São Paulo, sábado, 14 de julho de 2007

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Com tudo para dar errado, deu certo

Rosa Magalhães prova no Maracanã que não precisa ser megalômano para se ocupar grande espaço

Fotos Eduardo Knapp/Folha Imagem
Imagens da festa de cerimônia de abertura do Pan-2007, que viu protestos fora do Maracanã


LUIZ FERNANDO VIANNA
DA SUCURSAL DO RIO

Vamos ser sinceros: com jacaré de 20 metros e esse lema com jeitão de slogan publicitário ("Viva essa energia"), tinha tudo para dar errado. Mas não é que deu certo?! Rosa Magalhães, que anda fazendo uns Carnavais muito sem graça na Imperatriz Leopoldinense, provou no Maracanã algo que tem sido difícil de ver até no Sambódromo, que é bem menor: não precisa ser megalômano para se ocupar um grande espaço.
A senha do "menos vale mais" foi dada logo no início, com Elza Soares interpretando à capela, em andamento lento, o Hino Nacional. É impossível afirmar que foi "a mais linda interpretação do hino", como palpitou Galvão Bueno, mas certamente não deu saudade da Fafá de Belém.
Bailarinos de azul e branco, com roupas leves, para representar "a energia das águas" criaram outro momento em que beleza e leveza rimaram, assim como a referência às crianças no setor "energia do homem", com Adriana Calcanhotto cantando sentada numa cadeira gigante. Mesmo o bloco "Energia do Sol", no qual despontaram os clichês quase inevitáveis da "fauna e flora brasileira" (pássaros, borboletas e o tal jacaré gigante), não chegou a agredir os olhos.
Mas tudo isso só conseguiu mesmo ser leve e agradável graças à melhor música brasileira. As "fantasias sinfônicas" criadas pelo pianista André Mehmari beberam em fontes tão belas quanto reconhecíveis, como "Trenzinho do Caipira", de Villa-Lobos, "Chovendo na Roseira" e "Imagina", de Tom Jobim, e "A Ostra e o Vento", de Chico Buarque. Se resolvessem "incendiar" o Maracanã com axé music, ia ser um inferno -Daniela Mercury cantando "Cidade Maravilhosa" e "Aquarela do Brasil" no final já não ajudou, mas era o final, vá lá.
A música só não teve sua força devidamente ressaltada porque quase tudo (ou tudo?) que se tocou e cantou foi dublado. Mas não dá para ser ranzinza demais: como fazer tudo na hora, correndo o sério risco de mandar qualidade e organização para a cucuia? Assim, tivemos que ver 1.750 ritmistas de escolas de samba fingindo destreza, e a Orquestra Sinfônica Brasileira, concentração.
A pantomima empolgada de Ana Costa, a única carioca do elenco musical, e Arnaldo Antunes não salvaram a música tema da sua fragilidade, mas de tanto tocar o refrão "viva essa energia" é até capaz de pegar.
Até as vaias deram certo. No Maracanã, como já ensinava Nelson Rodrigues, vaia-se até minuto de silêncio. Imagine políticos! Os apupos provaram que ir de branco a pedido dos organizadores, tudo bem, mas se comportar como "ordem unida" no estádio mais popular do país, aí não. Melhor assim.


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