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São Paulo, segunda-feira, 14 de julho de 2003

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VÔLEI

Hora de comemorar

CIDA SANTOS
COLUNISTA DA FOLHA

Foi um sofrimento e certamente a decisão mais disputada dos últimos tempos no vôlei. A vitória do Brasil sobre Sérvia e Montenegro por 3 sets a 2, com um impressionante 31 a 29 no quinto set, entra para a galeria dos jogos impossíveis de serem esquecidos. Sorte de quem viu.
O jogo pode ser dividido em três tempos. No primeiro set, um Brasil impecável. No segundo e no terceiro, os rivais acertaram a mão no saque e complicaram a vida dos brasileiros. No quarto, a coragem do técnico Bernardinho e, a partir daí, o drama na disputa de ponto por ponto no placar.
Bernardinho mudou meio time titular: tirou Giovane, André Hel-ler e André Nascimento. Colocou Giba, Henrique e Anderson. Confesso que na hora achei que ele tinha exagerado nas substituições, principalmente porque o time também começou o quarto set errando muito e perdendo por 4 a 0.
Mas a turma acabou se acertando e mostrando nervos de aço, já que, a partir do 15º ponto do quarto set e até o 31º do quinto set, os times estiveram empatados a maior parte do tempo. A vitória, com um ataque de Giba, mostrou que a seleção brasileira não se limita aos titulares, mas é formada por 12 jogadores.
Foi a vitória da coragem do técnico, que demonstrou confiança também em seus reservas. Poucos teriam a ousadia de mudar meio time no quarto set. Desde 2001, quando assumiu a seleção, Bernardinho colocou o Brasil na rota do ouro. Em dez competições, chegou a todas finais e conquistou oito títulos.
Quem acompanhou os jogos também deve ter percebido algumas mudanças no jeito de atuar da seleção. O time está fazendo mais um bloqueio de espera. Ou seja, não se arrisca tanto nesse fundamento. Prefere fazer antes a leitura do passe adversário e só aí decidir qual bola vai marcar.
Com a estratégia, a equipe está chegando mais inteira nos bloqueios de ponta e amortece as bolas rápidas de meio-de-rede. Resultado: o time ganha eficiência na defesa. Nos jogos da fase final, deu para perceber: está cada vez mais difícil a bola cair na quadra brasileira sem tocar em alguém.
Com isso também houve uma mudança na distribuição de pontos anotados pelo Brasil nos jogos. A seleção não está tão dependente do ataque para fechar as partidas. O time está fazendo mais pontos em bloqueios e com os erros dos adversários. Como disse Bernardinho, "aprendemos a deixar o outro time jogar".
Com maior eficiência no sistema defensivo, o time fica mais equilibrado. No ataque, a seleção sempre foi poderosa. Não sacar forte contra o Brasil é suicídio. Repare: para cada jogada, tem quatro atacantes saltando. E, às vezes, até cinco, já que o canhoto Ricardinho, muitas vezes, em vez de levantar, também ataca.
Para essa orquestra funcionar, o time tem que jogar com o passe na mão. Caso contrário, a situação se complica como ontem. Um dos pontos frágeis do Brasil é a falta de ponteiros mais altos e eficientes na bola alta e mais lenta na ponta. Mas esse é um problema para ser pensado depois. Agora, a hora é de comemorar.

Desce 1
Quem decepcionou foram os gigantes russos. O time provocou a maior surpresa da Liga ao perder da Bulgária e não chegar às semifinais. A equipe, que havia impressionado na primeira fase com um saque potente e um bloqueio poderoso, se desequilibrou depois da derrota para o Brasil. E quem diria, a Rússia, campeã da Liga em 2002, vice-campeã mundial e olímpica, acabou em sétimo lugar.

Desce 2
Quem não engoliu muito o terceiro lugar foram os italianos. A expectativa era que, no primeiro torneio sob o comando do técnico Gian Paolo Montali, a seleção ao menos fosse à final. O último grande título conquistado pela Itália foi o da Liga Mundial de 2000. A nova meta é o Campeonato Europeu, que vale vaga para a Copa do Mundo.

E-mail cidasan@uol.com.br


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