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Praia atrai quem não está nem aí para a festa
Cariocas e visitantes trocam primeiros capítulos do Pan por prazeres e afazeres
Copacabana vira abrigo até de profissional que tinha credencial do Pan, mas optou por viver "outra energia" na tarde ontem
MÁRVIO DOS ANJOS
ENVIADO ESPECIAL AO RIO
A garçonete Rose de Aquino,
que trabalha num quiosque do
Posto 5, na praia de Copacabana, tinha uma TV ali do lado,
mas ela estava desligada. A cerimônia de abertura do Pan estava acontecendo, mas, diferentemente dos dias de Copa do
Mundo, pouca gente se apressava em "viver a energia".
"É hora de limpeza, a gente
só vai ligar depois. E eu nem
posso ficar vendo senão eu perco meu emprego", afirmou.
Trabalho realmente havia. O
quiosque estava cheio e, numa
mesa, chamavam a atenção algumas das credenciais do Pan.
"Sou árbitro de ginástica artística, de El Salvador", afirmou
Cristian Hernández, que, apesar da função, estava vivendo
outra energia. "Essa caipirinha
está muito boa", disse.
Na mesma mesa, o porto-riquenho John Adams, 32, bebia
sem comedimento. "Sou apenas torcedor da ginástica porto-riquenha, mas hoje [ontem]
vou preferir cerveja à festa."
Pela manhã, no calçadão, havia quem tivesse mais motivos
para ignorar o Pan. "O futevôlei
não teve apoio, podia ter entrado como esporte de exibição",
afirmou Luiz Cláudio Viana,
58, presidente da Associação
Carioca de Futevôlei -uma das
quatro entidades de um esporte ainda pouco organizado e
não-filiado ao COB.
Para a turma que joga no Posto 4, próximo de onde o esporte
surgiu, nada melhor do que ter
o próprio jogo a ver o dos outros. "Saí de casa agora, e o Brasil vencia no handebol por mais
de 20 gols de diferença. Não dá,
é muito", disse Fernando Maciel, 70, dentista aposentado e
também participante da rede
da praia. E ver a abertura na
TV? "Não, não vou."
Durante a cerimônia, uma
aula de vôlei de praia para
crianças não foi interrompida.
"Eles que pediram que não parasse a aula durante o Pan", disse o professor Ricardo Albano.
Não que na praia seja difícil
perceber o Pan. O solzinho
Cauê está nas camisetas vendidas pelos camelôs, nos luminosos de hotéis e nos cartazes.
Mesmo assim, a aposentada
Odete Oliveira não mudou sua
rotina de fim de tarde com o cachorro Rick. "Eu moro aqui, fica difícil de a gente saber de alguma coisa", disse.
Uma menina com um bonequinho de Cauê e sua mãe correm no calçadão. É para ver a
festa? "Não, estou apenas com
pressa", falou a mãe, Tereza
Donatti, 40, "Estou indo pegar
o carro, até queria ver a festa
em casa, mas não sei se vai dar.
Acaba que horas?"
Ela leva a pequena Nicole, 7,
que se diz fã de hipismo. "Gosto
muito de andar a cavalo", disse
ela, exibindo orgulhosa a mascote laranja. Pelo visto, ela ainda vai viver essa energia.
Na rua Figueiredo Magalhães, energia não faltava. Uma
televisão exibia a cerimônia
num bar, enquanto um animado e ruidoso jogo de porrinha,
valendo cerveja, ganhava a calçada e chamava mais a atenção.
No grupo de seis, um dizia
que estava invicto, outro acusava alguém de só perder e um
bravateava: jogo tanto que vou
desfilar na delegação do Pan.
"Aqui a gente joga tudo. E estamos ligados no Pan, tanto que
vamos fazer um bolão com o
torneio de futebol. É só dar R$
10 que você entra", falou Filipe
Sá Pereira, estudante, exibindo
a tabela dos jogos. Obrigado.
Uma loja de eletrodomésticos tinha todos os seus modelos
ligados na colorida festa.
O vendedor Fernando Almeida assistia à cerimônia. "Eu
até veria tudo se desse. Tive
dois fregueses aqui hoje que
compraram TVs querendo instalar hoje para ver isso", afirmou ele, agradecido.
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