São Paulo, sábado, 14 de julho de 2007

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Praia atrai quem não está nem aí para a festa

Cariocas e visitantes trocam primeiros capítulos do Pan por prazeres e afazeres

Copacabana vira abrigo até de profissional que tinha credencial do Pan, mas optou por viver "outra energia" na tarde ontem


MÁRVIO DOS ANJOS
ENVIADO ESPECIAL AO RIO

A garçonete Rose de Aquino, que trabalha num quiosque do Posto 5, na praia de Copacabana, tinha uma TV ali do lado, mas ela estava desligada. A cerimônia de abertura do Pan estava acontecendo, mas, diferentemente dos dias de Copa do Mundo, pouca gente se apressava em "viver a energia".
"É hora de limpeza, a gente só vai ligar depois. E eu nem posso ficar vendo senão eu perco meu emprego", afirmou.
Trabalho realmente havia. O quiosque estava cheio e, numa mesa, chamavam a atenção algumas das credenciais do Pan.
"Sou árbitro de ginástica artística, de El Salvador", afirmou Cristian Hernández, que, apesar da função, estava vivendo outra energia. "Essa caipirinha está muito boa", disse.
Na mesma mesa, o porto-riquenho John Adams, 32, bebia sem comedimento. "Sou apenas torcedor da ginástica porto-riquenha, mas hoje [ontem] vou preferir cerveja à festa."
Pela manhã, no calçadão, havia quem tivesse mais motivos para ignorar o Pan. "O futevôlei não teve apoio, podia ter entrado como esporte de exibição", afirmou Luiz Cláudio Viana, 58, presidente da Associação Carioca de Futevôlei -uma das quatro entidades de um esporte ainda pouco organizado e não-filiado ao COB.
Para a turma que joga no Posto 4, próximo de onde o esporte surgiu, nada melhor do que ter o próprio jogo a ver o dos outros. "Saí de casa agora, e o Brasil vencia no handebol por mais de 20 gols de diferença. Não dá, é muito", disse Fernando Maciel, 70, dentista aposentado e também participante da rede da praia. E ver a abertura na TV? "Não, não vou."
Durante a cerimônia, uma aula de vôlei de praia para crianças não foi interrompida. "Eles que pediram que não parasse a aula durante o Pan", disse o professor Ricardo Albano.
Não que na praia seja difícil perceber o Pan. O solzinho Cauê está nas camisetas vendidas pelos camelôs, nos luminosos de hotéis e nos cartazes.
Mesmo assim, a aposentada Odete Oliveira não mudou sua rotina de fim de tarde com o cachorro Rick. "Eu moro aqui, fica difícil de a gente saber de alguma coisa", disse.
Uma menina com um bonequinho de Cauê e sua mãe correm no calçadão. É para ver a festa? "Não, estou apenas com pressa", falou a mãe, Tereza Donatti, 40, "Estou indo pegar o carro, até queria ver a festa em casa, mas não sei se vai dar. Acaba que horas?"
Ela leva a pequena Nicole, 7, que se diz fã de hipismo. "Gosto muito de andar a cavalo", disse ela, exibindo orgulhosa a mascote laranja. Pelo visto, ela ainda vai viver essa energia.
Na rua Figueiredo Magalhães, energia não faltava. Uma televisão exibia a cerimônia num bar, enquanto um animado e ruidoso jogo de porrinha, valendo cerveja, ganhava a calçada e chamava mais a atenção.
No grupo de seis, um dizia que estava invicto, outro acusava alguém de só perder e um bravateava: jogo tanto que vou desfilar na delegação do Pan.
"Aqui a gente joga tudo. E estamos ligados no Pan, tanto que vamos fazer um bolão com o torneio de futebol. É só dar R$ 10 que você entra", falou Filipe Sá Pereira, estudante, exibindo a tabela dos jogos. Obrigado.
Uma loja de eletrodomésticos tinha todos os seus modelos ligados na colorida festa.
O vendedor Fernando Almeida assistia à cerimônia. "Eu até veria tudo se desse. Tive dois fregueses aqui hoje que compraram TVs querendo instalar hoje para ver isso", afirmou ele, agradecido.


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