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VÔLEI
Hora de comemorar
CIDA SANTOS
COLUNISTA DA FOLHA
Foi um sofrimento e certamente a decisão mais disputada dos últimos tempos no vôlei.
A vitória do Brasil sobre Sérvia e
Montenegro por 3 sets a 2, com
um impressionante 31 a 29 no
quinto set, entra para a galeria
dos jogos impossíveis de serem esquecidos. Sorte de quem viu.
O jogo pode ser dividido em três
tempos. No primeiro set, um Brasil impecável. No segundo e no
terceiro, os rivais acertaram a
mão no saque e complicaram a
vida dos brasileiros. No quarto, a
coragem do técnico Bernardinho
e, a partir daí, o drama na disputa de ponto por ponto no placar.
Bernardinho mudou meio time
titular: tirou Giovane, André Hel-ler e André Nascimento. Colocou
Giba, Henrique e Anderson. Confesso que na hora achei que ele tinha exagerado nas substituições,
principalmente porque o time
também começou o quarto set errando muito e perdendo por 4 a 0.
Mas a turma acabou se acertando e mostrando nervos de aço,
já que, a partir do 15º ponto do
quarto set e até o 31º do quinto
set, os times estiveram empatados
a maior parte do tempo. A vitória, com um ataque de Giba, mostrou que a seleção brasileira não
se limita aos titulares, mas é formada por 12 jogadores.
Foi a vitória da coragem do técnico, que demonstrou confiança
também em seus reservas. Poucos
teriam a ousadia de mudar meio
time no quarto set. Desde 2001,
quando assumiu a seleção, Bernardinho colocou o Brasil na rota
do ouro. Em dez competições,
chegou a todas finais e conquistou oito títulos.
Quem acompanhou os jogos
também deve ter percebido algumas mudanças no jeito de atuar
da seleção. O time está fazendo
mais um bloqueio de espera. Ou
seja, não se arrisca tanto nesse
fundamento. Prefere fazer antes a
leitura do passe adversário e só aí
decidir qual bola vai marcar.
Com a estratégia, a equipe está
chegando mais inteira nos bloqueios de ponta e amortece as bolas rápidas de meio-de-rede. Resultado: o time ganha eficiência
na defesa. Nos jogos da fase final,
deu para perceber: está cada vez
mais difícil a bola cair na quadra
brasileira sem tocar em alguém.
Com isso também houve uma
mudança na distribuição de pontos anotados pelo Brasil nos jogos.
A seleção não está tão dependente
do ataque para fechar as partidas. O time está fazendo mais
pontos em bloqueios e com os erros dos adversários. Como disse
Bernardinho, "aprendemos a deixar o outro time jogar".
Com maior eficiência no sistema defensivo, o time fica mais
equilibrado. No ataque, a seleção
sempre foi poderosa. Não sacar
forte contra o Brasil é suicídio.
Repare: para cada jogada, tem
quatro atacantes saltando. E, às
vezes, até cinco, já que o canhoto
Ricardinho, muitas vezes, em vez
de levantar, também ataca.
Para essa orquestra funcionar,
o time tem que jogar com o passe
na mão. Caso contrário, a situação se complica como ontem. Um
dos pontos frágeis do Brasil é a
falta de ponteiros mais altos e eficientes na bola alta e mais lenta
na ponta. Mas esse é um problema para ser pensado depois. Agora, a hora é de comemorar.
Desce 1
Quem decepcionou foram os gigantes russos. O time provocou a
maior surpresa da Liga ao perder da Bulgária e não chegar às semifinais. A equipe, que havia impressionado na primeira fase com um
saque potente e um bloqueio poderoso, se desequilibrou depois da
derrota para o Brasil. E quem diria, a Rússia, campeã da Liga em
2002, vice-campeã mundial e olímpica, acabou em sétimo lugar.
Desce 2
Quem não engoliu muito o terceiro lugar foram os italianos. A expectativa era que, no primeiro torneio sob o comando do técnico Gian
Paolo Montali, a seleção ao menos fosse à final. O último grande título conquistado pela Itália foi o da Liga Mundial de 2000. A nova meta
é o Campeonato Europeu, que vale vaga para a Copa do Mundo.
E-mail cidasan@uol.com.br
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