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MOACYR SCLIAR
O esporte e o Brasil
Os humildes não têm muitas oportunidades nas áreas econômica e social, mas o esporte cumpre esse papel
COLUNISTA DA FOLHA
O SLOGAN do Pan-Americano, "Viva
Essa Energia!", recorda-nos os valores olímpicos: "Alegria em Participar", "Esperança", "Sonhos
e Inspiração" e "Amizade e
Fair Play". Valores cujo
apelo humano é mais do
que evidente e que permitem assim a integração da
comunidade.
O que, num continente
como a América e num país
como o Brasil, é absolutamente fundamental. Temos longa história de discriminação, de exclusão, de
marginalização, como lembrou-nos a ácida polêmica
em torno das cotas na universidade pública.
Não são muitas as oportunidades que, na área econômica e social, são oferecidas aos mais humildes.
Mas o esporte cumpre, sim,
esse papel. No momento
em que a população mais
pobre começa a ter acesso a
um mínimo de comida e de
cuidados -e isso, apesar de
tudo, agora acontece no
Brasil- o corpo pode falar.
E, quando o corpo fala,
no esporte, os resultados
não raro são surpreendentes. O que, aliás, resulta
também da própria democratização do esporte. Modalidades esportivas como
o tênis, por exemplo, no
passado estavam reservadas à aristocracia, inclusive
porque requeriam equipamento caro, canchas especiais, vestimentas adequadas. Hoje não. Hoje uma tenista como a afro-americana Serena Williams pode
ganhar o tradicional torneio de Wimbledon.
As barreiras que cercavam o esporte caíram; o pódio e as medalhas estão ao
alcance mesmo dos mais
pobres. De repente, um garoto pobre e humilde revela-se um fenomenal esportista, mesmo que tenha
treinado apenas num terreno baldio. Pode competir
de igual para igual com
concorrentes vindos de
classes sociais mais afluentes. Uma excelente notícia.
Nem todos serão campeões, claro. Nem todos baterão recordes, nem todos
passarão às páginas da história. Mas todos podem, de
uma maneira ou de outra,
aspirar ao reconhecimento, sem depender de riqueza pessoal ou de posição social. É um novo direito que
está sendo conquistado: o
direito à esperança e aos
sonhos; o direito à alegria
em participar; o direito à
amizade e ao fair play.
Ou seja, o direito aos valores olímpicos. O que é
uma grande notícia. Só ela
já justificaria o Pan.
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