire empresa e seja controlado como todos

RODRIGO BUENO
DA REPORTAGEM LOCAL

O presidente do Atlético de Madri, Enrique Cerezo, expôs ao Congresso espanhol na última terça-feira um plano para que todos os clubes profissionais de futebol do país tenham igualdade de condições. A medida, segundo o dirigente, visa acabar com as vantagens conferidas a Real Madrid, Barcelona, Athletic Bilbao e Osasuna.
De acordo com ele, uma lei espanhola de 1992 que trata de Sociedades Anônimas Desportivas (SAD) originou uma liga com participantes em níveis diferentes. Os clubes da primeira e da segunda divisão do país, exceto os quatro citados, foram obrigados a virar S.A.
O Atlético, um dos clubes mais tradicionais do país, chegou à segunda divisão em 2000 e hoje não tem como competir no mercado com os rivais Real Madrid e Barcelona. Em busca especialmente de igualdade nas obrigações fiscais, Cerezo quer mudança na legislação.
A proposta do Atlético ganhou mais apelo na Espanha nos últimos dias por causa das contratações vultosas de Cristiano Ronaldo ( 94 milhões) e Kaká ( 65 milhões) pelo presidente do Real Madrid, o empresário Florentino Pérez.
""O sistema atual do futebol espanhol vulnera os critérios de competição perfeita", protestou Cerezo ao governo.
Os clubes que são SAD no país são autênticas empresas, sujeitas a pressão social e midiática elevada (pelos sócios) e submetidas a rígido controle financeiro. Isso não acontece com os quatro clubes que são associações ou entidades desportivas (ED), pois têm uma margem de manobra maior no mercado até para se endividar.
Pérez já admitiu que endividará o Real Madrid (a projeção de endividamento supera os 60 milhões), confiando na recuperação do dinheiro em até três anos. Ele cogita gastos de 300 milhões (R$ 810 mi) na compra de atletas neste ano.
O governo exigiu que os clubes se transformassem em empresas por causa das dívidas acumuladas. Os quatro que não viraram S.A. foram oficialmente poupados porque suas dívidas, quando da lei, não ultrapassavam o teto imposto pelo governo. Esse teto foi superado anos depois pelos beneficiados.
Em 2001, na primeira gestão de Pérez no Real Madrid, a dívida do clube era de 288 milhões. Foi quando ele negociou com o governo de Madri o antigo CT do time, a Ciudad Deportiva. Em meio a denúncias de superfaturamento, o Real saiu com lucro de mais de 400 milhões, em grande parte investido no time dos ""galácticos".
""O mais razoável é que o Real Madrid, o Barcelona, o Osasuna e o Athletic se convertam em SAD para que todos possam competir com as mesmas limitações ou, ao menos, que mantenham a condição atual, mas respeitem as mesmas regras legais dos outros", diz Cerezo.
O dirigente do Atlético propõe limite de endividamento para os clubes. Outra proposta é não permitir que um time gaste mais que 80% do que arrecada com salários -na Espanha, até equipes da elite têm sofrido com atrasos salariais.
Também há discussão sobre um limite para gastos com a contratação de jogadores e um número obrigatório de atletas do próprio país em campo, uma ideia que a Fifa, por meio da regra 6+5, já desenvolveu e espera apenas por uma aprovação.


Texto Anterior: Adversário faz o inverso e dá prioridade à América
Próximo Texto: Problema seu: Governo "lava as mãos" sobre as contas do Real
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.