São Paulo, terça-feira, 14 de julho de 2009

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Luxemburgo tem contas bloqueadas

Treinador está há um ano e cinco meses sem movimentar dinheiro em banco para evitar penhora por decisão judicial

Apesar dos altos salários nos últimos anos, técnico ainda tem oito imóveis em São Paulo arrolados pela Justiça por causa de ações fiscais

RODRIGO MATTOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Técnico badalado, recordista de títulos nacionais, ex-treinador da seleção brasileira e dos galácticos do Real Madrid, Vanderlei Luxemburgo, 57, tem todas as contas bancárias no Brasil em seu nome bloqueadas.
Ainda sofre o arrolamento de oito imóveis pela Justiça.
Tudo isso, efeito colateral de seu trabalho no futebol: são decisões judiciais por dívidas acumuladas durante a carreira.
Demitido há 18 dias do Palmeiras, o técnico começou a dirigir grandes clubes brasileiros em 1991, quando chegou ao Flamengo. Desde então, sempre recebeu altos salários -nos últimos quatro anos e meio, pelo menos R$ 500 mil por mês.
Mas Luxemburgo também tem um histórico de débitos.
Já foi processado cinco vezes pela Receita Federal e sofreu ações de particulares cobrando indenizações e supostos empréstimos não pagos.
Hoje, o caso que mais o complica é movido pelo ex-jogador Edmundo. Em 1999, Luxemburgo deu dois cheques sem fundo para o ex-atleta, no valor total de R$ 400 mil. Naquela época, o treinador dirigia a seleção, e o então atacante era candidato a convocações.
Em 2006, o ex-palmeirense entrou com processo para receber pelos cheques. Ganhou, mas o treinador não pagou. Edmundo obteve, então, uma execução judicial contra ele.
A Folha obteve documentos da ação que mostram que, em fevereiro de 2008, a Justiça do Rio de Janeiro decretou o bloqueio de todas as contas bancárias de Luxemburgo no Brasil.
Foram bloqueadas quatro contas. Três deles estavam zeradas. Uma tinha cerca de R$ 18 mil. O problema é que a dívida do treinador com o ex-jogador já chega a R$ 1,3 milhão por conta dos juros e da correção monetária sobre o valor.
Desde então, Luxemburgo não movimenta contas pessoais. A pedido do treinador, o Palmeiras pagava em cheques. Ou seja, recebia mais de R$ 500 mil divididos em dois cheques.
"Entrei em fevereiro ou março e já funcionava assim. Era um sistema que vinha sendo feito. Ele pedia sempre em cheque", contou o diretor financeiro do Palmeiras, Fábio Raiola.
Diante do novo obstáculo, os advogados de Edmundo tentaram obter penhora de bens. Mas todos os imóveis do treinador procurados já estavam arrolados por ações fiscais.
Levantamento da Folha em São Paulo mostra que, desde 2002, seus oito imóveis no Estado só podem ser negociados com comunicação ao fisco. Os imóveis cariocas estão na mesma situação, segundo o processo movido por Edmundo.
O arrolamento dos imóveis é fruto de ações e execuções fiscais da Receita em 1997, 2000 e 2001. Nesses dois últimos anos, o treinador foi investigado pela CPI do Futebol, no Senado.
O relatório final da comissão concluiu que Luxemburgo tinha recebido R$ 18,8 milhões de 1995 até 1999, mas só declarara R$ 8,5 milhões ao fisco. Na época, passou por Corinthians, Flamengo e seleção.
A CPI do Futebol recomendou ação da Receita sobre o treinador. O fisco apurou que ele devia entre R$ 5 milhões e R$ 6 milhões, segundo advogados de Luxemburgo. Representantes do técnico dizem que houve redução deste valor para R$ 1 milhão após discussões com a Receita -e há processos administrativos em curso para determinar o valor exato.
Há outra parte que foi renegociada com o fisco, que está sendo paga de forma parcelada pelo treinador, segundo informações constantes nas ações.
Devedor nesses processos, Luxemburgo é credor de ao menos R$ 1 milhão do Palmeiras, por obrigações contratuais de sua última equipe.
Daria para quitar boa parte de suas dívidas judiciais. Se ele não decidir receber em cheque.


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