São Paulo, sábado, 14 de julho de 2007

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

MOACYR SCLIAR

O esporte e o Brasil

Os humildes não têm muitas oportunidades nas áreas econômica e social, mas o esporte cumpre esse papel

COLUNISTA DA FOLHA

O SLOGAN do Pan-Americano, "Viva Essa Energia!", recorda-nos os valores olímpicos: "Alegria em Participar", "Esperança", "Sonhos e Inspiração" e "Amizade e Fair Play". Valores cujo apelo humano é mais do que evidente e que permitem assim a integração da comunidade.
O que, num continente como a América e num país como o Brasil, é absolutamente fundamental. Temos longa história de discriminação, de exclusão, de marginalização, como lembrou-nos a ácida polêmica em torno das cotas na universidade pública.
Não são muitas as oportunidades que, na área econômica e social, são oferecidas aos mais humildes. Mas o esporte cumpre, sim, esse papel. No momento em que a população mais pobre começa a ter acesso a um mínimo de comida e de cuidados -e isso, apesar de tudo, agora acontece no Brasil- o corpo pode falar.
E, quando o corpo fala, no esporte, os resultados não raro são surpreendentes. O que, aliás, resulta também da própria democratização do esporte. Modalidades esportivas como o tênis, por exemplo, no passado estavam reservadas à aristocracia, inclusive porque requeriam equipamento caro, canchas especiais, vestimentas adequadas. Hoje não. Hoje uma tenista como a afro-americana Serena Williams pode ganhar o tradicional torneio de Wimbledon.
As barreiras que cercavam o esporte caíram; o pódio e as medalhas estão ao alcance mesmo dos mais pobres. De repente, um garoto pobre e humilde revela-se um fenomenal esportista, mesmo que tenha treinado apenas num terreno baldio. Pode competir de igual para igual com concorrentes vindos de classes sociais mais afluentes. Uma excelente notícia.
Nem todos serão campeões, claro. Nem todos baterão recordes, nem todos passarão às páginas da história. Mas todos podem, de uma maneira ou de outra, aspirar ao reconhecimento, sem depender de riqueza pessoal ou de posição social. É um novo direito que está sendo conquistado: o direito à esperança e aos sonhos; o direito à alegria em participar; o direito à amizade e ao fair play.
Ou seja, o direito aos valores olímpicos. O que é uma grande notícia. Só ela já justificaria o Pan.


Texto Anterior: 77% de vitórias
Próximo Texto: Grupos anti-Pan levam bandeiras ao Maracanã
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.